O consumo de bebidas adulteradas continua sendo uma das principais causas de intoxicações graves no Brasil, e o perigo é ainda maior quando o produto contém metanol, substância altamente tóxica usada na indústria como solvente e combustível. Mesmo em pequenas doses, o metanol pode provocar cegueira irreversível, falência múltipla de órgãos e até a morte, alerta o médico Dr. Adriano Faustino, especialista em nutrologia e metabolismo.
“O grande problema do metanol é que, nas primeiras horas, ele engana o corpo. Os sintomas parecem de uma embriaguez comum, e a pessoa demora a procurar ajuda. Quando percebe que não é apenas uma ressaca, já está em fase de intoxicação grave”, explica o especialista.
Segundo o médico, o tempo de atendimento é decisivo para evitar sequelas e salvar vidas. “Buscar atendimento médico imediato é o que define a diferença entre uma recuperação completa e uma tragédia. Em casos suspeitos, não se deve esperar os sintomas piorarem”, adverte o médico.
Linha do tempo da intoxicação por metanol
• Primeiras 12 horas – sintomas enganosos
Os primeiros sinais podem ser confundidos com uma ressaca comum: náuseas, dor abdominal, tontura e dor de cabeça.
Apesar de discretos, já indicam que o corpo começa a sofrer alterações metabólicas perigosas.
“Exames de sangue podem mostrar acidose metabólica e aumento do osmolar gap, sinais claros de intoxicação”, explica o Dr. Faustino.
• De 12 a 24 horas – visão sob ataque
O metanol é transformado no organismo em ácido fórmico, que bloqueia a produção de energia nas células, afetando a retina e o nervo óptico.
Os sintomas incluem visão embaçada, sensibilidade à luz e pontos brilhantes.
“O nervo óptico é extremamente vulnerável. Se o tratamento não for rápido, o dano pode ser irreversível”, alerta o médico.
• Até 48 horas – risco de falência múltipla e morte
Com o acúmulo de ácido fórmico, o corpo entra em colapso metabólico. O paciente pode apresentar convulsões, coma, arritmias cardíacas e insuficiência de órgãos vitais como coração, rins e pulmões.
“Depois de 48 horas sem tratamento adequado, as chances de reversão dos danos são mínimas. Cada hora conta”, reforça o especialista.
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Por que o Metanol é Perigoso?
No fígado, o metanol compete com o etanol pela mesma enzima metabólica (álcool desidrogenase).
Enquanto o álcool comum é transformado em substâncias que o corpo consegue eliminar, o metanol gera formaldeído e ácido fórmico, compostos extremamente tóxicos.
“O fígado, que normalmente nos protege, acaba virando uma biofábrica de veneno”, resume Dr. Faustino.
Além disso, o cheiro e o gosto do metanol são semelhantes ao do álcool comum, o que torna impossível identificar a adulteração apenas pelo paladar ou aparência.
Tratamento e Prevenção
O tratamento precisa começar imediatamente após a suspeita de ingestão. Entre as medidas médicas mais eficazes estão:
• Antídotos – Fomepizol ou etanol, que bloqueiam a metabolização do metanol.
• Hemodiálise – Remove rapidamente o metanol e seus metabólitos tóxicos.
Bicarbonato de sódio – Corrige a acidose metabólica causada pela intoxicação.
• Ácido fólico ou folínico – Acelera a eliminação do ácido fórmico.
Como se Prevenir
• Compre apenas de locais confiáveis. Dê preferência a bebidas lacradas e de marcas reconhecidas.
• Desconfie de preços muito abaixo do mercado. Essa é uma das principais indicações de adulteração.
• Verifique o selo fiscal. Produtos sem lacre ou sem selo da Receita podem ser falsificados.
• Evite bebidas caseiras sem origem comprovada.
• Guarde amostras. Se houver suspeita de adulteração, o material pode ajudar na investigação e no diagnóstico médico.
