ANÁLISE

Motta pautou blindagem e anistia e agora finge que não é com ele

Um dia após protestos em várias capitais contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia a condenados pelo 8 de Janeiro, presidente da Câmara tenta se distanciar das medidas que ele mesmo colocou na pauta.

Um dia após protestos em várias capitais contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia a condenados pelo 8 de Janeiro, presidente da Câmara tenta se distanciar das medidas que ele mesmo colocou na pauta.
Um dia após protestos em várias capitais contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia a condenados pelo 8 de Janeiro, presidente da Câmara tenta se distanciar das medidas que ele mesmo colocou na pauta. Foto:Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Um dia depois dos atos contra a PEC da Blindagem e a urgência da anistia para condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, incluindo Jair Bolsonaro, Hugo Motta (Republicanos-PB) decidiu se pronunciar. Mas o discurso parece mais ensaiado para se livrar da responsabilidade do que para explicar o que está acontecendo “É o momento de tirar da frente todas essas pautas tóxicas”, disse, como se não tivesse sido ele, presidente da Câmara, quem colocou essas pautas exatamente no Plenário.

As manifestações, que ocorreram em todas as capitais, deixaram claro que a população não aceita medidas que blindam parlamentares de processos e permitem anistia a envolvidos no golpe. Motta, no entanto, insiste que a Câmara deve olhar para frente e priorizar temas como reforma administrativa, imposto de renda e segurança pública. Ou seja: ele pauta medidas polêmicas e agora age como se fosse outro que tivesse feito. Se isso fosse no Pará, ele ouviria um sonoro “te faz de doido…!”.

O presidente da Câmara afirmou ainda que respeitará a posição do Senado sobre a PEC, mas defendeu a “defesa do exercício parlamentar”. Traduzindo: ele quer que a Câmara siga na blindagem de políticos, mas insinua estar apenas cumprindo seu papel institucional.

A urgência para o projeto de anistia, aprovada na semana passada, atende a um acordo entre bolsonaristas e Centrão, selado após o motim que tomou as mesas diretoras da Câmara e do Senado em agosto. O Centrão busca proteger parlamentares de investigações, enquanto bolsonaristas querem livrar Bolsonaro de punições. Motta, que articulou tudo isso, agora fala em “tirar essas pautas tóxicas da frente”. Te faz de doido.

Mesmo com a população nas ruas, ele tenta mostrar normalidade: “Isso demonstra que a nossa população está nas ruas defendendo aquilo em que acredita, e eu tenho um respeito muito grande pelas manifestações populares”, disse. Mas a sensação que fica é que ele respeita o protesto só de boca pra fora, enquanto segue blindando políticos em pleno Plenário.

Repercussão e Desgaste Político

O desencontro entre pautar medidas e se distanciar delas gera desgaste político. Especialistas e observadores veem nas declarações de Motta uma tentativa de reduzir a repercussão negativa das votações, enquanto a sociedade continua indignada. 

O Senado, por ora, mostra sinais de que pode barrar a PEC, evidenciando que a pressão popular e a repercussão negativa ainda podem frear iniciativas que tentam driblar a lei. Mas enquanto isso não acontece, Motta segue na posição de quem disse “vai e vota”, mas agora finge que não tem nada a ver com o resultado.