
Avanços tecnológicos nos exames de DNA permitiram a identificação de mais três vítimas do 11 de setembro de 2001, nos EUA, quase 24 anos depois dos atentados. O anúncio foi feito pela Prefeitura de Nova York na quinta-feira passada.
Vítimas identificadas são a 1.651ª, 1.652ª e 1.653ª, de um total de 2.753 mortos no ataque. Amostras de seu DNA foram coletadas nos escombros do World Trade Center. As pessoas são: Barbara Keating, de 72 anos: líder de uma igreja, estava em um avião que colidiu com uma das torres; Ryan Fitzgerald, de 26 anos: operador de moeda estrangeira na firma Fiduciary Trust Company International, no World Trade Center; e uma mulher não identificada a pedido a família.
Salto com a ciência deixou pilão para trás na busca pelo DNA. Quando as identificações começaram em 2001, legistas usaram um moedor com pilão para esmagar ossos antes de conseguir extrair o DNA. Mas os trabalhos em torno de identificar milhares de pessoas acabaram auxiliando no avanço da ciência.
Hoje, processo é feito com rolamento de esferas e vibrações ultrassônicas. Isso permite obter DNA de amostras mais difíceis. “Nos tornamos mais e mais bem-sucedidos em conseguir o código genético dos fragmentos de ossos”, comemorou Jason Graham, médico legista-chefe de Nova York, ao jornal The New York Times. Mesmo nos casos em que há menos restos mortais, os experts têm conseguido identificar as vítimas.
Especialistas trabalham com um banco de 22 mil partes de corpos não identificados encontrados nos escombros. A maioria dos exames feitos hoje utiliza fragmentos de ossos, segundo o médico legista. “Este é o mais complexo esforço de identificação forense com DNA da história e vem do maior extermínio em massa dos EUA”, comentou ao jornal.
22 vítimas já foram identificadas com as técnicas avançadas. Além das dificuldades de obter o material genético dos mortos, há ainda o processo nem sempre simples de obter amostras de DNA de seus familiares 24 anos depois.
A identificação de uma das vítimas divulgadas agora foi a partir dos fios de cabelo em uma escova encontrada nos escombros em 2001. Os especialistas do Instituto Médico Legal da cidade compararam o DNA com amostras coletadas do filho e da filha de Barbara, em um processo que levou três anos desde a possível associação da escova a ela até o resultado positivo. Ela já havia sido dada como morta no atentado após um pedaço de um de seus cartões bancários ter sido achado na época.
“Nós ouvimos de especialistas forenses há duas décadas: ‘De verdade, vocês não devem esperar nenhum DNA por causa do ato físico da própria explosão, por causa do calor'”, disse Paul Keating, filho da vítima, ao jornal The New York Times.
Antes de ser associada ao atentado, Barbara Keating chegou a ser homenageada pelo Senado de Massachusetts em 1991. Ela recebeu um prêmio que reconhecia suas contribuições ao estado durante sua vida, por um trabalho de décadas com organizações que ajudavam mães solo e pessoas com deficiências intelectuais.
Ela vivia em Palm Springs em 2001, onde liderava uma igreja. No entanto, costumava passar as férias de verão em Cape Cod, de onde retornava no voo 11 da American Airlines quando o ataque aconteceu. O filho, hoje com 61 anos, chegou a ver a colisão pela TV, sem saber que a mãe estava a bordo.
MUITAS PESSOAS AINDA NÃO FORAM IDENTIFICADAS
Cerca de 40% das vítimas do 11 de setembro permanecem não identificadas. Segundo a Prefeitura de Nova York, 1.100 pessoas aguardam uma possível (e remota possibilidade) de identificação. Entre os já identificados, mais de 90% dos resultados foram obtidos a partir de exame de DNA.
“Estamos falando de pessoas que fazem hora extra por nós 24 anos depois. Para mim, esta é a mais incrível parte. Você sabe que eles não vão parar até que tenham identificado cada pessoa”, disse Paul Keating.
Identificação é especialmente complexa porque muitas das vítimas tiveram seus restos mortais degradados nos escombros. Todo o processo de localização e remoção dos mortos levou meses, deixando menos DNA possível de ser extraído e analisado. Ryan Fitzgerald, por exemplo, só foi retirado do World Trade Center em 2002.