
Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG)
em parceria com o Hospital Amaral Carvalho, de Jaú (SP), revelou que a cera de ouvido
pode conter sinais detectáveis de câncer. Os resultados foram publicados na revista
científica Scientific Reports.
Os cientistas identificaram que a cera, ou cerume, contém metabólitos, substâncias
químicas produzidas pelas reações do metabolismo no organismo. Alterações nesses
compostos podem indicar doenças como câncer, Alzheimer, Parkinson e diabetes.
“Os metabólitos orgânicos voláteis fazem parte dessas informações do metabolismo que
são armazenadas no cerúmen e carregam marcadores tumorais que podem ser
analisados pelo método desenvolvido e descrito na tese para indicar, de maneira
precoce, se um paciente está com algum indicativo inicial de risco oncológico”,
explicou João Marcos Gonçalves Barbosa, doutor em Química e um dos autores da tese,
à UFG.
A partir dessa descoberta, os pesquisadores criaram um exame chamado
cerumenograma, que analisa a composição química da cera do ouvido por meio de uma
tecnologia avançada de espectrometria de massa, a mesma usada em amostras coletadas
em Marte.
Com base em estudos anteriores, a equipe da UFG mapeou uma “impressão digital
química” do câncer, composta por metabólitos ligados ao metabolismo de lipídios e ao
estresse oxidativo, um processo que causa dano celular por radicais livres.
Resultados do estudo
O teste foi aplicado em 734 voluntários:
531 com diagnóstico de câncer, em diferentes estágios;
203 sem diagnóstico prévio da doença.
Nos pacientes com câncer, o exame confirmou a presença da doença e indicou seu
estágio de desenvolvimento. Entre os 203 considerados saudáveis, 200 foram
confirmados como livres da doença. Já os outros três apresentaram alterações
metabólicas compatíveis com inflamações avançadas ou quadros pré-cancerosos.
Em dois desses casos, os pacientes tinham inflamação hipermetabólica, um deles no
cólon, com risco de evolução para câncer. No terceiro, uma inflamação nos músculos
faciais (zigomáticos) foi identificada como possível sinal de anormalidade celular.
Segundo os pesquisadores, o cerumenograma ainda está em fase de validação, mas pode
se tornar uma ferramenta complementar ao diagnóstico precoce e ao acompanhamento
do câncer e outras doenças metabólicas no futuro.