Além dos calorosos abraços e risadas ao redor da mesa, o dia dos pais reserva respeito à memória e boas lembranças daqueles que já partiram. No cemitério Santa Izabel, em Belém, o maior da cidade, algumas famílias aproveitaram o sábado para prestar a homenagem com tranquilidade. O DIÁRIO ouviu algumas dessas histórias: com uma vela acesa, rosas ou preces, mesmo após anos de partida, a figura paternal permanece viva nas recordações.
Os irmãos Henrique, Geraldo e Arthur Araújo costumam ir juntos ao jazigo da família, onde estão sepultados o avô, mãe, pai e irmão mais novo. Na véspera do dia dos pais, o clima de leveza e serenidade entre os três transforma a ausência física do patriarca em sinônimo de esperança. “As memórias são só alegria. Até das surras que a gente pegou lembramos com alegria, afinal, a gente mereceu, né?”, brincou Henrique. Apontando para o nome do avô gravado na sepultura, ele continuou falando em tom de riso: “Se não fosse aquele ali, o Euclides, não tinha nenhum aqui”.
Para Henrique, ainda que as pessoas partam, “as famílias nunca se encerram, são eternas”. Criados na fé católica desde a infância, enxergam no ato de visitar o cemitério em datas como o dia dos pais não como uma obrigação, mas como um ato de respeito e oração. “Eu costumava vir com a minha mãe para rezar pela alma do vovô e antigamente era bem lotado, inclusive na véspera (do dia dos pais), hoje tem pouca gente”, observou Geraldo.
Os irmãos recordam com carinho as lembranças de um dos irmãos, que está na mesma sepultura. “Éramos doze. Já morreram dois homens, estamos em seis agora e as mulheres ainda estão resistindo. Elas são mais resistentes, né?”, diz Henrique, em tom de brincadeira.
Em outra alameda do Santa Izabel, Nazaré Machado fazia orações ao lado da filha, Cláudia Tavares. Elas visitaram a sepultura onde o marido de Cláudia, Fernando, falecido há seis anos, foi enterrado. No local, outros homens da família também repousam. “Outros estão sepultados em outros cemitérios, mas aqui rezamos um Terço em intenção a todos os pais da família que já partiram”, disse dona Nazaré. “Ontem, falando de pai para o meu neto na festa da escola, eu disse ‘que bom, meu filho, que tu tens dia dos pais, pois eu não tive essa oportunidade”, contou, emocionada.
Dona Nazaré foi criada pela madrinha e padrinho e perdeu o contato com o pai biológico ainda com três anos de idade. Segundo ela, a ausência deixou uma ferida ainda aberta. “Eu ainda sou uma velha menina, pois isso ainda mexe comigo, sabe?”.
Os pais dela foram enterrados no cemitério São Jorge, mas os restos mortais nunca foram localizados. Para os mais jovens, o recado é que aproveite o pai, mãe, avô e avó enquanto há tempo: “na minha geração eu não tive e até hoje me faz falta”. Contudo, a dor se transformou em uma caminhada de coragem. “Quando eu era criança, dizia que quando eu tivesse uma família, faria diferente. E fiz! Tenho quatro filhos e todos foram criados por pai e mãe. Isso é muito importante para eles, tenho certeza”, desabafa Nazaré.
Para mãe e filha, o ato de visitar o cemitério é uma forma de preservar a memória e o legado daqueles que já partiram.
“É muito importante a gente não esquecer daquelas pessoas que passaram pelas nossas vidas e fizeram a diferença, né?”, disse a senhora. Segundo ela, o ato de entregar flores, acender velas e fazer orações também significa um ato de caridade para com as almas que encontraram a luz eterna. Dona Nazaré finalizou recordando um trecho bíblico do livro dos Gênesis: “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás”.
Na tradição católica, rezar pelos fiéis defuntos é um sinal de reconhecimento pelo testemunho que deixaram e o bem que fizeram. A prática tem fundamento na crença de que, através das orações dos vivos, as almas que ainda não alcançaram a plenitude da vida eterna podem ser ajudadas em sua jornada espiritual.
Horário Especial nos Cemitérios de Belém – Dias 9 e 10 de agosto (sábado e domingo)
Funcionamento: Das 7h30 às 17h
- Cemitério São José – Passagem Alegre, Benguí
- Cemitério Santa Izabel – Av. José Bonifácio, Guamá
- Cemitério São Jorge – Rua da Mata, Marambaia
- Cemitério Parque Tapanã – Rod. do Tapanã, 1739
- Cemitério Santa Izabel (Icoaraci) – Travessa Itaboraí, Ponta Grossa
- Cemitério São José (Mosqueiro) – Trav. Pratiquara, Maracajá
- Cemitério São Odorico (Mosqueiro) – Baía do Sol
- Cemitério Santa Maria (Mosqueiro) – Ramal do DMER, Carananduba
- Cemitério de Cotijuba – Rua Jarbas Passarinho, s/n