
O caso do jogador Bruno Silva, que tratou um câncer que resultou na amputação parcial do pênis, chama atenção para o alto número de amputações do órgão no Brasil. Nos últimos dez anos, foram registradas mais de 22,2 mil internações, 4.500 mortes e cerca de 580 amputações anuais, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), obtidos junto ao Ministério da Saúde e divulgados em fevereiro de 2025.
Segundo o médico Roni Fernandes, diretor da Escola Superior de Urologia da SBU, “a principal causa de amputação parcial do pênis é o tratamento de alguns tipos de câncer”, o que ainda é considerado raro.
Quando o tumor atinge a parte externa do órgão (glande) e invade camadas mais profundas, a cirurgia para remover parte do pênis se torna necessária, especialmente quando terapias menos invasivas como remoção localizada do tumor ou laser não foram suficientes para eliminar todas as células cancerígenas.
Em alguns casos, as funções sexual e urinária podem ser preservadas mesmo com a remoção parcial do pênis. O urologista Ubirajara Barroso Jr., chefe da Divisão de Cirurgia Urológica Reconstrutora e Urologia Pediátrica do Hospital da Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica que, mesmo quando o falo tem menos de 4 centímetros, “o paciente geralmente ainda consegue urinar em pé”.
Entretanto, ele destaca dois impactos principais: o primeiro é na autoestima, por causa do simbolismo do pênis para a masculinidade e virilidade. “Muitos pacientes enfrentam depressão ou dificuldades em seus relacionamentos. Além disso, quando o pênis fica muito curto, pode ser impossível ter relações sexuais com penetração”, afirma.
A saúde de Bruno Silva foi revelada por Andressa Marinho, que relatou nas redes sociais o fim do casamento de oito anos com o jogador. Ela descreveu uma relação marcada por traições e agressões, inclusive durante a gravidez. Marinho também afirmou que, apesar de ter sido uma esposa leal e apoiado o marido durante o tratamento de câncer, foi traída.
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COMO FICA A VIDA SEXUAL APÓS A AMPUTAÇÃO PARCIAL?
Segundo Roni Fernandes, a vida sexual pode continuar caso o corpo cavernoso, estrutura que enche de sangue e permite a ereção, seja mantido durante a cirurgia. Assim, é possível ter ereções e relações com penetração.
“A libido geralmente não é afetada, pois depende de fatores hormonais e psicológicos. A ejaculação também pode continuar ocorrendo, e o orgasmo costuma ser preservado, já que está mais relacionado ao sistema nervoso do que à anatomia”, afirma o médico.
Os especialistas ressaltam, porém, o impacto emocional ligado à autoimagem, identidade masculina e medo da rejeição sexual. Apoio psicológico, terapia sexual e acompanhamento com equipe multidisciplinar são recomendados.
Cirurgias e Tratamentos
HÁ CIRURGIAS PARA AUMENTAR O TAMANHO DO PÊNIS NESSES CASOS?
Barroso Jr. explica que existem procedimentos para aumentar o comprimento do pênis após amputações parciais. O método mais comum consiste em soltar os ligamentos que prendem a base do pênis ao osso púbico, o que proporciona um ganho discreto de cerca de 1 a 1,5 cm.
Ele desenvolveu uma técnica mais avançada: nela, os corpos cavernosos são liberados do osso púbico e o pênis é reposicionado, sendo fixado apenas por vasos sanguíneos e nervos. Isso permite um ganho maior de comprimento e, segundo o médico, possibilita relações sexuais com penetração.
Penectomia Total: Indicações e Impactos
E QUANDO OCORRE A PENECTOMIA TOTAL?
A penectomia total é uma cirurgia radical, indicada apenas em casos de câncer muito avançado, na qual todo o pênis é removido. Nessa situação, relações sexuais com penetração não são possíveis, e os impactos psicológicos são ainda mais significativos.
O oncologista José Maurício Mota, da Oncologia DOr, especializado no tratamento de tumores urológicos afirma que “técnicas cirúrgicas e acompanhamento emocional podem ajudar na adaptação e na melhora da qualidade de vida”.
RAÍSSA BASÍLIO