O Almoço do Círio de Nazaré é mais do que um simples encontro à mesa. Trata-se de uma das tradições mais enraizadas na cultura paraense, marcada pela religiosidade, pela memória afetiva das famílias e pelo sabor da gastronomia regional. Depois da procissão de fé e devoção a Nossa Senhora de Nazaré, as famílias se reúnem em suas casas para partilhar o almoço.
É um gesto de comunhão, de encontro entre gerações, e de celebração da vida. A mesa do Círio é marcada por pratos típicos da culinária paraense, como o pato no tucupi e a maniçoba. Esses sabores traduzem a história, os costumes e a riqueza da cultura amazônica.
Mas além do caráter simbólico, o almoço também tem um peso econômico expressivo. Neste ano, segundo estudos do Dieese/PA em parceria com a Secretaria de Estado de Turismo (SETUR), o Círio de 2025 deve atrair cerca de 100 mil turistas, vindos de todas as regiões do Brasil e do exterior. A expectativa é que eles injetem R$ 200 milhões na economia paraense, principalmente por meio de gastos com hospedagem, transporte, serviços e alimentação.
Impacto Econômico e Aumento de Preços
As pesquisas realizadas pelo Dieese revelam, no entanto, que o tradicional almoço ficará mais caro este ano. Os reajustes médios superaram 10% em 2025, mais que o dobro da inflação acumulada em 12 meses (5,1%). O aumento atinge justamente os itens mais emblemáticos do cardápio, como o pato, o tucupi e a maniva.
O pato vivo, ingrediente indispensável para o famoso pato no tucupi, está sendo vendido nas feiras livres de Belém entre R$ 120 e R$ 200 a unidade, dependendo do peso, que varia de 2 kg a 3,5 kg. Já o pato congelado, mais comum nos supermercados, custa entre R$ 37,59 e R$ 47 o quilo. Em ambos os casos, houve aumento superior a 10% em relação ao ano passado.
Outro símbolo do almoço, o tucupi, também encareceu. A garrafa de 2 litros pode ser encontrada nas feiras por R$ 10 a R$ 15, enquanto nos supermercados os valores variam de R$ 12 a R$ 24. O tucupi orgânico, cada vez mais procurado, gira em torno de R$ 25. Já a maniva, base da maniçoba, é vendida entre R$ 5 e R$ 6 o quilo da crua, e de R$ 7 a R$ 15 a pré-cozida, com reajuste médio também acima de 10%.
Alternativas e Ingredientes
Produtos como jambu e alfavaca, que dão sabor e aroma ao tucupi, também subiram. O maço pode ser encontrado por até R$ 3,99 em supermercados e R$ 3,00 nas feiras. Apesar de parecerem pequenos valores, o impacto é significativo quando somado aos demais custos da refeição.
Diante do aumento generalizado, muitas famílias têm optado por substituições. O frango, com preços variando entre R$ 9,45 e R$ 15 o quilo, tem sido alternativa recorrente, ao lado do pernil suíno (R$ 22,50 a R$ 27 o quilo) e do peru (R$ 29,48 a R$ 33,48 o quilo). Embora esses itens também tenham subido, ainda apresentam custo mais acessível que o pato.
Tradição e Identidade Cultural
Para além dos cálculos econômicos, o almoço do Círio de Nazaré permanece como um símbolo de identidade coletiva. É nesse momento que milhares de famílias paraenses e visitantes se reúnem para partilhar pratos típicos, reviver tradições e reafirmar a fé em Nossa Senhora de Nazaré.
Mesmo com os preços mais altos, a mesa do Círio continua sendo um espaço de memória, devoção e resistência cultural, reafirmando sua importância como um dos grandes símbolos do calendário religioso e cultural do Pará.