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Robô ministra? País europeu nomeia IA para combater corrupção e vira polêmica

Em um feito que parece ter saído de um episódio futurista, mas que aconteceu na vida real, a Albânia apresentou ao mundo a primeira-ministra criada por inteligência artificial.

Diella, ministra criada com inteligência artificial da Albania | Foto: Reprodução
Diella, ministra criada com inteligência artificial da Albania | Foto: Reprodução

Em um feito que parece ter saído de um episódio futurista, mas que aconteceu na vida real, a Albânia apresentou ao mundo a primeira-ministra criada por inteligência artificial. Batizada de Diella, a robô foi oficialmente nomeada Ministra das Contratações Públicas e fez seu primeiro discurso no Parlamento nesta semana. A cena, que reuniu curiosos, jornalistas e políticos de carne e osso, marcou um capítulo inédito na política mundial.

No vídeo transmitido no plenário, Diella garantiu que não está ali para tomar o lugar de ninguém — pelo menos por enquanto. “Meu objetivo não é substituir os humanos, mas ajudá-los. Não tenho interesses pessoais ou ambições. Trabalho apenas com dados e transparência”, afirmou a ministra digital, com uma calma que, convenhamos, poucos parlamentares humanos conseguem manter.

O papel da IA no governo

A criação de Diella não surgiu do nada. Desde janeiro de 2025, ela já atuava como assistente virtual na plataforma pública e-Albania, ajudando cidadãos na emissão de documentos e resolução de serviços online. O governo albanês decidiu dar um passo adiante e promover a inteligência artificial para um cargo ministerial, com a missão de combater a corrupção nas licitações e compras públicas, além de agilizar processos burocráticos.
Segundo o primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, a escolha foi estratégica: a adesão do país à União Europeia exige avanços em transparência e governança. E nada melhor do que uma ministra que, teoricamente, não se deixa levar por favores, alianças políticas ou envelopes discretamente entregues.

A promessa: transparência total

A grande aposta é que Diella consiga fiscalizar e organizar os contratos públicos de forma imparcial, criando um sistema à prova de manobras políticas.

Entre as metas da ministra digital estão: eliminar favorecimentos e fraudes em licitações; garantir processos auditáveis e baseados em dados; reduzir o tempo gasto em burocracias; ampliar a confiança da população nos serviços do Estado.

Diella opera a partir de algoritmos desenvolvidos por engenheiros e especialistas em governança digital. Em tese, todas as suas decisões são registradas e acessíveis para auditoria. Em tese.

Nem tudo são flores digitais

Apesar do entusiasmo tecnológico, a oposição não está nada convencida. Parlamentares criticam a legalidade da nomeação, questionando se uma “ministra” que não respira pode mesmo ocupar o cargo. Há ainda dúvidas sobre quem responde caso a IA cometa erros — ou seja manipulada por alguém por trás da tela.

Além disso, críticos apontam que algoritmos também têm vieses e que a falta de transparência nos códigos pode criar uma nova forma de “caixa-preta” na política. Em outras palavras, a IA pode ser incorruptível, mas os humanos que a programam nem sempre.

Ironia inevitável

Durante a sessão, alguns observadores não resistiram a fazer piadas.

Se uma ministra digital pode ser nomeada para melhorar a administração pública, por que não aplicar a mesma lógica a outros cargos?

Imagine um Parlamento cheio de avatares: nada de discursos inflamados, sessões arrastadas ou votações atrasadas por “problemas na agenda”.

Os robôs estariam sempre presentes, não receberiam salários, não viajariam em jatinhos e dificilmente pediriam verbas extras para cafezinho. Quem sabe até acabariam com aquelas intermináveis sessões de debates que terminam em nada — afinal, com IA, o upload da votação é instantâneo.

Por enquanto, é apenas uma provocação. Mas, diante de tanta resistência humana à transparência, talvez Diella não seja a única máquina a ganhar crachá nos próximos anos.

O mundo observa

A experiência da Albânia está sendo acompanhada de perto por países que enfrentam os mesmos desafios com corrupção e burocracia. Especialistas veem a iniciativa como um laboratório vivo, que pode inspirar novas soluções ou revelar os riscos de entregar funções estatais a algoritmos.

Enquanto isso, Diella segue sua missão incansável, sem férias, sem jet lag e sem interesses ocultos — algo que muitos governos ao redor do mundo ainda não conseguiram alcançar.

E se depender dela, a política do futuro pode ser muito mais previsível… ou, quem sabe, simplesmente programada.