
O influenciador digital Hytalo Santos, conhecido por seu estilo de vida luxuoso e por se autointitular “pai” de uma turma de crianças e adolescentes, se vê no centro de uma grave crise jurídica que envolve denúncias trabalhistas e suspeitas de exploração infantil. A situação ganhou novos capítulos nesta semana com a decisão da Justiça da Paraíba que determinou o bloqueio de seus perfis nas redes sociais e proibiu qualquer contato com menores de idade.

As denúncias contra o influenciador começaram a ganhar força no final de 2024, quando o Ministério Público da Paraíba abriu investigação para apurar suspeitas de exploração de menores que viviam em sua mansão. Agora, o caso ganhou novas dimensões com a revelação de que Hytalo Santos enfrenta nada menos que 13 processos trabalhistas movidos por ex-seguranças que atuaram em sua equipe entre 2023 e 2025.

Dois depoimentos em particular chamam atenção: os das ex-assistentes Larissa Araújo e Williana Lucena, que trabalharam diretamente com o influenciador e relatam condições de trabalho degradantes. Williana, que atuava como motorista e assistente pessoal sem contrato formal, conta que chegava a trabalhar até 18 horas por dia, muitas vezes sem intervalos adequados. O salário prometido de R$ 3 mil mensais nem sempre era pago em dia, e ela acumulou uma dívida de R$ 15 mil no cartão de crédito da mãe ao ser obrigada a bancar despesas do casal Hytalo e Euro.

O caso de Larissa Araújo é ainda mais grave. A ex-assessora, que recebia R$ 8 mil mensais para organizar a agenda do influenciador, relata ter sido submetida a humilhações constantes, incluindo ser chamada de “Isaura” – clara referência à escravidão. Além das jornadas exaustivas que chegavam a 14 horas diárias, Larissa teve que arcar com multas de trânsito geradas pelo uso que Hytalo fazia de carros alugados em seu nome, acumulando uma dívida de R$ 22 mil.
O aspecto mais preocupante desses relatos é a revelação de que ambas as ex-funcionárias foram coagidas a assinar termos de confidencialidade sob ameaça de multas pesadas caso quebrassem o silêncio sobre as condições de trabalho. Williana, em depoimento emocionado, confessou: “Aceitei o acordo porque não tinha comida em casa”. Larissa, por sua vez, foi pressionada a aceitar R$ 35 mil em troca de não processar o casal, justamente quando sua dívida no cartão de crédito atingia valores alarmantes.
Paralelamente às denúncias trabalhistas, a investigação sobre a possível exploração de menores avança. Relatos de pessoas próximas ao caso indicam práticas preocupantes na mansão do influenciador, como a privação de alimentos quando Hytalo não estava presente e a manipulação da frequência escolar das crianças para se adequar às gravações de conteúdo para as redes sociais. Há ainda suspeitas de que adolescentes sob sua guarda eram expostos a situações inadequadas, incluindo festas com álcool e estímulo a comportamentos sexualizados.
O Ministério Público do Trabalho já manifestou preocupação com os vínculos trabalhistas irregulares e a possibilidade de que os termos de confidencialidade tenham sido assinados sob coação. Enquanto isso, no Congresso Nacional, ganha força um projeto de lei para coibir a adultização infantil nas redes sociais, inspirado justamente neste caso.
Com os perfis nas redes sociais bloqueados por determinação judicial e uma série de processos correndo na Justiça, Hytalo Santos vê seu império digital desmoronar rapidamente. A próxima audiência trabalhista está marcada para setembro, quando será analisada a validade dos termos de confidencialidade que silenciaram as ex-funcionárias. Enquanto isso, o Ministério Público da Paraíba promete concluir até o final do mês as investigações sobre as denúncias de exploração de menores.
Até o fechamento desta reportagem, a defesa de Hytalo Santos não havia se manifestado sobre as acusações. As ex-funcionárias, agora livres dos termos que as silenciavam, preparam novos depoimentos que podem trazer à tona ainda mais detalhes sobre o funcionamento da mansão do influenciador e suas relações com os jovens que viviam sob sua guarda.