CONFISSÃO

Empresário confessa que matou gari e diz que pegou arma da mulher sem ela saber

 O empresário René Nogueira Júnior confessou ter matado o gari Laudemir Fernandes na semana passada, em Belo Horizonte (MG)

O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, é o principal suspeito de ter matado o gari Laudemir de Souza Fernandes
O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, é o principal suspeito de ter matado o gari Laudemir de Souza Fernandes. Foto: Redes sociais

 O empresário René Nogueira Júnior confessou ter matado o gari Laudemir Fernandes na semana passada, em Belo Horizonte (MG). Ele foi ouvido novamente nesta segunda-feira pelos investigadores do caso e isentou a mulher, a delegada Ana Paula Balbino, de qualquer envolvimento no delito. A informação foi confirmada pela Polícia Civil do estado.

No interrogatório, colhido na sede do Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), René disse que atirou no gari “em razão de uma discussão de trânsito” e que a sua mulher “não tinha conhecimento que ele havia se apoderado da arma particular da delegada, uma pistola, calibre .380”.

Advogados do empresário, Leonardo Guimarães Salles, Leandro Guimarães Salles e Henrique Viana Pereira optaram por deixar a defesa no mesmo dia do novo interrogatório. Em nota, Leonardo alegou “motivo de foro íntimo” e disse que deixou o caso após uma “conversa reservada” com o cliente.

Segundo as investigações, o suspeito disparou contra o gari depois de se deparar com o trabalho dos profissionais no bairro Vista Alegre e se irritar por não conseguir passar com o carro. Testemunhas disseram que ele ameaçou a motorista do caminhão de lixo antes de sacar a arma e abrir fogo. René Nogueira negava, até então, ter matado a vítima.

Na última sexta, uma perícia confirmou que a arma usada no crime pertencia à delegada Ana Paula. Em depoimento, a servidora afirmou não saber que o marido utilizava sua pistola. A Corregedoria da Polícia Civil do estado abriu um procedimento um procedimento disciplinar e um inquérito policial para apurar a conduta de Ana Paula. Ela não foi afastada do cargo, ante a ausência de indícios de participação do crime.

Já o empresário pode responder pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, porte ilegal de arma e ameaça.

O Ministério Público de Minas Gerais pediu o bloqueio de bens no valor de R$ 3 milhões de Renê e Ana Paula. A medida havia sido requerida pelos advogados que representam a família de Laudemir, como forma de garantir uma eventual reparação pelo caso.

Na petição em que requereu o bloqueio de bens, o advogado da família de Laudemir, Tiago Lenoir, justificou que o acusado foi reconhecido pelos colegas do gari e apresentou, antes da confissão, uma narrativa “contraditória e incompatível” com as provas. Lenoir destacou que o delito demonstrou “extrema periculosidade do agente” e prejudicou também o sustento dos parentes da vítima.

“A vítima era chefe de família e único provedor de uma menor, hoje órfã de pai; os danos materiais (perda de rendimento, despesas médicas e funeral) e morais são inegáveis”, disse o advogado. “Os investigados são pessoas de elevada condição socioeconômica: Renê é diretor de empresa e proprietário de veículo de alto valor; Ana Paula é delegada de polícia. Cientes da investigação, podem dilapidar ou ocultar patrimônio para frustrar a indenização. A indisponibilidade de bens é medida indispensável para garantir a efetividade da futura prestação jurisdicional, evitando a irreparabilidade do dano”.

Lenoir pediu que a Justiça decrete medida cautelar de indisponibilidade de “todos os bens móveis e imóveis, veículos, ativos financeiros, participações societárias e investimentos”, com ofícios a órgãos para evitar a venda de bens.

O caso aconteceu nesta segunda-feira da semana passada em Vista Alegre, no Oeste da capital mineira. O boletim de ocorrência aponta que René dirigia um carro da marca BYD quando, por volta das 9h, se aproximou de um caminhão de lixo, que vinha na direção contrária. O motorista do veículo teria ameaçado a condutora do caminhão e dito que iria “atirar na cara dela”, caso não desse passagem. Na sequência, ele teria disparado contra os garis e atingido Laudemir.

Por meio de câmeras de segurança, os policiais conseguiram identificar a marca, o modelo e as iniciais da placa do veículo utilizado. A motorista do caminhão de lixo que trabalhava na hora do crime com Laudemir forneceu mais uma letra e os dois últimos números da placa, o que permitiu a identificação do carro.

“Em posse das características do autor e da placa do veículo, iniciou-se um intenso rastreamento. O veículo foi localizado trafegando na Avenida Raja Gabaglia, sendo o condutor, um homem claro, alto e forte, compatível com a descrição do autor do disparo. A abordagem ocorreu no estacionamento de uma academia na mesma avenida”, disse o juiz.

A mulher do suspeito compareceu ao local da abordagem, se identificou como delegada e autorizou buscas no veículo. Nada de ilícito foi encontrado, na ocasião. As testemunhas disseram aos policiais que o autor do crime se irritou “com a retenção do trânsito” e passou a fazer ameaças. Ele deixou o carregador cair e o recolocou na arma, o que gerou a ejeção de uma munição intacta, antes de atirar no gari.

As testemunhas afirmaram que não houve discussão e que apenas tentavam auxiliar o autor a passar com seu veículo.

“O crime foi cometido em plena luz do dia, por motivo fútil, uma aparente irritação decorrente de uma breve interrupção no trânsito causada por um caminhão de coleta de lixo. A desproporcionalidade e a frieza da ação, na qual o autuado, após uma breve discussão, deliberadamente sacou uma arma de fogo, a preparou para o disparo e atirou contra um trabalhador que exercia seu ofício, uma atividade pública essencial de limpeza da cidade, demonstram uma periculosidade acentuada e um total desrespeito pela vida humana. Tal conduta abala profundamente a tranquilidade social e gera um sentimento de insegurança na comunidade, indicando que a liberdade do autuado, neste momento, representa um risco real à ordem pública”, destacou o juiz, sobre a necessidade de manter a prisão.

Texto de: Júlia Cople