
O que deveria ser uma sexta-feira de descontração e encontros nos bares ganhou um clima de apreensão em várias cidades brasileiras. O risco de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas levou autoridades de saúde, empresários do setor e consumidores a adotarem cautela diante do tradicional “sextou”.
O número de notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica subiu para 113 no Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde divulgado na tarde desta sexta, 3. As notificações incluem casos confirmados e suspeitos, além de mortes.
Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul notificaram seus primeiros casos em investigação. Em todo o país, são 11 casos confirmados e 102 em investigação.
“Estamos diante de um episódio de saúde pública que exige vigilância. O consumidor deve redobrar a atenção com a procedência das bebidas”, afirmou a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel.
Segundo o toxicologista Anthony Wong (USP), o risco de metanol em cerveja ou vinho é muito mais baixo do que em bebidas destiladas adulteradas.
“O processo de fermentação produz menos metanol, e as concentrações são mais baixas. Mas, em casos de adulteração, nada pode ser descartado. Por isso a orientação é clara: só consuma produtos de origem confiável, com nota fiscal.”
Bares e o “Sextou”
Em São Paulo, algumas casas noturnas suspenderam preventivamente a venda de destilados, como vodca e gin, que podem ter maior risco de adulteração.
“Preferimos perder vendas a arriscar a saúde do nosso público. Até segunda ordem, nosso cardápio de drinks foi reduzido a cerveja, vinho e chope artesanal”, explicou Lucas Andrade, gerente de um bar na Vila Madalena.
Preocupação dos Consumidores
Entre os frequentadores, a sensação é de incerteza. A publicitária Camila Moura, 29 anos, disse que optou por evitar destilados neste fim de semana.
“Gosto muito de tomar uma gin tônica, mas não quero arriscar. Melhor ficar só na cerveja, que parece mais segura. Nunca pensei que o ‘sextou’ viraria motivo de preocupação com envenenamento.”
Já o estudante Felipe Souza, 22 anos, relatou que comprou vinho em supermercado para reunir os amigos em casa. “A gente ficou assustado com as notícias. Decidimos beber só o que tem procedência garantida. Não vale a pena economizar comprando bebidas suspeitas.”
Adaptações do “Sextou”
O costumeiro brinde de sexta-feira foi substituído, para muitos, pela prudência. O governo reforça que os consumidores devem sempre verificar se as garrafas têm selo fiscal e desconfiar de preços muito abaixo do mercado.
Entre a cautela e o desejo de confraternizar, o brasileiro adaptou o “sextou” à realidade: menos doses, mais cuidado.
Do total de 113 notificações por esse tipo de intoxicação, 101 são em São Paulo (11 confirmados e 90 em investigação), 6 casos em investigação em Pernambuco, 2 em investigação na Bahia e no Distrito Federal, e 1 caso está sendo investigado no Paraná e Mato Grosso do Sul.