Há uma tendência interessante no cinema de terror atual, que se apoia no pessimismo e excesso de culto ao corpo da sociedade atual nos chamados “body horror”, em trabalhos de diretores como Brandon Cronemberg (filho do mestre maior desse subgênero, David), Julia Ducornau e Coralie Fargeat.
“Juntos” (2025) é o primeiro trabalho de relevância do diretor Michael Shanks, mostrando um domínio narrativo e estético que o candidata a entrar nesse panteão do gênero mais angustiante do cinema de horror. Tim (Dave Franco) e Millie (Alison Brie) vivem um amor em crise, potencializada pela mudança do casal para o interior, onde ela começa a dar aulas, frustrando o namorado, músico que nunca conseguiu o sucesso.
Mas o contato com uma substância misteriosa provoca reações que os aproximam fisicamente até o extremo. É um paradoxo interessante sobre desapego sentimental dando vazão a uma aproximação carnal como mola propulsora da trama e da “criatura” que invade os corpos dos personagens.
Franco e Brie, um casal na “vida real”, explora bem a química cotidiana diante de uma situação horripilante, sendo a interação entre eles a melhor coisa do filme. O diretor segura a mão em momentos de tensão, gerando ótimas sequências envolvendo a aproximação bizarra do casal.
Tirando uma ou outra questão sem explicação, a trama funciona por ser simples, contada de maneira fácil e com algum apelo, mesmo que tenha que recorrer a uma batida premissa envolvendo rituais misteriosos. Mas nada que interfira no ambiente de angústia que vai tomando conta da tela, relevando alguns furos grandes do roteiro.
Talvez pela falta de experiência, Shanks apela para momentos de humor, por vezes involuntário, que destoa da proposta do filme, o que pode atrapalhar um pouco a imersão no contexto fornecido como mitologia original. Senti também falta de um pouco mais de gore típico desse tipo de produção, mas os efeitos especiais das simbioses corporais funcionam e são extremamente aflitivos, além de uma conclusão fechada para a história.
Não espere nada muito profundo ou cronemberguiano, mas apenas um bom exemplar de horror. Uma boa experiência na tela grande.