O DIÁRIO NA EUROPA não poderia ficar de fora da celebração de 43 anos do nosso DIÁRIO DO PARÁ. Esta coluna também está fazendo aniversário, pois há sete meses demos início a uma ideia inovadora: a estreia de um correspondente do jornal no Velho Mundo, contando tudo sobre história, cultura, comportamento, curiosidades e muito mais sobre Portugal e demais países europeus. Detalhe: diretamente do local.
Já falamos sobre a “mana” da rua João Alfredo, que na cidade do Porto se chama rua de Santa Catarina; adentramos a última casa onde o poeta Fernando Pessoa morou, em Lisboa; degustamos as delícias da gastronomia paraense em plena cidade de Braga, com seus mais de dois mil anos, além de, recentemente, darmos um rolê na Feira da Ladra, uma espécie de “Ver-o-Peso português”.
E, para comemorar o aniversário do nosso DIÁRIO, nada melhor que mostrar o dia a dia de um paraense “papa-chibé nível raiz” que atravessou o Atlântico e, daqui de Portugal, hoje também saúda o jornal mais lido do Pará. O nome dele é Pablício Miranda, 44 anos, e que há dois anos e sete meses deixou Belém do Pará, cidade onde nasceu e se criou, para morar no distrito (no Brasil equivale a estado) do Porto.
Em Belém ele trabalhava como recepcionista e, ao chegar aqui, mudou também de profissão. E que reviravolta: mesmo sem experiência prévia, “se virou nos 30” e transformou-se em cozinheiro. Até aí nada de extraordinário. Muita gente acaba descobrindo talentos ocultos e isso quando menos se espera.
“A diferença é que eu não sabia nem fritar um ovo quando cheguei a Portugal”, confirma ele. A mudança de cidade, de país e de vida que ele experimentou é o espelho de muitos brasileiros, que diariamente desembarcam no país em busca de uma merecida vida melhor.
Casa nova, vida mala, malas desfeitas e então veio o primeiro choque: o frio do inverno. Acostumado ao calor de Belém, onde mesmo no inverno a temperatura dificilmente é menor que 22º C, Pablício encarou pela primeira vez termômetros negativos, em janeiro de 2023. “Para falar a verdade, não tive dificuldades com o português falado em Portugal, que muita gente estranha logo no começo, nem com a comida, que é saborosa. O que “pegou” mesmo foi o frio e confesso que ainda hoje não me acostumei com isso”.
Miranda logo arranjou um emprego na restauração, como aqui é chamado o setor de restaurantes. Trabalha em uma cozinha no município de Matosinhos e mora na cidade da Maia, ambos no Porto. Na mesma empresa, o enteado, também nascido em Belém, labuta como garçom. A adaptação foi rápida e, para quem não sabia fritar ovo, hoje ele é um cozinheiro de mão cheia. Não reclama do trabalho, mas faz um ressalva: “O ruim são os horários partidos”.
Ele mesmo explica: a jornada não começa muito cedo, pois o início do expediente é às 11h. Depois disso há um intervalo entre 15h e 19h. O segundo tempo vai até 23h. Ele tem uma folga por semana. A correria é árdua mas ele não se arrepende. Cálculos feitos na ponta da caneta, ele se considera em boa situação e estabilizado em Portugal. “Só não esqueço, é claro, da minha Belém do Pará”, acrescenta Pablício.
Ela traria o “Veropa” para Portugal
Também nascida em Belém, Cárita Santos chegou ao Porto há sete anos mas, devido a problemas particulares, não mais voltou à capital do Pará desde então. A saudade é grande mas ela a ameniza preparando pratos como frango no tucupi, dançando e ouvido carimbó.
Cárita é casada com um português, desde 2018, também é cozinheira e mora no Porto. “O que mais sinto falta é do calor humano do meu Pará. Se pudesse, traria o Ver-o-Peso para Portugal”, finaliza ela.
*Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Foi repórter e editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.