O monumento é imponente, tem 56 metros de altura (o equivalente a um prédio de 18 andares) por 46 metros de largura. Não há como negar: aquela estrutura, em formato de caravela, bem na beira do rio Tejo, é fascinante. E o que ela tem a ver com Belém do Pará? Bem, o Padrão dos Descobrimentos está localizado no lado ocidental de Lisboa, em uma freguesia (bairro) chamada…….Belém.
Imagina aí um passeio num fim de tarde na Estação das Docas, com um sorvete de cupuaçu com tapioca? Não podem faltar os guindastes e a Baía do Guajará no cenário, né? Pois é disso que eu tô falando: um ponto histórico em uma cidade histórica e com as águas a banhar a paisagem.
Primeira curiosidade: o Padrão dos Descobrimentos não foi “construído” uma vez e sim duas. Mas como isso é possível? Lá pelos idos de 1940, Lisboa sediou a Exposição do Mundo Português e uma dupla, formada pelo arquiteto Corttinelli Telmo e o escultor Leopoldo de Almeida, projetou e pôs de pé a primeira versão do monumento. Já tinha aquelas dimensões mas inicialmente não deveria ser por tempo ilimitado. Os materiais usados foram ferro e cimento e em algum momento deveria ser dali retirado.
Mas passaram-se 20 anos e ninguém se preocupou em desmontar a obra. Então a turma aproveitou o aniversário de 500 anos da morte do Infante Dom Henrique, já em 1960, e resolveu reforçar aquela homenagem, agora com pedra rosal de Leiria e calcário de Sintra. Mas não parou por aí: em 1985, houve mais um reforço e a obra foi remodelada por dentro. Desde então dispõe de uma sala de exposição, um auditório e um miradouro.
Por que se chama Padrão dos Descobrimentos? Reza a lenda que algumas das principais expedições portuguesas teriam partido exatamente daquele ponto em direção às descobertas que mudaram o mapa mundi, ali a partir do século XV. Mas, oficialmente, a história conta que o monumento foi construído para homenagear os feitos históricos alcançados por lusitanos, durante as Grandes Navegações, e que resultaram no “Novo Mundo”.
Se as caravelas, com milhares de homens, saíram ou não dali em busca de novidades, isso é secundário. Mas a pergunta que te faço agora é: já reparaste que o Padrão dos Descobrimentos abriga 32 estátuas? Quem são elas? Não vou me alongar, mas vamos às que mais nos interessam: Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães, Luís Vaz de Camões e Bartolomeu Dias. Alguns desses nomes já foram mencionados aqui no DIÁRIO NA EUROPA.
Cabral tu já sabes: comandou a expedição que chegou ao Brasil em 1500 e, por esse motivo, nós hoje, orgulhosamente, falamos a língua portuguesa. Vasco da Gama foi o comandante ocidental que primeiro descobriu o caminho marítimo para as Índias, enquanto Bartolomeu Dias venceu o Cabo das Tormentas, que foi rebatizado como Cabo da Boa Esperança e deu acesso ao oriente, contornando o extremo sul da África. Fernão de Magalhães fez a primeira viagem de circunavegação, ou seja, de ponta a ponta, no planeta Terra.
E por fim ou, dependendo do ponto de vista, pra começo de conversa, temos Camões, considerado por muitos o maior poeta da língua portuguesa (a “última Flor do Lácio”, segundo Olavo Bilac). A força da obra do bardo é tão grande que em 10 de junho, dia da morte dele (em 1580) é celebrado do Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas e da Língua Portuguesa.
Já que o Camões deu as caras, a “saideira” de hoje é ele quem serve: homenageado por uma das estátuas do Padrão dos Descobrimentos, ele é ainda um nome pop na cultura brasileira. É o autor de versos como “O amor é o fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer”, que quase cinco séculos depois seriam musicados por uma certa Legião Urbana e fariam parte da canção Monte Castelo.
*Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Já foi repórter e editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.