
O avanço das mudanças climáticas está transformando o ambiente de trabalho em um campo de risco crescente, alertaram especialistas durante o painel “Proteção Social, Estresse Térmico e Saúde e Segurança do Trabalho”, realizado na quarta, 8, em Brasília, como parte integrante do Seminário Pré-COP 30: “Promovendo Trabalho Decente e Transição Justa”.
Promovido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o encontro reuniu representantes do governo, do setor produtivo e de entidades sindicais para discutir ações urgentes de adaptação dos ambientes laborais e fortalecimento das políticas de proteção social diante do aumento das temperaturas extremas.
“O tema vai além da técnica — estamos falando de pessoas”, afirmou Alexandre Furtado Scarpelli Ferreira, diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho do MTE.
Segundo Daniel Bittencourt, pesquisador da Fundacentro, cerca de 32,5 milhões de brasileiros trabalham a céu aberto, principalmente nos setores de agricultura, construção e pesca. Em regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, os limites de calor são ultrapassados em mais de 70% da jornada de trabalho.
Bittencourt defendeu a adoção imediata de medidas como reorganização de horários, pausas, uso do índice IBUTG e treinamento para identificar sinais de exaustão térmica. “Mesmo que as emissões diminuam, a inércia climática garantirá altas temperaturas por muitos anos”, alertou.
Para Joaquim Pintado Nunes, da OIT, medidas simples podem salvar vidas e aumentar a produtividade. “A prevenção é mais eficaz e barata que a compensação”, afirmou.
O representante da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Frederico Toledo Melo, criticou a ideia de que adicionais de insalubridade resolvem o problema: “Dinheiro não substitui prevenção nem tecnologia.”
Encerrando o painel, o médico René Mendes, da USP, chamou atenção para o elo entre calor e exploração. “O estresse térmico é agravado por metas abusivas e assédio moral. É uma combinação perversa entre o clima e modelos de gestão desumanos”, afirmou.
Calor e trabalho no Brasil
-32,5 milhões de trabalhadores atuam a céu aberto;
-Em regiões como Norte e Nordeste, o calor ultrapassa os limites de tolerância em 70% da jornada.
-Setores mais expostos: agricultura, construção civil, pesca e transporte.
*Soluções urgentes: reorganização de turnos, pausas, sombra, hidratação e climatização dos ambientes.