BEBIDAS ADULTERADAS

Investigação aponta metanol em gin, uísque e vodka

Especialistas alertam que os sintomas de intoxicação por metanol podem ser confundidos com os de uma ressaca comum, mas a evolução é rápida e agressiva.

foto: Divulgação
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As investigações sobre a presença de metanol em bebidas alcoólicas comercializadas em São Paulo revelam um cenário preocupante: casos recentes mostram que a substância tóxica foi encontrada em diferentes tipos de destilados, incluindo gin, uísque e vodka, vendidos em bares e adegas. O quadro liga o alerta para consumidores, autoridades de saúde e comerciantes, já que o consumo desse tipo de produto adulterado pode levar à cegueira, falência de órgãos e até à morte.

Até o momento, a Secretaria Estadual da Saúde confirmou pelo menos 16 ocorrências em investigação, sendo seis casos validados e três mortes: de um homem de 38 anos em São Bernardo do Campo, outro de 54 na capital e um terceiro, de 50 anos.

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a contaminação não está restrita a ambientes clandestinos, mas ocorre em locais comuns de consumo de álcool, o que amplia os riscos. As notificações enviadas pela pasta têm como objetivo alertar para os serviços de saúde: médicos devem considerar a hipótese de contaminação por metanol em atendimentos de pacientes com sintomas graves após beber. A recomendação também vale para bares e distribuidores, que devem redobrar a atenção com a procedência dos produtos oferecidos. Verifique as notas no final da matéria.

Casos

Casos recentes ilustram a gravidade da situação. O jovem Rafael Martins, internado em estado crítico há quase um mês, enviou um áudio pouco antes de entrar em coma após beber gin: “Tá tudo rodando, parece que tô com a pressão baixa, sei lá”. Outro caso é o de Radharani Domingos, de 43 anos, que perdeu a visão depois de consumir três caipirinhas preparadas com vodka em um bar da capital.

Sintomas

Especialistas alertam que os sintomas de intoxicação por metanol podem ser confundidos com os de uma ressaca comum, mas a evolução é rápida e agressiva. Entre os sinais estão convulsões, coma e falência múltipla de órgãos. Podem incluir ataxia, sedação, desinibição, dor abdominal, náuseas, vômitos, dor de cabeça, taquicardia, convulsões e visão turva, principalmente após ingestão de bebidas de procedência desconhecida.

Afinal, o que é o metanol e por que é tão nocivo?

O metanol é um tipo de álcool, mas diferente do etanol (presente nas bebidas comuns). Ele é usado principalmente na indústria, como solvente, combustível e na fabricação de produtos químicos, encontrado, por exemplo, em fluidos anticongelantes e de limpadores de para-brisa. É altamente tóxico para o corpo humano: mesmo pequenas quantidades podem causar sintomas graves, como citados acima, como dor de cabeça, náusea, visão turva, convulsões, cegueira e até a morte. Por isso, nunca deve ser ingerido.

NOTAS OFICIAIS: Secretaria Estadual de Saúde e Governo Federal

Secretaria Estadual da Saúde

“O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo informa que, desde junho deste ano, foram confirmados seis casos de intoxicação por metanol, dos quais dois resultaram em óbito — um em São Bernardo do Campo e outro na capital.

Atualmente, há dez casos sob investigação com suspeita de intoxicação por consumo de bebida contaminada, na capital.

O CVS está apoiando e monitorando o trabalho dos Municípios na fiscalização dos estabelecimentos de comércio de bebidas (distribuidoras, bares etc.) envolvidos na comercialização e distribuição dos produtos contaminados. O CVS reforça que o consumo de bebidas alcoólicas de origem clandestina ou sem procedência confiável representa risco à saúde, já que podem conter substâncias tóxicas.

A recomendação é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos, e que a população adquira apenas bebidas de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, evitando opções de origem duvidosa e prevenindo casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco”.

Governo federal

“Nesta sexta-feira (26), a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP) recebeu, por meio do Sistema de Alerta Rápido (SAR), notificação que reporta nove casos de intoxicação por metanol, no estado de São Paulo, num período de 25 dias, todos a partir da ingestão de bebida alcoólica adulterada.

O número de casos registrado, inicialmente, pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), de Campinas (SP), e encaminhado ao Comitê Técnico do SAR é considerado fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol.

O Ciatox recebeu, nos últimos dois anos, casos de intoxicação por metanol a partir de consumo de combustíveis por ingestão deliberada em contextos de abuso de substâncias, frequentemente associada à população de rua. Contudo, de acordo com a notificação de hoje, a ingestão se deu em cenas sociais de consumo alcoólico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, uísque e vodca. São registros inéditos no referido centro toxicológico. É possível haver outros casos não notificados, uma vez que nem todos os casos de intoxicação chegam aos órgãos de vigilância e controle.

A ingestão acidental ou intencional de metanol leva a intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração é particularmente relevante do ponto de vista de saúde pública, pois episódios dessa natureza frequentemente resultam em surtos epidêmicos com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, afetando grupos populacionais vulneráveis e exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias. Nesse sentido, requer alerta à população, considerando, inclusive, o início do fim de semana, quando há maior frequência a bares e consumo de bebidas alcoólicas.

SAR — O Sistema de Alerta Rápido sobre drogas do Brasil (SAR) é um subsistema do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas — Sisnad, gerenciado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), vinculado ao Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid).”