VIAGEM

Procura de brasileiros por intercâmbio nos EUA ainda é alta

Mesmo com o governo americano tornando a emissão de vistos mais rigorosa, inclusive com avaliação de redes sociais, quem trabalha com viagens educacionais diz que país ainda é muito visado por estudantes

Embaixada americana atualizou critérios para quem vai viajar ao país FOTO: Freepik
Embaixada americana atualizou critérios para quem vai viajar ao país FOTO: Freepik

O anúncio feito pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil de mudanças nas regras para emissão de visto para estudantes e intercambistas causou uma atenção inicial por parte de brasileiros que têm planos de aprender ou aperfeiçoar os conhecimentos em língua inglesa. Mas, passado pouco mais de um mês desde a divulgação de mudança, as agências de intercâmbio relatam que a procura por cursos em instituições norte-americanas não foi afetada.

Informações disponíveis no site oficial da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil apontam que “com efeito imediato, todas as pessoas que solicitarem um visto de não imigrante das categorias F, M ou J devem ajustar as configurações de privacidade de todas as suas contas de redes sociais para ‘públicas’, a fim de facilitar a verificação necessária para estabelecer sua identidade e elegibilidade para entrada nos Estados Unidos, conforme a legislação norte-americana”.

A previsão de consulta às redes sociais é mais um entre os critérios que precisam ser atendidos por quem pleiteia um visto de entrada nos Estados Unidos. No caso dos vistos citados pela embaixada, o visto do tipo F é destinado a quem pretende entrar no país para estudar em uma universidade ou escola, já o visto do tipo M é para estudantes de instituições vocacionais ou não acadêmicas e o visto J é para estudantes de intercâmbio.

Impacto das mudanças nos intercâmbios

O presidente da Associação Brasileira de Viagens Educacionais e Linguísticas (Belta), Alexandre Argenta, afirma que, apesar de uma preocupação inicial causada pelo anúncio de mudanças, as taxas de aprovação de vistos para brasileiros continuam altas. “As mudanças anunciadas pelos Estados Unidos geraram um momento inicial de atenção e ajustes nos planos de alguns estudantes. O Canadá ocupa, atualmente, a primeira posição entre os destinos mais procurados, mas os EUA seguem como uma referência importante para cursos de inglês e ensino superior”, considera. “Vale lembrar que muitos brasileiros optam por cursos de curta duração, como summer camps, que podem ser realizados com visto de turista. As taxas de aprovação seguem altas e, com planejamento e orientação adequados, estudantes continuam concretizando seus projetos de intercâmbio no país”.

Alexandre aponta que o Brasil é um dos países com as maiores taxas de aprovação de vistos, não só dos Estados Unidos, mas de todos os países que os exigem. E, segundo ele, esse cenário se mantém. “Não temos mais vistos negados que antes, embora alguns processos, dependendo do consulado e do caso específico, tenham demorado um pouco mais. Isso pode estar causando alguma apreensão nas pessoas. Afinal, as pessoas buscam segurança para ir para o exterior”, aponta, ao destacar que existem alternativas para brasileiros que desejam estudar inglês em outros países, que não os EUA. “O Canadá lidera a preferência, oferecendo qualidade acadêmica, segurança e possibilidade de trabalho. Irlanda e Malta crescem muito, com bom custo-benefício e regras de visto mais flexíveis”.

Gestora da STB Belém, agência especializada em educação internacional, Márcia Rath também aponta que a demanda não mudou. “Com relação a essa questão de alteração de visto, não teve mudança, não teve nada diferente para nós com relação à procura mesmo. Continua em alta, os Estados Unidos são um país sempre queridinho para quem está buscando intercâmbio, às vezes até pela primeira vez”, afirma. “O que muda, na realidade, e a gente faz todo esse acompanhamento com os alunos, é a explicação dessa seleção que se tornou um pouquinho mais rigorosa pela embaixada. O governo americano passou a exigir algumas coisas como, por exemplo, o desbloqueio das redes sociais”.

Com a mudança, Márcia explica que no momento que o aluno vai para entrevista, seja de visto de estudante, seja de visto de turismo – já que alguns cursos contemplam o uso do visto de turismo – ele já vai orientado sobre as demandas necessárias para a emissão do documento. “Ele sai daqui com toda a documentação dele e com a orientação do desbloqueio das redes sociais também. E aí é saber que ele vai ter essa pesquisa por parte do consulado, por parte da embaixada, para ver a realidade dele, e não só mais aquela questão de imposto de renda, da conta bancária, daqueles documentos que já eram exigidos anteriormente”.

Márcia avalia que este é mais um critério que precisa ser considerado pelos estudantes no momento de solicitar o visto aos EUA, mas acredita que com a orientação adequada é possível se adequar a essa nova realidade. “Especialmente para a matrícula dos estudantes, eles levam para a entrevista toda a documentação, tudo o que é exigido por parte educacional, a gente orienta o aluno para que ele possa sair bem instruído. Às vezes a gente recebe alunos que já tiveram negativa de visto, por algum motivo, e eles dizem: ‘Ah, eu não tive essa orientação’. Então, a gente procura dar a atenção certinha para que ele não tenha nenhum tipo de problema”.

Programas e destinos

Entre as instituições norte-americanas, a gestora explica que há programas voltados para crianças a partir de 4 anos de idade, no Programa Família – quando o pai ou a mãe, ou ambos, também vão ao país estudando. “A gente também tem alta demanda para cursos de idiomas, que são aqueles que querem melhorar o inglês ou que querem aprender, quando é a primeira viagem; para programas para o ensino médio; para programas de verão, que a gente chama de free college, para aquele aluno que está na dúvida do que vai fazer no vestibular, e que consegue fazer um programa de verão já inserido naquela universidade pra ele ter um gostinho dos cursos de graduação que ele pretende cursar”, elenca. “E também existe demanda para graduação e pós-graduação”.

Na agência de Belém, a maior procura é pelos programas de verão, que costumam ter alta demanda, e são voltados para adolescentes na faixa de 14 a 17 anos; além dos adolescentes de High School (que equivale ao ensino médio), também na faixa etária de 15 a 17 anos.

Mas para os estudantes e famílias que preferem evitar os Estados Unidos, Márcia aponta que há uma grande variedade de países em que é possível ter contato e exercitar a língua inglesa. “Tem um mundo inteiro para eles. Se quiserem algo muito diferente podem ir para Dubai, a gente tem uma demanda muito grande para o Reino Unido, inclusive na época do verão para as cidades litorâneas da Inglaterra; a gente tem muita procura para Malta e Austrália, que também é a queridinha”.

Independente do destino escolhido, ela orienta que os interessados comecem a se preparar com antecedência. Especialmente no caso de alunos de High School e universidades, a orientação é de que iniciem o processo com pelo menos 8 a 10 meses de antecedência do início do programa de intercâmbio.

Entenda as medidas

As mudanças nas regras para emissão de visto de entrada nos Estados Unidos para estudantes e intercambistas fazem parte de uma medida anunciada pelo Departamento de Estado dos EUA. Um telegrama emitido pelo órgão do governo norte-americano informou que passaria a ser realizada uma “verificação abrangente e completa” de todos os candidatos a estudantes e participantes de intercâmbio para identificar aqueles que “têm atitudes hostis” em relação aos cidadãos, cultura, governo, instituições ou princípios fundadores dos Estados Unidos.

Fonte: Agência Brasil.