
O relatório apresentado pela Polícia Federal (PF) com o indiciamento de Jair Bolsonaro e de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), revela um cenário de divisão interna entre os aliados do ex-presidente e uma série de tentativas de driblar as investigações sobre a tentativa de golpe. A PF conseguiu recuperar um mês de conversas do celular de Bolsonaro no período entre 13 de junho e 17 de julho.
Entre as mensagens interceptadas pela Polícia Federal consta um diálogo em que Eduardo perde a paciência com Bolsonaro, após o ex-presidente chamá-lo de “imaturo”. O deputado se mudou para os Estados Unidos, onde atua junto ao governo americano para aplicar sanções ao Brasil.
“Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graça aos elogios que você fez a mim no Poder360, estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende. VTNC, SEU INGRATO DO CARALHO”, escreveu Eduardo em 15 de julho.
Na ocasião, o filho de ex-presidente criticava publicamente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tentava negociar uma solução para o tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Na tarde do mesmo dia, Eduardo reclama que, “se o imaturo do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, porque você me joga para baixo, quem vai se fuder é você e vai decretar o resto da minha vida nesta porra aqui”. E finaliza:”Tenha responsabilidade!”.
As conversas entre Bolsonaro e Eduardo mostram irritação do deputado com o governador de São Paulo. Em uma das mensagens, ele criticou a especulação sobre a candidatura presidencial de Tarcísio no ano que vem. Ao ex-presidente, o deputado disse que era preciso “segurar” essa “narrativa” para que eles se mantivessem “vivos”. O governador é o mais cotado para suceder Bolsonaro nas eleições de 2026, embora Eduardo também se apresente para a disputa. “Só para te deixar ciente: Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se fuder e se aquecendo para 2026”, disse Eduardo.
Nos diálogos entre Bolsonaro e o pastor Silas Malafaias, o alvo é Eduardo. Segundo Malafaia, as articulações do deputado nos Estados Unidos eram prejudiciais para o ex-presidente. O pastor chamou Eduardo de “babaca”, “idiota”, e “estúpido de marca maior”, por, segundo ele, dar discurso para o presidente Lula.
“DESCULPA PRESIDENTE! Esse seu filho Eduardo é um babaca, inexperiente que está dando a Lula e a esquerda o discurso nacionalista e ao mesmo tempo te ferrando. Um estúpido de marca maior”, escreveu Malafaia a Bolsonaro, em mensagem do dia 11 de julho, dois dias após Trump anunciar a imposição de tarifas aos produtos brasileiros.
Em outro ponto dos diálogos divulgados, Bolsonaro pede que Eduardo não faça críticas ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). “Esqueça qualquer crítica ao Gilmar. Tenho conversado com alguns (ministros) do STF. Todos ou quase todos, demonstram preocupação com sanções”, escreveu o ex-presidente ao filho no dia 27 de junho, quando o governo dos EUA já ameaçava com sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, relator no processo da trana golpista.
Texto de: Dimitrius Dantas, Daniel Gullino e Eduardo Gonçalves