A presidência da COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas), cobrou união entre países e defendeu a importância de realizar a COP30 em Belém, o “coração da amazônia”, em carta publicada nesta terça-feira (12).
Esta foi a quinta edição do documento até aqui e teve como foco “aquelas pessoas historicamente marginalizadas, deslocadas ou silenciadas”, para as quais o evento “deve ser o momento da virada para que sejam reconhecidas tanto como atores essenciais quanto como detentores de direitos na resposta climática global”.
O documento cita uma série de grupos, como mulheres, povos indígenas, comunidades afrodescendentes, idosos, crianças e trabalhadores, que são por um lado as maiores vítimas dos efeitos do aquecimento global e, por outro, os principais responsáveis por soluções de resiliência e sobrevivência nesta nova realidade.
“Trazer a COP30 ao coração da amazônia significa dar espaço aos vulneráveis e periféricos como líderes genuínos”, escreve o presidente da conferência, André Corrêa do Lago.
O documento tem diversas passagens que pedem união entre os países negociadores dos acordos climáticos e defendem o multilateralismo, que vive em xeque sobretudo desde a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
“O que essa carta tem intenção de mostrar é que qualquer ação climática é uma ação humana e que, antes de sermos países, nós somos humanos e sofremos com a mudança do clima”, disse a CEO da COP30, Ana Toni, à reportagem.
A publicação da carta já estava planejada desde antes da crise dos preços de hospedagem de Belém atingir um novo patamar, que ameaça inclusive o sucesso do evento.
Como revelou a Folha, dezenas de países ricos e em desenvolvimento assinaram uma carta pressionando o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a retirar a COP30 de Belém, sob a principal reclamação de que os preços de hospedagem estão muito altos.
O argumento é de que países com economias menores não têm condições financeiras de arcar com esse custo.
Ao podcast Café da Manhã, da Folha de S.Paulo, Corrêa do Lago admitiu que se o custo fizer com que países deixem de vir a Belém, os acordos assinados na conferência podem perder credibilidade.
“A partir do momento que a questão provocou reações formais dos países, naturalmente você tem impacto nas negociações. Para ter conferência, eu preciso ter delegados”, afirmou o diplomata.
A crise dos hotéis ainda não afeta formalmente as negociações climáticas, mas, como mostrou a Folha, o tema já toma tempo dos diplomatas, e as reclamações ocuparam espaço até do retiro criado para que os negociadores tivessem um ambiente descontraído para debates ambientais.
Segundo diplomatas ouvidos pela reportagem sob reserva, o cenário ameaça fazer com que países não participem da conferência, ou participem de mau humor, o que pode prejudicar a efetividade e qualidade dos acordos firmados em Belém.
Na quinta carta, a presidência da COP30 lembra que os temas tratados na cúpula como mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia e capacitação significam “antes de tudo, enfrentar desigualdades estruturais, acabar com a fome e combater a pobreza, promovendo o desenvolvimento sustentável, os direitos humanos e a igualdade, inclusive racial e de gênero”.
A presidência brasileira, diz a carta, acredita que as soluções por meio dos mecanismos multilaterais podem trazer soluções práticas para esses problemas.
“Sabemos que os impactos são sentidos de maneira mais aguda por aqueles já em situação de vulnerabilidade, seja por fatores geográficos, pobreza, gênero, idade, raça, etnia, pertencimento a povos indígenas ou a minorias, nacionalidade ou origem social, nascimento ou deficiência”, diz a carta.
Ana Toni acrescenta que o objetivo da quinta edição do documento é marcar um “ritual de passagem de um modelo de desenvolvimento que prometeu prosperidade”, mas que atualmente, ela avalia, é insuficiente para enfrentar os problemas mundiais.
“[A] tecnologia tem que estar a serviço desse bem maior, que é a proteção à vida,” diz. “Esse ritual de passagem nos remete à urgência da ação de mudança do clima”, completa.