A menos de três meses para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), a capital paraense vive uma transformação de grande impacto: a explosão na oferta de hospedagem por temporada.
O Airbnb Day, realizado nesta terça-feira (26), em parceria com a Secretaria de Turismo do Pará, reuniu representantes da plataforma, do Instituto Alok, além de anfitriões locais, para apresentar números inéditos e novas parcerias estratégicas que unem turismo sustentável, impacto social e legado econômico para a região amazônica.
O encontro aconteceu na Casa Mia, no bairro do Reduto, e mostrou como Belém saltou de pouco mais de mil anúncios no Airbnb em 2023 para mais de 8.800 em 2025. Isso representa um crescimento de 712% na quantidade de leitos, hoje somando mais de 27,8 mil opções de hospedagem na plataforma – em agosto deste ano.
Além de ampliar a oferta, a cidade ganhou em qualidade: houve aumento de quase 70% nos anúncios classificados como Preferidos dos Hóspedes e de quase 50% no número de Superhosts, os anfitriões mais bem avaliados no Airbnb. Atualmente, Belém conta com 26.420 leitos e 18.330 quartos disponíveis na plataforma.
Para a diretora-geral do Airbnb na América do Sul, Fiamma Zarife, o esforço vai muito além de preparar Belém para a COP 30. “A gente queria, primeiro, obviamente, contribuir para a preparação da cidade para receber a COP, mas também tinha objetivos de longo prazo, que são deixar um legado para que o Pará pudesse alavancar ainda mais esse potencial turístico enorme que vocês já têm. ‘Como é que fazemos isso?’ Primeiro é a capacitação”, pontuou.
Para que isso aconteça, “lançamos oficinas para formar novos anfitriões e também trabalhamos com cartilhas junto à Associação Comercial, síndicos e condomínios. É todo um ecossistema que fica como legado”, explicou. Ela lembra um estudo inédito da Fundação Getulio Vargas (FGV) encomendado pela plataforma, o Airbnb movimentou R$300,3 milhões em Belém em 2024, gerando 1.800 postos de trabalho, R$82,5 milhões em renda adicional para moradores; a atividade ainda contribuiu com R$ 26,8 milhões em tributos diretos e R$ 166,2 milhões para o PIB municipal.
“É um ciclo virtuoso. Mais turismo traz mais acomodações, que atraem hóspedes, que gastam na economia local. Isso impacta o transporte, restaurantes, comércio e acaba influenciando todo o PIB da cidade”, reforçou Fiamma.
Parceria com o governo do Pará
José Eduardo Costa, secretário de Estado de Turismo do Pará (Setur), destacou que a parceria com a plataforma, iniciada em novembro de 2023, nasceu da necessidade de ampliar os leitos para grandes eventos, mas se transformou em política de fortalecimento do turismo. “Nós tínhamos uma perspectiva de 3 mil anúncios, mas hoje já chegamos a 8 mil. Isso deixa um legado importante após a COP, porque as pessoas passam a ter uma fonte de renda extra e se engajam no trade [comércio/negócio] turístico. É uma demonstração de que parceria e inovação dão certo”, avaliou.
Ele também lembrou o caráter cultural da hospitalidade paraense. “A nossa simplicidade e acolhimento são marcas fortes. O Círio de Nazaré está aí para mostrar: quando milhões de pessoas tomam as ruas, essas pessoas ficam em algum lugar, seja na casa de parentes, amigos ou em acomodações alternativas. Por isso, sempre digo que ‘abrir a casa é também abrir o coração’”, declarou.
Fundo Comunitário e Instituto Alok
Durante o evento, foi compartilhado a destinação de R$1 milhão do Fundo Comunitário do Airbnb para o Instituto Alok, que atua em projetos sociais e ambientais. Desse total, quase R$500 mil estão sendo aplicados no Pará, mais precisamente no Marajó, apoiando 150 mulheres viveiristas responsáveis por plantar 240 mil mudas nativas em uma área de 200 hectares degradados. No “Marajó – Agrofloresta em Família” a ação acontece em municípios: Breves, Curralinho, Melgaço, Muaná, Portel e São Sebastião da Boa Vista.
De acordo com o diretor do instituto, Devam Bhaskar, o impacto vai além da restauração ambiental, “é um trabalho duro, de plantar e cavar a terra, mas que já aumentou em 75% a renda dessas mulheres. Estamos falando de famílias que agora veem a floresta como fonte de sustento e preservação. Nosso programa Planeta Verde nasceu há pouco mais de um ano e já apoia projetos de restauração em várias regiões, mas esse, em Breves e arredores, é especial por estar totalmente conectado à COP e ao futuro da Amazônia”.
Os outros R$500 mil são destinados ao projeto que acontece em Rio Braco, no Acre.
Legado(s)
O Airbnb também reforçou a Rota “Isso é Pará” – lançada em setembro de 2024, dentro do projeto Rotas Airbnb, em parceria com a Setur –, que valoriza atrativos fora dos centros turísticos tradicionais, como praias de água doce, manguezais, construções históricas e expressões culturais do Marajó, Santarém, Bragança e Salinas.
Além de contemplado pelo Fundo Comunitário, o Marajó tem a cidade que aparece entre os 10 destinos costeiros mais hospitaleiros no Brasil no Airbnb, o município de Salvaterra. A plataforma observou um crescimento de mais de 115% nas buscas domésticas pelo Estado Paraense no Airbnb. Os dados mostram que, no segundo semestre de 2025, Belém, Salinas e Santarém foram as cidades em alta no Estado.
“A ideia é promover destinos que realmente representem a cultura paraense, com protagonismo da comunidade local. Quando lançamos as fotos dessa rota, foi emocionante ver ilustradores, produtores de chocolate e artesãos participando [pessoas dos próprios locais]. É uma forma única e muito paraense de apresentar a região ao mundo”, disse Fiamma.
A expectativa é que a COP-30 seja apenas um marco, mas não o fim da transformação. Como disse Eduardo Costa, citando uma sabedoria ribeirinha do Tapajós: “‘a canoa só anda quando todos remam juntos’. Então, juntos vamos continuar remando para que o nosso Estado se torne, efetivamente, um potencial não só de desenvolvimento econômico, mas também no turismo”.