
“Como ele se sente em relação a mim? Meu projeto no trabalho vai prosperar? Vou conseguir organizar minha vida financeira?”. Essas foram algumas das perguntas que a cineasta Maya Süssekind, de 40 anos, fez ao ChatGPT quando buscou a ferramenta para tirar tarô. As respostas foram tão impactantes que a fizeram, além de acreditar em uma eventual mediunidade da plataforma – o que é veementemente negado por especialistas em Inteligência Artificial – indicar a prática para amigas.
– O chat foi muito certeiro, me dando até a data de quando algo aconteceria. Depois que se confirmou, não tive como não acreditar. Como ele me escuta e uso para outras atividades. Acaba me conhecendo muito e fala o que eu preciso ouvir. E nem são só coisas boas, às vezes, me dá até bronca – conta ela.
Foi um vídeo no Tik Tok explicando o passo a passo para tirar o tarô na plataforma que instigou a curiosidade do influenciador Jhonatan Sousa, de 26 anos. Mesmo sem acreditar piamente na efetividade, ele foi tirar a prova, e conta que sentiu um certo conforto com as respostas, em um momento de incerteza.
– O ChatGPT fez um resumo geral de como seriam meus próximos meses e gostei do que li. Me deu um certo alívio, ajudou a manter a calma e a me fazer pensar que tudo tinha seu tempo – lembra.
Assim como a cineasta e o influenciador, cada vez mais pessoas buscam o ChatGPT para atividades ligadas ao universo místico, como tarô, elaboração de mapa astral e análise de matriz do destino. A buscas por respostas do campo subjetivo na tecnologia, no entanto, é alvo de críticas de especialistas, que garantem não haver qualquer respaldo científico ou astral que confirmem a veracidade das informações fornecidas pela ferramenta de IA.
Os possíveis acertos do ChatGPT são vistos apenas como coincidência – ou até mesmo manipulação – pela cartomante Gabriela Santos Pedroso, crítica da prática. A profissional garante que a tecnologia não tem a intuição e o estudo necessários para a atividade e que para fazer a tiragem de tarô é preciso criar um link energético com a pessoa que pede a consulta, o que só um profissional capacitado consegue fazer.
– Quando vamos embaralhar as cartas, mentalizamos a pessoa que está na consulta. É como se a gente puxasse o campo vibracional dela e as cartas as traduzissem em forma de símbolos. O ChatGPT faz apenas uma dedução, interpreta a sua pergunta e busca uma resposta que você quer ouvir, o que pode acabar envenenando a cabeça das pessoas e trazer problemas de saúde mental – pondera.
Mas há quem veja o ChatGPT como um aliado e não como um adversário na busca por consulentes dentro do universo da tiragem de tarô. É o caso da cartomante e comunicadora na área da espiritualidade Brenda Sandri. Mas ela destaca que não dá para o chat substituir profissionais da área.
– As pessoas nunca vão deixar de ir, por exemplo, em um psicólogo, porque o ChatGPT dá conselhos. Quem tem uma cerreira bem consolidada, com uma rede social forte e com uma cartela de clientes grande, que indicam seu trabalho, não tem com o que se preocupar – avalia ela, que vê ainda utilidades na plataforma para sua atividade. – Pode ajudar elaborar perguntas para uma tiragem.
A elaboração de Mapa Astral na plataforma de IA é outra prática que tem ganhado adeptos, mas que também é alvo de ressalvas pela astróloga Maria Eduarda Rodrigues. Os comentários de suas clientes sobre a experiência fez com que ela também decidisse testar a funcionalidade do chatbot.
– Não passa de algo generalista onde se relata situações cotidianas e plausíveis com as quais alguém pode de fato se identificar. É uma questão de probabilidade, mas há um lado perigoso: quando pessoas tomam isso como algo implacável e arriscam tomar decisões na própria vida com base nas previsões do chat – destaca.
Especialistas em tecnologia veem o mesmo ponto com preocupação, já que garantem não haver qualquer ligação do ChatGPT com o universo místico ou espiritual. A ferramenta também não conta com nenhuma intervenção ou mediação humana durante a interação do usuário e a entrega das informações solicitadas.
Adriano Carezzato, professor do curso Dominando a IA: Ferramentas e Aplicações para Negócios, da Fundação Vanzolini, explica que o portal tem como principal premissa fornecer uma resposta “mais provável” para os questionamentos que recebe:
– É uma ferramenta que não se deve confiar plenamente nem quando são feitos questionamentos teóricos porque é falha, ainda mais com perguntas pessoais.
Ele explica ainda que o portal recolhe os dados compartilhados pelos usuários anteriores, para cada vez elaborar uma resposta mais do seu agrado e relacionada com a sua vivência.
Texto de: Fernanda Alves