Na manhã dste domingo (14), a campanha educativa que incentiva o ‘sim’ à doação de órgãos e tecidos foi a protagonista no Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna, em Belém. Reunindo centenas de pessoas, com caminhada, palestra e roda de conversa alusivas ao ‘Setembro Verde’, a ação é promovida pela Central Estadual de Transplantes (CET), vinculada à Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), em parceria com a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.
Além destes, contaram com parceiros como Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa), Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), e voluntários da Universidade da Amazônia (Unama). A manhã começou com a caminhada pelas trilhas do parque, seguida de dinâmicas que desmistificaram dúvidas sobre o processo de doação, além de distribuição de materiais educativos e uma palestra.
Segundo o médico Alfredo Abud, coordenador da CET, o Pará tem avançado nas modalidades de transplante. “Hoje, no Pará, a gente realiza cinco modalidades de transplante de órgãos e tecidos. É o transplante de córnea, que é o nosso carro-chefe; o músculo-esquelético; o de fígado; o renal, tanto adulto como pediátrico; e o transplante de medula óssea. Para tecidos, é a córnea. Para órgãos sólidos, é o renal, maior demanda”, explicou.
Ele destacou que, apesar de o número de procedimentos estar em crescimento, a fila ainda preocupa, fazendo-se necessária a mobilização de mais pessoas. “Realizamos uma média de 650 transplantes de órgãos e tecidos ao longo de todo o ano de 2024. Em 2025, provavelmente, vamos superar essa meta. Na espera, só para ter uma ideia, a gente supera 500 pessoas no transplante renal. O que acontece é que, embora o número esteja crescente, as doações ainda estão muito aquém do que se espera. A deficiência é justamente na sensibilização da população. Sem o aceite das famílias, não há transplante”, reforçou.
A médica intensivista Nelma Machado, gerente da UTI da Santa Casa e coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT), ressaltou o trabalho feito dentro dos hospitais e a necessidade de ampliar o diálogo fora deles. “Nós acompanhamos diariamente pacientes que possam evoluir para morte encefálica e damos suporte às equipes nesse processo. Mas, trazer isso para as ruas é fundamental, porque muitas pessoas não entendem como funciona a doação. A morte é natural, mas temos dificuldade em falar sobre ela. Então, é importante que cada um diga para a família: ‘eu sou doador’. Isso diminui o peso da decisão familiar e dá tranquilidade no momento certo”, ponderou.
A doação só acontece após autorização familiar. Abud frisa que, para ser um doador de órgãos e tecidos, “não é nada burocrático, não precisa de nenhum registro oficial em documento. Basta você, de forma consciente, verbalizar aos seus familiares que têm o desejo de ser doador de órgãos e tecidos, para que a sua família faça valer sua vontade”.
O público também se engajou na campanha. Anderson Lucas, 23 anos, estudante de enfermagem, conta que já participa de ações sobre doação de órgãos desde 2023 e tem convicção da sua escolha. “Com certeza eu pretendo ser doador. É muito importante que a família esteja ciente da nossa vontade, porque se ela não autorizar, não vai adiantar nada. Já falei com os meus familiares e quero que o que estiver funcionando do meu corpo seja doado”, afirmou.
Para Ingrid Costa, 21 anos, estudante, o tema ainda está em processo de reflexão pessoal. “Eu acho um assunto bem importante, porque existem várias pessoas que estão na fila de espera por muito tempo. Foi bom entender mais sobre o assunto, já estou pensando sobre para o futuro”, disse.
Já o pai dela, o motorista Glaydson Corrêa, 43 anos, não teve dúvidas sobre sua decisão. “Eu pretendo ser doador. A gente sabe que a dificuldade para transplante é grande nesse país. Se eu puder servir, mesmo depois que eu partir, para dar continuidade à vida de alguém, eu acho válido. Já deixei isso claro para a minha família, porque o que vale mesmo é o espírito, a alma. O corpo fica aqui”, refletiu.