Mais da metade dos trabalhadores brasileiros não conseguem chegar ao final do mês com o salário na conta. É o que diz a pesquisa de Saúde Financeira e Bem-Estar do Trabalhador Brasileiro 2025, organizada pela SalaryFits, da Serasa Experian, que aponta que 54% dos trabalhadores de carteira assinada ou que atuam como Pessoa Jurídica (PJ) se encontram nesta situação. Em Belém, jovens e autônomos estão entre os que mais têm dificuldade em organizar as finanças mensais e, como consequência, estão endividados.
Apesar do resultado, o percentual registrou melhora em relação a 2024, quando 62% estavam enquadrados neste cenário. Dessa forma, a pesquisa demonstra a subida de oito pontos percentuais em doze meses, de 38% para 46%, em relação àqueles que conseguem manter o salário até o fim do mês. Os dados ainda apontam que somente dois em cada dez entrevistados têm controle financeiro. Entre os que afirmam menor controle estão pessoas da Geração Z (entre 14 a 27 anos), da classe C, trabalhadores PJ e aqueles que atuam em pequenas empresas.
O levantamento ainda aponta que, frente a uma situação inesperada, somente uma em cada quatro pessoas conseguiria custear uma despesa de R$10 mil, problema ocasionado pela dificuldade em formar reserva de emergência, fazendo com que mais pessoas se aproximem do endividamento.
INADIMPLÊNCIA
Aos 26 anos, o ambulante Moisés Macêdo é um dos jovens brasileiros endividados. Há dois anos, o trabalhador ganhou bastante dinheiro com vendas, mas, por falta de conhecimento, gastou tudo em investimentos equivocados, sem levar em consideração os gastos fixos mensais, como aluguel, contas de água e luz, financiamento e até alimentação. De dívida em dívida, os boletos chegavam todos juntos, formando uma grande bola de neve, o que fez com que ele perdesse o controle financeiro e ficasse com o nome sujo na praça.
Para sair da inadimplência, atualmente, ele tem tentado se organizar financeiramente para quitar as dívidas progressivamente. “Eu estou tentando voltar para os trilhos. Eu fiz um plano, chamado “voltar para os trilhos”. Nesse plano, eu vou tentando fazer o que dava certo antes de eu me endividar, e eu to começando a andar. Eu peguei esse baque de dois anos atrás que ainda não me recuperei, mas já tá dando certo de novo. Antes eu tava com pouca mercadoria, só com um funcionário, agora eu já tenho três, já aumentei o números de pontos e por aí vai. Pago a dívida que dá, intercalo com as mais necessárias, os custos essenciais, vou empurrando aqui e ali até pagar, que é o mais importante. O negócio é pagar”, disse o vendedor de acessórios para celular.
Atendente em uma loja do comércio, Deisy Gomes, 27 anos, está endividada desde o ano passado. Segundo ela, a falta de educação financeira pesou na hora de conciliar entre o orçamento e os gastos mensais. Com um salário fixo, a comerciante conta que ultrapassou o limite do cartão sem ter noção de quanto poderia pagar no início do mês seguinte. Assim, em pouco tempo, ela se viu com uma dívida grande, impossibilitada de usar o crédito e investir a longo prazo.
“A gente acaba comprando e não tendo noção do que ganha do mês, acaba ultrapassando o que ganha. É preciso ter bastante atenção nisso. Se você ganha um valor fixo, não precisa gastar mais do que isso. Isso foi o que aconteceu comigo, acabei gastando fora do normal e ultrapassou do valor que eu geralmente recebo no final do mês. Hoje estou com o nome sujo, já fiz a negociação com o Serasa e tenho tentando separar um dinheiro por mês para sair dessa situação. As consequências são muitas, você não consegue ter um nome limpo para tirar algo que realmente precisa, por exemplo”, disse a trabalhadora.
A inadimplência também já foi realidade na vida da manicure Fabrícia Silva. Hoje, aos 30 anos, ela lembra que quando era mais nova chegou a se endividar, na época que começou a trabalhar. Com as contas chegando uma atrás da outra, a dificuldade estava em administrar o ganho dos gastos, tendo se rendido ao atraente limite de crédito. Segundo ela, limpar o nome foi uma tarefa bem difícil, já que teve que abrir mão de muita coisa para colocar as contas em ordem.
Por isso, atualmente, Fabrícia tem controle total do orçamento e dos gastos mensais para não cair na mesma armadilha. “Primeiramente, eu me planejo, vejo o que dá e o que não dá para comprar. Porque na hora de comprar, a gente tem muito limite, mas na hora de pagar não é tão fácil assim. A gente não pode gastar além do que recebe. Acho que hoje as pessoas se empolgam muito com o limite que tem no cartão e acaba se endividando. Tu tens que ter o que tu ganhas e o que tu gastas bem definido para não cair nessa armadilha. Já fiquei inadimplente uma vez e sei o quanto é difícil”, relembrou.