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Bate-boca marcou primeira reunião de Zelenski e Trump na Casa Branca

Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, se reunirão nesta segunda-feira (18).

Imagem: Divulgação/Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia
Imagem: Divulgação/Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia

Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, se reunirão nesta segunda-feira (18) na Casa Branca, após a mais recente investida do americano em contribuir para o fim da guerra entre Kiev e Moscou.

Depois de promover um encontro com seu homólogo russo, Vladimir Putin, no Alasca, Trump convidou o presidente ucraniano para o que será a segunda visita de Zelenski à Casa Branca neste mandato republicano. Na primeira ocasião, em fevereiro deste ano, os líderes protagonizaram um bate-boca histórico em frente à imprensa.

Em uma cena nunca vista em público no Salão Oval da Casa Branca, Trump e Zelenski discutiram rispidamente sobre os rumos da Guerra da Ucrânia, levando o visitante a deixar o encontro sem a prevista entrevista coletiva, e causando reações preocupadas de líderes mundiais.

“Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz”, escreveu na rede Truth Social Trump enquanto Zelenski ainda estava na sede do governo, onde ficou apenas 2h20 naquela ocasião. Segundo funcionários da Casa Branca vazaram à imprensa americana logo após o encontro, Trump ordenou a saída do colega.

Ao vivo, o americano ameaçou o ucraniano, dizendo que os EUA “estariam fora” se ele não aceitasse uma trégua com Putin, que invadiu o vizinho há três anos.

O encontro foi um desastre de grandes proporções para Kiev e, à época, jogou fora o esforço de líderes europeus de aproximar os presidentes dias antes de se encontrarem, naquele momento, Trump havia chamado Zelenski de ditador.

Desde aquele momento, em fevereiro, o republicano corroborou sua posição de alinhamento à visão de Putin sobre o conflito. Zelenski, por outro lado, chegou com sangue nos olhos ao começo da reunião, que foi aberta à imprensa. “Você disse que chega de guerra. Eu acho que é muito importante dizer essas palavras para Putin lá no começo, porque ele é um assassino e um terrorista”, disparou o ucraniano em sua introdução.

“Eu sou a favor da Ucrânia e da Rússia”, disse um assustado Trump, que depois foi ao ataque, dizendo que Zelenski estava “jogando com a Terceira Guerra Mundial” ao buscar opor os EUA e o Ocidente à Rússia. “O que você está dizendo é desrespeitoso com esse país”, afirmou, com dedo em riste.

A temperatura subiu ainda mais com a intervenção do vice de Trump, J. D. Vance, que cobrou o visitante: “Você já disse obrigado?”. “Eu acho desrespeitoso você vir aqui no Salão Oval e dizer essas coisas em frente à mídia americana”, completou. A embaixadora ucraniana nos EUA, Oksana Markarova, afundou a cabeça entre as mãos na plateia.

“O seu país está em apuros. Você não está ganhando”, disse Trump. “Nós demos US$ 350 bilhões a vocês, se vocês não tivessem nosso material militar, teriam perdido em duas semanas. Vocês têm de mostrar gratidão”, afirmou Trump, cobrando um cessar-fogo e exagerando em três vezes o apoio dado pelos EUA a Kiev.

O americano afirmou: “Eu empoderei você para ser um valentão, mas você não acha que pode ser um valentão sem os EUA”. “Seu povo é muito corajoso, mas você ou fará um acordo ou nós estamos fora. E se nós estivermos fora, você vai perder”, disse.

Na fala inicial, Zelenski buscou explicitar seus pontos. “Putin começou essa guerra. Ele tem de pagar”, afirmou, retrucando a afirmação de Trump anterior de que Kiev iniciou o conflito ao buscar ingressar na aliança militar ocidental, a Otan, uma linha vermelha geopolítica para o Kremlin.

“Queremos saber o que os EUA estão dispostos a fazer”, disse. Trump foi evasivo, dizendo que “não é alinhado a Putin, e sim aos interesses dos Estados Unidos e do bem do mundo”. Ele não se encontrava pessoalmente com Zelenski desde dezembro, quando ainda era apenas presidente eleito.

Ao mesmo tempo, o americano sinalizou manter a proximidade que deseja com o russo, dizendo que “Putin quer o acordo” de paz. Depois, o clima desandou de vez.

A reunião de fevereiro foi marcada após o tumulto geopolítico causado por Trump naquele momento, que ligou para Putin e iniciou negociações bilaterais sobre a Guerra da Ucrânia e a normalização da relação entre Rússia e EUA, invertendo o sinal da política americana para a crise ainda em seu primeiro mês de mandato.

Nas duas semanas que antecederam o encontro com Zelenski, russos e americanos se encontraram duas vezes ao vivo, Trump chamou o ucraniano de ditador sem eleições e o considerou dispensável por atrapalhar acordos, além de pressionar pelo acordo de exploração mineral sem embutir garantias de segurança pós-trégua a Kiev.

Agora, no encontro desta segunda (18), os líderes serão acompanhados por diversas autoridades europeias que, no geral, pretendem “representar uma frente unida da Ucrânia com seus aliados europeus”, afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron.

A expectativa é que, mesmo com Trump mais alinhado à visão russa de fim do conflito, ambos negociem o que seria um acordo de paz duradouro, e não um cessar-fogo imediato, segundo o americano.