Pará - O Pará vai ganhar seu primeiro Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas), que será inaugurado no próximo dia 7 de outubro, terça-feira, às 10h, em Benevides, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O espaço foi reformado a partir de um acordo de cooperação técnica firmado com a ONG Proteção Animal Mundial e marca um avanço histórico na proteção da biodiversidade amazônica.
Com capacidade para receber cerca de cinco mil animais por ano, o Cetas Benevides foi planejado para acolher, tratar e reabilitar espécies ameaçadas de extinção, como o gavião-real, a jaguatirica e o peixe-boi amazônico. A estrutura inicial já conta com oito salas de quarentena, 12 recintos de reabilitação, alojamento para funcionários, além de espaços administrativos. O centro também ganhou tanques especiais para o atendimento dos peixes-boi, considerados símbolos da Amazônia e uma das espécies mais vulneráveis da região.
Segundo o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, o novo centro reforça o compromisso do Brasil com a preservação da fauna. “O estado abriga uma riqueza imensa de espécies como araras, macacos, quelônios e felinos, que sofrem com o desmatamento e o avanço das cidades. Dispor de uma estrutura especializada para reabilitar e devolver esses animais à natureza é fundamental para garantir sua sobrevivência”, explica.
A iniciativa prevê ainda o fortalecimento da Rede Cetas, formada por 24 unidades em 21 estados do país, e inclui cooperação técnica com a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). Estudantes e residentes de Medicina Veterinária poderão atuar no centro como voluntários sob supervisão, unindo ciência, aprendizado e cuidado com a fauna silvestre.
Além da reabilitação, o centro tem como missão atuar contra o tráfico de animais, o consumo ilegal de espécies e os impactos ambientais que atingem a vida silvestre. Só em 2024, o Pará registrou apreensões de dezenas de aves como papagaios, bicudos e curiós, além de jacarés, cobras, jabutis e aranhas-caranguejeiras. O Ibama também destaca a importância de devolver à natureza animais resgatados de gaiolas, do comércio ilegal ou até mesmo de ambientes urbanos.
As próximas etapas da obra incluem a construção de um prédio administrativo, um laboratório veterinário e até um túnel de voo para aves em reabilitação. O objetivo é ampliar a estrutura para atender de forma ainda mais eficiente a diversidade da fauna amazônica.
O superintendente do Ibama no Pará, Alex Lacerda, reforça a relevância do espaço para os peixes-boi amazônicos. “Trata-se de um animal dócil, que pode chegar a três metros e 400 quilos, mas que vem sofrendo com a caça ilegal, a poluição dos rios e as mudanças climáticas. Ter um espaço estruturado no Pará para a recuperação dessa espécie é um passo fundamental para evitar seu desaparecimento”, destaca.
De acordo com a Proteção Animal Mundial, a proposta do Cetas é garantir que os bichinhos tenham um cuidado especializado e possam expressar seus comportamentos naturais, fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas. “As vidas silvestres devem viver em liberdade. No Cetas, vítimas do tráfico e do desmatamento terão a chance de se recuperar e voltar à natureza com segurança”, reforça Rodrigo Gerhardt, gerente de vida silvestre da ONG.
No Brasil, os 24 centros do Ibama recebem, em média, mais de 60 mil animais por ano — a maioria aves (75%), seguida por mamíferos (13%) e répteis (11%). Os que não atingem condições físicas ou comportamentais para retornar à vida livre recebem destinações previstas em lei, como programas de conservação.
O Cetas Benevides nasce, portanto, como um espaço de cuidado, esperança e futuro. Um refúgio temporário para que animais amazônicos — dos coloridos papagaios ao imenso peixe-boi — possam ser tratados com carinho, recuperados e devolvidos ao seu habitat, fortalecendo a luta pela conservação da maior floresta tropical do planeta.