ARTIGO DE OPINIÃO

'O Agente Secreto' é a indicação do Brasil ao Oscar

O filme escolhido para tentar a vaga na disputada categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2026 - e em outras possíveis categorias.

Foto: Divulgação
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“Imprensa, aí está o que tanto queria: O Agente Secreto deverá representar o Brasil no Oscar”. Anunciou a produtora Sara Silveira, presidente do Comitê de Seleção da Academia Brasileira de Cinema, que anunciou em live realizada no horário do almoço desta segunda, 15 de setembro, o filme escolhido para tentar a vaga na disputada categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2026 – e em outras possíveis categorias, como apontam alguns dos principais veículos da imprensa especializada como a Variety, que cravou indicações para Melhor Roteiro, Melhor Ator (principal) e Melhor Filme.

O que ocorreu nas últimas semanas, desde meados de agosto, quando a campanha do filme Manas, rodado no Pará e com recursos do governo estadual, dirigido pela pernambucana Marianna Brennand, anunciou a adesão do ator Sean Penn, uma figura controversa em Hollywood, foi um verdadeiro pandemônio.

É importante dizer que todos os seis filmes finalistas pré selecionados teriam o direito de empreender uma campanha em busca da indicação da Academia mas o que se viu foi única e exclusivamente, para além de O Agente Secreto, que vinha desde maio, após a consagração no Festival de Cannes, de onde saiu com dois prêmios (Melhor Ator para Wagner Moura e Melhor Direção para Kleber Mendonça Filho), fazendo parte da seleção de outros festivais importantes em escala global como Telluride, Toronto, NY, Londres e Zurique, além de ser o filme convidado para abrir os principais festivais de cinema brasileiros do segundo semestre, a começar por Brasília, não sem antes ter uma pré estreia fulgurante no Recife, onde foi rodado. 

A carreira internacional do filme de Kleber Mendonça Filho e da produtora Emilie Lesclaux transcorria com naturalidade, num trabalho já contínuo de campanha para a temporada de premiações até que irrompeu uma sucessão de notícias de que Manas, um filme que também é de Pernambuco mas rodado na Ilha do Marajó, que iniciou sua carreira em festivais em 2024, quando foi reconhecido na mostra paralela Jornada dos Autores no Festival de Veneza, um feito inédito para o cinema brasileiro até então.

E Manas, que conta com a estreia da impressionante Jamilli Correa no papel principal e a grande Dira Paes no elenco, foi colecionando prêmios – mais de 20 – em outros festivais, além de, no mesmo Festival de Cannes de 2025, Brennand, que nasceu na capital federal, ter sido escolhida para receber o prêmio Women in Motion Emerging Talent Award, uma premiação do conglomerado Kering para celebrar mulheres com trajetórias promissoras e longevas na sétima arte; nessa mesma edição, também foi homenageada a atriz Nicole Kidman. 

A Campanha de Manas e a Polêmica

Porém, a campanha de Manas, que ainda teve a adesão da atriz Julia Roberts, de Fernanda Torres e do cineasta Walter Salles, que assina agora como produtor executivo, além dos Irmãos Dardenne, deu uma guinada no mínimo insólita, com o envio para a imprensa de uma carta onde 77 empresas declararam apoio ao filme “na disputa pelo Oscar para reforçar o combate à violência sexual contra crianças e adolescentes”. Empresas estas, que podiam ter aderido anteriormente à campanha ou demonstrado apoio na forma de iniciativas de fomento ao cinema brasileiro e que parecem querer aproveitar a pauta, não para “unir esforços para combater um dos problemas mais graves e silenciados do país”, no caso, a realidade de algumas localidades marajoaras, que não resulta em nenhuma ação concreta em conjunto com o governo federal, por exemplo. 

Assinada por líderes como Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil; Laís Peretto, Diretora Executiva da Childhood Brasil; Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta; Clarissa Sadock, CEO da Comerc Energia; e Ernesto Pousada, presidente da Vibra, provocou mal estar especialmente pelo fato de levar a memória até um momento controverso: a escolha do filme O Pequeno Segredo em detrimento de Aquarius, do mesmo Kleber Mendonça Filho, durante o governo Temer. Isso depois do filme ter estreado no Festival de Cannes de 2016 e a equipe ter feito um protesto denunciando o golpe contra a presidente Dilma Rousseff. 

O Comitê de Seleção e o Processo de Escolha

Voltando a 2026, os membros do comitê de seleção, representados pela presidente, falaram sobre o trabalho da imprensa como se ele tivesse se excedido, por conta do “excesso de informações e tudo que acontece no mundo do cinema”, quando na realidade, o que a imprensa especializada fez foi dirimir dúvidas sobre o processo de escolha e seleção para concorrer ao Oscar e desmentir falsas notícias, como a que afirmava que o Brasil teriam chances de ter um filme indicado formalmente como o representante do país e outro ‘correndo por fora’ em busca de indicações em outras categorias, quando sabemos que não é assim que funciona e que um país como o Brasil, que ainda busca consolidar a sua indústria de cinema no mundo, teria as suas chances ainda mais diminuídas. 

Representar a força do cinema pernambucano e do cinema brasileiro no mundo é o que quer agora Emilie Lesclaux. Ela repercutiu a notícia da indicação ao lado de Kleber Mendonça Filho, que acrescentou: “nossa campanha agora segue mais forte ainda. Grande abraço por todo o apoio popular e para o comitê de seleção pela confiança a esse filme que acaba de começar a ser visto no Brasil”. 

A Campanha de “O Agente Secreto” nos Estados Unidos

O fato é que agora a Neon, grande distribuidora por trás da distribuição de O Agente Secreto no mercado dos Estados Unidos e Canadá, está empreendendo uma campanha forte para obter as indicações, e ela ainda tem um outro favorito, o ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Un Simple Accident, de Jafar Panahi, que deve obter uma indicação na categoria de Melhor Filme Internacional – que ainda deve ter o recém premiado no Festival de Toronto No Other Choice, de Park chan-wook e Sentimental Value, de Joachim Trier. Agora é torcer de novo, como quando Ainda Estou Aqui foi o escolhido e fez uma campanha que resultou no primeiro Oscar brasileiro. (Por Lorenna Montenegro – Direto do Festival de Brasília)