
Sete em cada dez estudantes brasileiros do Ensino Médio que acessam a internet já utilizam ferramentas de inteligência artificial generativa, como ChatGPT, Copilot e Gemini, para pesquisas escolares. Apesar da adesão, apenas 32% afirmam ter recebido orientação formal nas escolas sobre como aplicar a tecnologia. Os dados são da 15ª edição da TIC Educação, levantamento do Cetic.br | NIC.br, divulgado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
O estudo mostra que o uso de IA também está presente entre estudantes mais novos: 15% dos anos iniciais e 39% dos anos finais do Ensino Fundamental. No total, considerando os alunos de todos os níveis que utilizam internet, 37% recorrem a essas ferramentas. Entre eles, só 19% receberam algum tipo de instrução pedagógica.
Segundo Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, os resultados revelam um cenário de transformações aceleradas. “A IA generativa já é realidade para grande parte dos alunos, mas falta mediação estruturada para o uso crítico. Ao mesmo tempo, plataformas de vídeo estão se consolidando como fontes de pesquisa tão relevantes quanto os buscadores tradicionais”, afirmou.
De acordo com a pesquisa, 74% dos estudantes ainda utilizam sites de busca, mas 72% recorrem a canais e aplicativos de vídeo. Fora das aulas, a internet também é usada para tirar dúvidas de matérias (86%), realizar trabalhos (84%) e praticar conteúdos (78%).
Riscos e Alertas no Uso de Ferramentas de IA
A coordenadora do CGI.br, Renata Mielli, alerta para os riscos. “Essas ferramentas podem oferecer informações erradas ou enviesadas, e sem orientação adequada podem impactar o processo de formação de toda uma geração. É preciso criar estratégias para que professores e escolas lidem com essa nova realidade”, avaliou.
A TIC Educação aponta que 54% dos docentes participaram, no ano anterior à pesquisa, de cursos de capacitação em tecnologias digitais. No entanto, temas como uso seguro da internet (69%), educação midiática (68%) e aplicação de IA em sala de aula (59%) ainda aparecem em menor proporção.
Nas escolas, 89% dos coordenadores pedagógicos afirmam que já foram promovidas atividades sobre cyberbullying, privacidade, integridade da informação e uso de algoritmos. Mas apenas 30% dizem que essas discussões são contínuas; na maioria das instituições, ocorrem uma ou duas vezes por ano.
Acesso à Internet e Desigualdades nas Escolas
A pesquisa mostra avanço no acesso à internet: 96% das escolas brasileiras estão conectadas, sendo 88% com rede disponível em sala de aula. No entanto, persistem desigualdades. Enquanto 67% dos alunos da rede estadual usam a internet para atividades escolares, nas municipais o índice é de apenas 27%.
Outro dado em destaque é a queda no uso do celular pessoal para acessar a internet nas escolas: de 55% em 2022 para 45% em 2024. A mudança está ligada às restrições impostas pela Lei nº 15.100, que limita o uso de dispositivos móveis em instituições de educação básica.
Adaptação e Equilíbrio no Uso de Tecnologias Digitais
Para Daniela Costa, coordenadora da TIC Educação, o momento é de adaptação. “As escolas estão no centro do debate sobre como equilibrar o uso de tecnologias digitais com a proteção dos direitos e o desenvolvimento cognitivo e social dos alunos”, ressaltou.