ESTUDO

Consumo de "junk food" pode prejudicar a memória

Alimentos gordurosos e industrializados podem afetar o cérebro quase imediatamente, bem antes do início do ganho de peso ou do diabetes

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Novo estudo mostra que o consumo de junk food, como batata frita, hambúrguer e pizza, pode reconfigurar o centro de memória do cérebro, pois interrompe o processamento das lembranças pelo hipocampo, mesmo após apenas alguns dias ingerindo esse tipo de alimento.

De acordo com os pesquisadores, um grupo especial de células cerebrais no hipocampo, chamados interneurônios CCK, torna-se excessivamente ativo após uma dieta rica em gordura (HFD), devido à capacidade prejudicada do cérebro de receber glicose (açúcar).

Além disso, a equipe também mostrou que uma proteína chamada PKM2, que controla o uso de energia pelas células cerebrais, desempenha um papel fundamental nesse problema. O estudo americano foi publicado na revista científica Neuron.

“Sabíamos que a dieta e o metabolismo poderiam afetar a saúde do cérebro, mas não esperávamos encontrar um grupo tão específico e vulnerável de células cerebrais, os interneurônios CCK no hipocampo, que foram diretamente afetados pela exposição de curto prazo a uma dieta rica em gordura”, afirma Juan Song, pesquisador principal e professor de farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos Estados Unidos.

Para o estudo, camundongos foram colocados em uma dieta rica em gordura, semelhante a junk food gorduroso, antes de iniciar os testes comportamentais. Quatro dias após essa dieta rica em gordura, os resultados mostraram que os interneurônios CCK no centro de memória do cérebro ficaram anormalmente ativos.

Dessa forma, os resultados sugerem que alimentos gordurosos e industrializados podem afetar o cérebro quase imediatamente, bem antes do início do ganho de peso ou do diabetes.

Impacto da Dieta na Saúde Cerebral

Por outro lado, a pesquisa também mostrou que intervenções realizadas, como modificações na dieta ou abordagens farmacológicas, podem ser eficazes na preservação da saúde cerebral em casos de neurodegeneração relacionada à obesidade.

Intervenções na alimentação, como períodos de jejum intermitente após uma dieta rica em gordura, foram suficientes para normalizar os interneurônios da CCK e melhorar a função da memória.

“A longo prazo, essas estratégias podem ajudar a reduzir o crescente fardo da demência e do Alzheimer associados a distúrbios metabólicos, oferecendo um cuidado mais holístico que aborda tanto o corpo quanto o cérebro“, conclui Song.

Um outro estudo, feito por pesquisadores do Massachusetts General Hospital, ligado à Universidade Harvard, também revelou que consumir alimentos ultraprocessados, mesmo que seja em uma quantidade modesta, já aumenta o risco de problemas de memória e derrame.

Alimentos Ultraprocessados e Risco de Problemas de Memória

O estudo acompanhou 30.239 pessoas com 45 anos ou mais, por uma média de onze anos. Os participantes foram divididos em quatro grupos com base na ingestão de alimentos processados, calculada como uma porcentagem de sua dieta diária. Do total de participantes: 14.175 foram avaliados quanto ao declínio cognitivo, sem histórico de comprometimento cognitivo no início do estudo, e 20.243 foram avaliados quanto ao risco de AVC, sem histórico de AVC no início do estudo.

Os pesquisadores ajustaram vários fatores de risco, como idade, sexo e pressão alta, ao analisar os dados. Os resultados indicaram que um aumento de apenas 10% no consumo de alimentos ultraprocessados foi associado a um risco 16% maior de comprometimento cognitivo. O trabalho foi publicado na revista científica Neurology.

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) já havia demonstrado que o impacto na cognição de uma dieta rica em ultraprocessados é quase 30% maior entre aqueles que consomem mais de 20% das calorias diárias vindas desses alimentos.