
Uma polêmica tomou conta das redes sociais neste final de semana e acendeu o alerta de pais e responsáveis a respeito do cuidado com menores de idade na internet. Um fenômeno denominado adultização veio à tona após uma denúncia do youtuber Felipe Bressamin Pereira, 27, mais conhecido como Felca.
Dentre os casos expostos por ele está o de Hytalo Santos, 28 anos, que já era alvo de uma investigação do Ministério Público da Paraíba justamente por atribuir comportamentos de adultos a jovens menores de idade. O pior caso foi o de Kamilinha Santos, 17 anos, que, segundo o MP, foi explorada por Hytalo desde os 12 anos. Ele fazia grande exposição do corpo da jovem nas redes e promovia festas e bebedeiras nos vídeos, com a presença de menores.
O algoritmo das redes sociais, segundo Felca, supostamente estaria potencializando a audiência de conteúdos com menores em risco, em vez de coibir influenciadores que utilizam a exploração de menores como meio de vida.
Hagniz Paiva Conde, psicóloga de Belém, explica que a adultização não necessariamente está ligada a casos de pedofilia – como se suspeita no caso de Hytalo – mas ocorre quando a criança é exposta a conteúdos e comportamentos que não condizem com o seu estágio de desenvolvimento.
Na internet, aponta a especialista, isso tem acontecido cada vez mais devido ao reforço social imediato que os espectadores dão a esse tipo de conteúdo – como elogios, engajamento (mesmo que negativo) e reconhecimento de determinados grupos.
Segundo ela, crianças que passam por esse processo apresentam sinais como “o rompimento de brincadeiras saudáveis para a faixa de desenvolvimento, como as interações típicas de infância – ler, estudar, brincar com coisas analógicas. Além disso, a adoção precoce de comportamentos considerados adultos, como vestimenta, vocabulário e presença em ambientes adultos”.
A adultização, informa a psicóloga, afeta principalmente o lado cognitivo do menor – formando crenças distorcidas sobre si em questões de aparência, sexualidade, performance social, autoestima, comparação com outras pessoas e interpretação de papel social. “É como se a criança passasse a fazer coisas de adultos mesmo ainda sendo criança”, resume.
Outro ponto muito afetado é o emocional, com a possibilidade de desenvolvimento de transtornos psicológicos como ansiedade, pânico, problemas alimentares e depressão.
“O estresse excessivo, sentimentos de culpa e vergonha são comuns quando eles não conseguem agir como o esperado na performance midiática. Quando aceleramos esse processo e empurramos a criança para a vida adulta antes da hora, tiramos dela a chance de desenvolver recursos emocionais importantes para lidar com os desafios do futuro”, explica Hagniz.
A psicóloga alerta que pais, responsáveis e educadores devem ficar atentos aos sinais da adultização: linguagem ou aparência incompatíveis com a idade; preocupação exagerada com aparência ou status; interesse excessivo por temas adultos (sexualidade, consumo, estética); redução do tempo de brincadeira livre; e exposição frequente a conteúdos não apropriados.
Ela ressalta que é essencial monitorar o acesso a mídias e redes sociais, garantindo que o conteúdo seja adequado à faixa etária da criança. “Deve-se estimular o brincar livre e atividades criativas, fortalecendo o desenvolvimento social e emocional, criar um ambiente acolhedor e seguro no qual a criança possa expressar dúvidas e sentimentos sem julgamentos, mas estabelecendo limites claros”, completa.
É natural que as crianças tenham interesse em saber como funciona a vida dos adultos, e não há problema em explicar isso, desde que seja com prudência. “O correto é ensinar de forma adequada sobre responsabilidade sem antecipar vivências adultas, e dar exemplo de valores saudáveis, reforçando que o valor pessoal não está apenas na aparência ou no desempenho, mas também na empatia, esforço e curiosidade”, acrescenta.
Entre as consequências da adultização está a normalização de comportamentos inadequados, o que abre a possibilidade para a ação de criminosos. Caso você presencie conteúdos nas redes que promovam a adultização de menores ou os coloquem em situação de risco – especialmente se houver suspeita de pedofilia ou exploração sexual – denuncie às Polícias Civil e Federal pelo número 181.