
A preparação de Belém para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) tem sido um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, oportunidades da história recente do Pará. Durante entrevista concedida na manhã desta quarta-feira (20) à Rádio Clube FM 106.9, em conversa com o apresentador Valmir Rodrigues no programa Show da Manhã, a vice-governadora do Estado, Hana Ghassan, reforçou que o evento não se resume a 15 dias de debates ambientais, mas a um “legado de transformação para o povo paraense”.
Obras de mobilidade urbana, expansão da rede de hospedagem, programas de capacitação profissional e iniciativas sociais compõem o pacote de medidas que o governo estadual vem implementando. A questão da hospedagem, que gerou polêmica por supostos preços abusivos, está sendo acompanhada de perto pelo governo.
Hana explicou que “em toda COP, existe uma alteração nos preços normais; isso acontece em função da oferta e da procura. ‘Se você vai a um hotel num dia comum é um preço, quando você vai para um final de semana, como por exemplo no Ano Novo, em qualquer lugar do mundo, é outro preço”, contudo, “é claro que em alguns casos há abuso na cobrança do valor do aluguel, mas isso tá sendo coibido”, afirmou.
A partir deste tema, o Estado além de estudar as 10 últimas COPs, se antecipou para ampliar a rede hoteleira e firmar parcerias com plataformas como Booking e Airbnb. “Quando a gente começou o trabalho visando receber esse grande evento, nós tínhamos um desafio que era aumentar o número de quartos de hospedagem. E nós conseguimos. Hoje, só na Região Metropolitana de Belém, já temos mais de 50 mil leitos disponíveis”, disse.
Ela lembrou que, em 2023, a taxa de ocupação turística era de apenas de 60% durante a semana e nos finais de semana as taxas eram baixas. Atualmente, há uma taxa de ocupação de 85% diante de tantos eventos que estão acontecendo em Belém. Ainda, Hana trouxe à tona que muitos questionamentos sobre a capacidade de Belém foram movidos por preconceito. “Acredito muito que isso também tem a ver não apenas com o preconceito que a gente sofre por ser nortista e amazônida, mas também por interesses econômicos. Quem fala mal de Belém é porque nunca veio a Belém. E nós vamos mostrar para o mundo que sabemos receber, porque temos um povo que adora acolher”, ressaltou.
Legado da COP 30 para o Pará
Entre os legados estruturais, Hana destacou os nove viadutos já entregues, além de obras de saneamento, asfaltamento e dragagem de canais, que reduziram alagamentos em bairros da capital. “O maior legado é a população viver melhor. São obras para o dia a dia da nossa gente. Mais de 100 ruas já foram asfaltadas, canais foram revitalizados e a cidade está em constante transformação. Tudo isso vai ficar para depois da COP, não tem elefante branco”, pontuou.
Os programas sociais que vêm sendo fortalecidos no Pará também foram pontos abordados. Um dos exemplos é o “Por Todas Elas”, iniciativa itinerante que oferece serviços de saúde, cidadania, microcrédito e atividades de autoestima para mulheres em situação de vulnerabilidade. “As mulheres cuidam de todo mundo, mas muitas vezes não têm tempo para elas mesmas. Esse programa é para dizer: hoje é o seu dia. Nós levamos exames, atendimentos e até embelezamento, porque a mulher precisa estar fortalecida”, explicou.
Na área da segurança, Hana ressaltou o uso da tecnologia para combater a violência contra a mulher, com a criação da Delegacia Virtual da Mulher e a instalação de totens de denúncia em espaços estratégicos, como também no Hospital da Mulher.
A ampliação das chamadas Usinas da Paz, que oferecem atendimento integral às famílias e, especialmente, também atendem às mulheres vítimas de violência. “Então, a você, mulher, que está nos ouvindo, saiba que hoje nós nos preocupamos muito em trabalhar através das Usinas, que é você acolher a família como todo e, agora, esses mesmos totens estão sendo instalados também nas Usinas para que a mulher possa, ao levar o filho, ir no totem, converse com a nossa assistente social, se acostume, até ter a coragem necessária para mudar esse ciclo de violência na sua vida”, pontuou.
“Você já viu combater a violência sem um único tiro? É o que eu digo”, abordou Hana ao explicar o que é a Usina da Paz, “implantada nos territórios com maior índices de violência; é um projeto exitoso, um projeto que é nosso, paraense, que é exemplo para o Brasil todo. Tem cursos de capacitação, atendimento médico, odontológico, tem todo tipo de esporte, porque a gente sabe que o esporte salva muitas vidas”.
Outro destaque foi a Carteira Nacional de Habilitação Pai D’égua (CNH Pai D’égua), que garante acesso gratuito ao documento para pessoas inscritas no Cadastro Único. “Hoje, tirar uma carteira pode custar até R$5 mil. Com o programa, já estamos dando dignidade e oportunidade para milhares de paraenses, inclusive com edições especiais voltadas para mães atípicas”, comentou. Com a movimentação durante a COP, quem adquiriu a CNH também vai poder atuar de forma autônoma, por exemplo. “Vai vir gente do mundo todo e a gente quer que essa mão de obra seja aproveitada”, continuou Hana.

Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura
Em relação ao desenvolvimento econômico e à infraestrutura, Ghassan destacou a importância de estradas, pavimentação e investimentos estratégicos. “O Estado do Pará é o terceiro Estado com maior perspectiva de crescimento de todo o Brasil, nós estamos falando de investimentos, investimentos que são importantes para que a gente possa produzir. Somos um estado que tem vocação para a produção e para que essa produção possa chegar nos grandes centros consumidores, é preciso investir também em infraestrutura”, ponderou.
Ao mesmo tempo que há investimentos em saúde, educação, também se investe em em infraestrutura, em estradas, pavimentação. “As estradas são muito importantes para que o produto possa chegar com um preço melhor, para que o frete possa baratear. Para além dos benefícios, claro, de você preparar uma estrada para que a população possa transitar, para que ela possa ter melhor serviço de atendimento de saúde, para que seu filho chegue na escola através do transporte escolar”.
Sobre sustentabilidade, a vice-governadora afirmou: “nós sempre, em qualquer obra de grande porte, para ela ser feita, precisamos de licença e requer sempre um estudo ambiental. O governo do Estado está alinhado a um desenvolvimento sustentável. Nós temos demonstrado na prática que é possível sim produzir com sustentabilidade, pensar no meio ambiente, na preservação, mas sempre pensando nas pessoas que aqui vivem, que precisam de sustento e dignidade”.
A educação também ganhou destaque, com a ampliação do programa Creche por Todo Pará. “É um programa que tem a meta de construir uma creche do governo do Estado em cada cidade paraense. Nós avançamos. São 200 crianças beneficiadas em Curuçá, e cada creche pode abrigar até 350 crianças. Nós seguiremos construindo creches em cada município deste Estado, cuidando da primeira infância, para que pais e mães tenham um local seguro e para que a criança tenha pleno desenvolvimento”.
A vice-governadora reforçou, ainda, que a COP 30 será uma oportunidade única para a Amazônia mostrar ao mundo sua força, sua cultura e sua gente. “Eu defendo com todas as minhas forças que vai ser a melhor COP de todos os tempos, porque será uma COP de verdade. A cidade, ela tá se melhorando a cada dia, são muito muitas obras que já foram entregues e aqui são obras para nossa população”.