No coração da Amazônia Paraense, o projeto Marajó Resiliente tem se consolidado como uma referência nacional em adaptação às mudanças climáticas. Desenvolvido nos municípios de Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari, o projeto envolve diretamente mais de 1.100 pessoas e tem impacto indireto sobre cerca de 14 mil moradores. Com foco em comunidades quilombolas, agricultores familiares, mulheres e jovens, a iniciativa aposta na valorização dos saberes locais para enfrentar os efeitos da crise climática.
Executado pela Fundación Avina, com financiamento do Fundo Verde do Clima (Green Climate Fund – GCF) e parceria de outras instituições, o projeto alia tecnologias sustentáveis às práticas ancestrais, promovendo segurança alimentar, geração de renda e recuperação ambiental em áreas duramente atingidas por estiagens, salinização do solo e erosão.
A coordenadora da iniciativa, Lanna Peixoto, destaca o potencial multiplicador das ações:
“O projeto valoriza os conhecimentos que já existem nos territórios, fortalecendo cooperativas, escolas e organizações locais para que as práticas se espalhem e impactem mais pessoas”, afirma.
Produção sustentável e agroflorestas
Entre os principais resultados estão a implantação de Sistemas Agroflorestais Diversificados (SAFs), que integram o cultivo de alimentos, frutas e espécies florestais no mesmo espaço. Essas práticas oferecem alternativas resilientes às mudanças do clima e ajudam na conservação de solo, água e biodiversidade.
Dados da UFPA e do INMET revelam que, nas últimas duas décadas, a região do Marajó registrou quedas significativas na chuva durante o segundo semestre do ano. Relatório da Emater-Pará aponta que comunidades quilombolas de Salvaterra e Soure perderam até 40% da produção de mandioca e milho nos últimos três anos.
Para Carla Campos, agricultora de Cachoeira do Arari, os SAFs são fundamentais:
“Enquanto o açaí está amadurecendo, já colho o cupuaçu. No mesmo espaço planto feijão, batata, milho e mandioca. Dá pra manter minha renda com mais segurança”, relata.
Mulheres e jovens no centro das transformações
Com 59% das pessoas beneficiadas sendo mulheres, o projeto aposta no protagonismo feminino e da juventude. Além da produção, oficinas de comunicação capacitaram jovens como comunicadores populares, e comitês comunitários de governança climática foram criados com representações femininas e quilombolas.
Tiago Alves, agricultor de Soure, relata a transformação em suas práticas após participar do projeto:
“Antes eu queimava tudo achando que era lixo. Hoje reaproveito a matéria orgânica e minha plantação melhorou muito.”
Reconhecimento internacional
Em maio, o Marajó Resiliente foi destaque na 19ª Conferência Internacional sobre Adaptação Climática por Comunidades (CBA19), em Recife. A quilombola Valéria Carneiro representou o projeto e defendeu a desburocratização do acesso a recursos climáticos para organizações de base.
Com a COP30 prevista para acontecer em Belém, em novembro, o projeto se prepara para apresentar seus resultados em painéis oficiais e paralelos da conferência.
“É uma oportunidade de mostrar ao mundo que as soluções podem vir dos territórios e de quem vive a crise climática na pele”, diz Lanna Peixoto.
Sobre o projeto Marajó Resiliente
A iniciativa atua em três municípios do Marajó, com foco em resiliência climática, agroecologia, acesso ao crédito rural e fortalecimento da economia local. É conduzida pela Fundación Avina em parceria com o Instituto Belterra, Conexsus, IEB, Apó Socioambiental, Angola Comunicação e World-Transforming Technologies, com apoio financeiro do GCF e da CLUA. A execução está prevista até 2028