NEGÓCIOS

Um brinde às cachaças com sabor paraense!

Neste dia nacional da bebida, o DIÁRIO mostra que os consumidores daqui estão cada vez valorizando mais a bebida, principalmente aqueles que contam com ingredientes locais, como as feitas com nosso jambu

Há cachaças paraenses para todos os gostos e bolsos Fotos: Ricardo Amanajás
Há cachaças paraenses para todos os gostos e bolsos Fotos: Ricardo Amanajás

O Dia Nacional da Cachaça é comemorado neste sábado (13), data criada para valorizar a bebida destilada com sabor marcante que é um símbolo da cultura brasileira. Pesquisadores da Embrapa afirmam que ela foi inventada em meados do século XVI pelos negros escravizados nas fazendas de cana e nos engenhos de açúcar. Por muito tempo, a cachaça não possuía o status que atualmente possuí, sendo considerada uma bebida de baixa categoria, consumida apenas por escravos e pela população pobre.

Um fato curioso é que no século XVII, a corte em Portugal proibiu a produção e a venda do destilado brasileiro, resultando em revolta dos produtores de cachaça contra a coroa portuguesa. Como resultado da insatisfação, no dia 13 de setembro de 1661, a rainha Luísa de Gusmão liberou a produção e a comercialização da bebida no Brasil. Por isso, a data é celebrada como o Dia Nacional da Cachaça. Atualmente, a bebida é produzida em todo o País com muitas variações e toques regionais.

No Brasil, o fabrico de cachaça é regulamentado por lei. O decreto publicado em 2003 determina que a bebida seja produzida com graduação alcoólica entre 38% a 48% em volume, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar.

No Pará, as cachaças artesanais têm ganhado espaço em bares, restaurantes e na coquetelaria contemporânea, principalmente a cachaça de jambu. Na capital paraense, dois locais são referências no quesito cachaça: o Boteco Meu Garoto e o restaurante Engenho.

Meu Garoto e a cachaça de jambu

O apreciador de cachaça, empresário e visionário Leodoro Porto, 56, é o precursor da famosa cachaça de jambu, intitulada “Meu Garoto”, mesmo nome do boteco dele. A mistura curiosa desenvolvida pelo empresário se transformou em um fenômeno no consumo de cachaça regional. Natural do Piauí, Leo Porto veio a Belém em 1994, após trabalhar em São Paulo na área da construção civil, assumindo naquele ano o comando do boteco “Meu Garoto”, que era do irmão dele e onde Porto iniciou a experimentação de infusões de cachaça com ingredientes da Amazônia.

No bar, ele realizava as infusões influenciado pelo pai, que realizava o procedimento lá no Piauí. “Ele fazia uma cachaça que ele denominava de temperada”, explica Leo Porto. “Então, aqui no bar eu fazia cachaça com guaraná, catuaba, jucá, marapuama, jenipapo e até com laranja”, exemplifica as diferentes cachaças que produzia de forma artesanal no qual chegou a ter 42 sabores diferentes no estabelecimento.

O empresário explica que antigamente a cachaça era discriminada pela sociedade, ainda mais se consumida por mulheres 30 anos atrás. “A cachaça era uma coisa muito malvista. Eu peguei essas cachaças temperadas e comecei a servir com caldinho. Eu agreguei valor à bebida e comecei a adquirir clientela de um outro patamar. As primeiras infusões foram com cravinho, canela e gengibre”, comenta sobre a visão de negócios que teve lá na década de 1990 com relação à bebida destilada.

A grande sacada de Leo Porto veio no ano de 2011, quando almoçava em casa e teve um insight de combinar cachaça com a planta.”Naquele ano (2011), eu almoçando pato no tucupi, mastigando o jambu e com uma dose de cachaça pra tomar, fiquei pensando se não conseguiria colocar o jambu na cachaça. Eu já não via o jambu como um sabor, eu via como sensorial”, afirma.

Foram muitas tentativas até chegar no produto final. No início, a cachaça ficava amarga, com gosto ruim e tinha espuma. Mas a surpresa veio com o tempo, de forma inesperada na vida do empresário. “Deixei essa infusão que eu tinha feito lá no meu depósito. Depois de três meses mais ou menos, nem lembrava dela, fui pegar uma grade de cerveja, olhei a cachaça e estava com a cor diferenciada, esverdeada. Quando eu provei que tremeu valendo, eu pensei ‘Eureca!’. Peguei a garrafa, levei pro Meu Garoto e daí eu não tive mais sossego graças a Deus! Foi uma explosão.”

Leodoro Porto

A cachaça é comercializada para todo o Brasil em garrafas de diferentes tamanhos e valores, que variam do menor volume de 50ml (R$15,00) ao maior de 700ml (R$60,00). Pela praticidade, a maior saída é a garrafa de 275ml no valor de R$30,00. As duas lojas estão localizadas nos dois botecos na capital paraense, na rua Senador Manoel Barata, e na avenida Senador Lemos, Umarizal. Uma terceira loja está localizada em Barreirinhas, no Maranhão. A fabricação das cachaças ocorre em Ananindeua.

O cruzamento da cachaça com o jambu é motivo de felicidade para Leo Porto, por representar o Estado em um cenário nacional e internacional. “Isso é onde eu me orgulho demais porque quando falamos nela, falamos do Pará. Foi um casamento perfeito a cachaça com o jambu. Acreditei que a cachaça era um potencial e valorizei. É um produto que eu faço com todo carinho e me dedico muito.”

Engenho: variedade e tradição

Uma das paredes do restaurante Engenho, localizado no shopping da Doca, chama a atenção de quem entra no local. Trata-se de uma estante com cerca de sete metros de comprimento e aproximadamente cinco metros de altura, dividida em andares, ornada com dezenas de garrafas de cachaças de diferentes locais do País, principalmente do estado de Minas Gerais. Tem cachaça tradicional de cana, de uva e de banana, sendo mais de 100 marcas diferentes.

Evelin Santos, 34, supervisora do estabelecimento, explica que a maior parte do público consumidor que adquire as cachaças no local é o masculino, com idade a partir dos 40 anos. Mas não é apenas para consumo próprio, a busca pela bebida é também para presentear. “Diariamente, recebemos muitos clientes, sendo vários turistas que querem levar. Sempre tem gente atrás de cachaça”, comenta.

A preferida e a que mais tem saída é a Jambucana, que é a cachaça de jambu registrada pelo restaurante, vendida em garrafas que variam de tamanho e preço, desde 50ml custando R$22,90 a 750ml no preço de R$79,90. “Tem que deixar um tempinho na língua para poder sentir o jambu e todo aquele processo que é o ‘tremorzinho’ na boca”, explica Evelin Santos sobre a forma de consumir a cachaça.

Para conquistar o cliente, dependendo da marca e do tipo da bebida, o local fornece degustação e doses para uma experiência imersiva no universo da cachaça. Conforme ressalta Leandro Garcia, 38, chef no estabelecimento, as cachaças chegam do local de produção direto do alambique para o restaurante, o que confere mais qualidade de opções para os clientes.

Leandro Garcia

No Engenho ainda há drinks com variados nomes que tem como base a cachaça e incluem diferentes ingredientes na receita. Uma das opções de drinks comercializados no estabelecimento é a Jamburinha no valor de R$15,90, elaborada com a Jambucana, limão, jambu e gelo. “É um dos mais pedidos. Uma novidade muito boa. No finalzinho fica algo bem suave. Dá um sabor diferente no drink”, diz o chef Leandro Garcia.