Um jovem de 23 anos formado em Educação Física, que trabalhava na Polícia Civil, gostava de estudar, fazer a própria comida e cuidar de cachorros. Não curtia baladas e lugares movimentados, passando horas jogando seu videogame. Era uma pessoa da paz que não incomodava ou fazia mal a ninguém.
Esse o perfil de Marcello Carvalho de Araújo, morto no início da manhã de hoje dentro do próprio apartamento onde morava com a mãe na confluência dos bairros do Jurunas e Batista Campos, após a invasão de agentes armados da Polícia Federal pouco antes das 6h.
“O mandado de busca e apreensão era contra o namorado da mãe do Marcello, que tinha o mesmo nome dele. Foi uma ação totalmente equivocada que, ao que tudo indica, foi executada por pessoas despreparadas, já que o alvo da operação era um homem muito mais velho que o Marcello e não ele, que era um jovem totalmente do bem, que não tinha qualquer vício ”, afirma a promotora Ana Maria Magalhães, tia-avó da vítima e que preside a Associação do Ministério Público do Estado do Pará (AMPEP).
Marcello morava com a mãe, Ana Suellen Carvalho, no Edifício La Ville, localizado na Rua dos Mundurucus, entre as ruas Carlos de Carvalho e Honório José dos Santos. “Eles arrombaram o apartamento para prender um outro Marcelo. Um homônimo…Nem o Marcello nem a mãe dele estavam sobre qualquer investigação da Polícia Federal”, assegura Mário Rivera, filho de Ana Maria e primo da vítima.
Ao arrombar a porta do apartamento, Mário conta que os agentes da PF se depararam com Ana Suellen ainda com roupas de dormir. “Ela foi imediatamente rendida e prontamente se identificou como Policial Civil. Nesse momento ela conta que foi agredida por um dos agentes, que a chamou de vagabunda e desferiu um tapa nela. Assustado, meu primo teria saído por um corredor estreito que liga a sala até os quartos para ver o que estava ocorrendo e foi recebido com 2 tiros. Ele ainda tentou recuar mas sangrou até a morte sem sequer saber o que estava acontecendo…”, contou Rivera. “A mãe de Marcello está devastada, destruída pela perda brutal do filho”, revela.
Reação e Busca por Justiça
Ana Maria Magalhães disse que lutará até o fim por Justiça, até que os responsáveis pela morte de seu sobrinho sejam julgados e condenados pela ação desastrosa que resultou na morte da vítima. “As pessoas não podem invadir a casa de pessoas do bem e fazer uma coisa absurda dessas. Ninguém tem o poder sobre a vida e morte sobre ninguém! Vou contratar advogados para atuar como assistentes de acusação no caso. Se eu como promotora luto pela Justiça e o Direito de outras pessoas, imagina por um parente meu morto dessa forma. Marcello não merecia isso!”, lamenta.
Operação Eclesiastes
A morte de Marcello ocorreu no contexto da operação Eclesiastes, teve como foco o cumprimento de 19 mandados de prisão preventiva e 30 de busca e apreensão, além do sequestro judicial de bens e valores que podem somar até R$ 1,5 bilhão, conforme decisão da 4ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Pará.
As diligências foram realizadas em Belém, Ananindeua e outros municípios da Região Metropolitana, com o apoio de um grande efetivo policial.