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OMS lança guia para enfrentar calor extremo no trabalho

Nesta sexta-feira (22), junto com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a entidade lançou um manual para enfrentar o problema.

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Quando se trata dos efeitos causados pela crise climática, os impactos na sensação térmica sentida pela população é apenas uma entre tantas consequências.
Foto: Celso Rodrigues

“É adaptar-se ou morrer.” O diretor de serviços da OMM (Organização Meteorológica Mundial). Johan Stander não falava da crise climática, mas de um dos tantos efeitos deletérios que causa no planeta, as condições insalubres de trabalho. Nesta sexta-feira (22), junto com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a entidade lançou um manual para enfrentar o problema.

O compêndio atualiza uma versão de 1969, quando o aquecimento global talvez fosse apenas uma teoria futurística e altas temperaturas, algo que afetava apenas locais de trabalho localizados nos trópicos. A mudança climática, provocada sobretudo pela queima de combustíveis fósseis, ampliou e distribuiu o problema.

Em julho, quem suava, por exemplo, eram trabalhadores de saúde em países escandinavos, submetidos neste ano a uma onda de calor excepcional. Com os termômetros por dias acima de 30 graus, um hospital de Oslo dava banho gelado em parturientes; a instituição de 180 anos não tem ar condicionado nas alas mais antigas do prédio. Situação ruim para pacientes e também insalubre para quem trabalha.

“Há uma ideia generalizada de que quem sofre com o calor é agricultor, trabalhador da construção civil ou de turismo, atividades em geral externas. Mas a mudança climática atinge a todos, inclusive quem está trabalhando em prédios, muitas vezes inadequados ou não climatizados”, lembrou Joaquim Pintado Nunes, chefe de Segurança Ocupacional da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Estudo da entidade, anterior à elaboração do manual da OMS, estima que 2,4 bilhões de trabalhadores estão submetidos atualmente ao calor excessivo, causando quase 23 milhões de acidentes ocupacionais a cada ano. Não é uma questão de saúde apenas, mas econômica. O trabalho sob condições extremas mina a produtividade em 2% a 3% para cada grau acima de 20°C, indica o novo compêndio em suas conclusões.

O relatório estimula empregadores a investirem na mitigação do problema não é apenas por consciência social ou ambiental. “Para cada dólar usado em adaptação há retorno comprovado do mesmo dólar acrescido de um ou dois centavos”, afirmou Andres Flouris, acadêmico grego responsável pela edição do manual.

“Grande parte dos que trabalham expostos ao calor está na economia informal. Por isso é importante também o envolvimento de governantes, para que políticas de proteção sejam estabelecidas também fora dos ambientes regulares de trabalho”, ponderou Ivan Ivanov, líder de Saúde Ocupacional da OMS, usando como exemplo a Tanzânia, local de onde falava durante o lançamento do manual.

Uma das recomendações do guia é justamente focar as populações vulneráveis, com especial atenção aos mais velhos e portadores de doenças crônicas; quem está fora de forma também está mais sujeito ao problema. “O estresse térmico já prejudica a saúde e os meios de subsistência de bilhões de trabalhadores, especialmente nas comunidades mais vulneráveis”, afirmou Jeremy Farrar, diretor-geral adjunto da OMS.

A leitura do manual traz muitas informações. A partir de 38 graus o corpo humano começa a entrar em estresse térmico; a temperatura não é a única variável a ser observada, pois umidade, qualidade e circulação do ar também determinam a salubridade do ambiente.

Os principais riscos à saúde relacionados ao calor incluem insolação, desidratação, disfunção renal e distúrbios neurológicos, todos prejudiciais à saúde a longo prazo e à segurança econômica; aproximadamente metade da população mundial sofre consequências adversas das altas temperaturas; é urgente a implementação de planos de ação contra o calor no trabalho, adaptados a cada setor e região, elaborados conjuntamente por empregadores, trabalhadores, sindicatos e especialistas em saúde pública.

“Trabalhar sob calor intenso não é apenas desconfortável. Pode ser também perigoso e, às vezes, fatal”, disse Rüdiger Krech, diretor de Ambiente, Saúde Urbana e Clima da OMS.

A OMM lembra que o ano de 2024 foi o mais quente da história e que 2025 já registra seus recordes negativos, como a maior área queimada por incêndios florestais na Europa desde que os registros começaram. Adaptação é um imperativo.

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE