UM NOVO MERCADO VEM AÍ

Profissões em alta e em queda até 2030: prepare-se para o que vem aí

Avanços tecnológicos, mudanças demográficas, tensões geoeconômicas e pressões econômicas são os principais impulsionadores dessas mudanças.

Funções de linha de frente, incluindo trabalhadores rurais, motoristas de entrega e trabalhadores da construção, devem ter o maior crescimento de empregos em termos absolutos até 2030.
Funções de linha de frente, incluindo trabalhadores rurais, motoristas de entrega e trabalhadores da construção, devem ter o maior crescimento de empregos em termos absolutos até 2030. Foto: Rafa Neddermeyer/Cop30 Amazônia

O aviso foi dado no início do ano, quando o Fórum Econômico Mundial divulgou o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025: até 2030, ou seja, em cinco anos, as mudanças no mercado de trabalho equivalerão a 22% dos empregos, com 170 milhões de novas funções a serem criadas e 92 milhões encerradas, resultando em um saldo de 78 milhões de oportunidades de trabalho. Avanços tecnológicos, mudanças demográficas, tensões geoeconômicas e pressões econômicas são os principais impulsionadores dessas mudanças, remodelando setores e profissões no mundo todo. E há um ponto de convergência entre todos esses fatores, que é a necessidade/qualificação.

Funções de linha de frente, incluindo trabalhadores rurais, motoristas de entrega e trabalhadores da construção, devem ter o maior crescimento de empregos em termos absolutos até 2030. Também há uma projeção de aumentos significativos nos empregos no setor de cuidados, como profissionais de Enfermagem, e nas funções de Educação, como professores de escolas de Ensino Médio, com tendências demográficas impulsionando crescimento de demanda entre os setores essenciais.

Em paralelo, avanços em Inteligência Artificial, robótica e sistemas de energia, principalmente energia renovável e engenharia ambiental, devem ter uma maior demanda de funções de especialistas nessas áreas. Funções como caixas e assistentes administrativos continuam entre as de mais rápido declínio e, agora, os designers gráficos estão incluídos nessa lista, pois a IA generativa está remodelando rapidamente o mercado de trabalho.

Até aí tudo bem, porém toda essa renovação esbarra em uma realidade das mais complicadas. O levantamento do Fórum indica que a lacuna de habilidades continua sendo a barreira mais significativa para a transformação dos negócios hoje. Ou seja: tem vaga de trabalho hoje e principalmente em um futuro próximo, mas falta quem tenha preparo para exercer a função.

Cerca de 40% das habilidades exigidas no trabalho devem mudar, e 63% dos empregadores já citam esse problema como a principal barreira que enfrentam. Habilidades tecnológicas em IA, big data e segurança cibernética devem ter um crescimento rápido na demanda, mas habilidades humanas, como criatividade, resiliência, flexibilidade e agilidade, continuarão críticas. Uma combinação de ambos os tipos de habilidades será cada vez mais crucial em um mercado de trabalho que está mudando rapidamente.

Relatório mostra realidade de agora, diz especialista

A administradora, especialista em Ensino Superior e mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Márcia Bentes confirma que, na prática, as mudanças já estão em curso. “Os profissionais que ocupam postos de trabalho que estão desaparecendo passarão por treinamentos intensivos, vão adquirir novas habilidades, principalmente as técnicas para desempenhar esse novo papel, e as humanas também”, analisa ela, que é ainda professora universitária de Administração, RH e Ciências Contábeis e de cursos técnicos, além de atuar enquanto consultora de Carreiras e de Imprensa, coach, pregoeira e perita judicial em Administração.

A administradora, especialista em Ensino Superior e mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Márcia Bentes confirma que, na prática, as mudanças já estão em curso.
A administradora, especialista em Ensino Superior e mestra em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Márcia Bentes confirma que, na prática, as mudanças já estão em curso.

“A gente vê a necessidade das habilidades humanas – de comunicação, de liderança, de trabalho em equipe, resiliência, de criatividade e inovação como sendo uma necessidade aos profissionais. Quando se fala de comunicação, estamos falando da comunicação feita de forma correta. Parece que a Língua Portuguesa caiu em desuso e as pessoas não sabem mais escrever, digitar, falar corretamente, conjugar os verbos. Acho que essa questão do se desenvolver em termos de fala, escrita, redação também é um fator a ser treinado e bem trabalhado”, orienta.

As funções de linha de frente e os setores essenciais, como cuidados e educação, devem ter o maior crescimento de vagas até 2030, enquanto os avanços em IA e energia renovável estão reformulando o mercado, provocando um aumento na demanda de muitas funções de tecnologia ou de especialistas e o declínio de outras, como a de designers gráficos.

“Tendências como IA generativa e mudanças tecnológicas rápidas estão revolucionando setores e mercados de trabalho, criando oportunidades sem precedentes e riscos profundos”, analisa Till Leopold, diretor de Trabalho, Salários e Criação de Empregos do Fórum Econômico Mundial. “Chegou a hora de empresas e governos se unirem, investirem em qualificação e criarem uma força de trabalho global equitativa e resiliente”, defende.

Márcia Bentes pondera, no entanto, que não basta só cobrar por qualificação – é preciso remunerar na mesma proporção. “É muito importante ver que profissionais como motoristas, entregadores, da área de cuidado, de saúde e de tecnologia estão em uma valorização crescente – o que se espera é que também os salários sejam compatíveis com essa demanda. Os países precisam reestruturar sua economia a fim de pagar salários justos, porque há muita exigência de profissionais qualificados”, atenta.

Ao mesmo tempo, há ainda o fato de que a população está diminuindo, ao tempo em que as pessoas estão vivendo mais, envelhecendo mais, e essas pessoas hoje precisam permanecer no mercado de trabalho, visto que não é possível viver só de aposentadoria com qualidade de vida mínima. “Então essas pessoas seguirão trabalhando para ter um complemento de renda, mas também porque precisam exercitar o corpo, a mente – então a requalificação é essencial”, justifica.

A especialista em RH vê de forma bastante positiva, algo que inclusive é posto no próprio relatório, que existe uma parceria entre Estado, governo, empresas e a sociedade para levar educação e (re)qualificação aos profissionais, a quem precisa ingressar ou se manter no mercado de trabalho.

“E essa parceria é perfeita porque procura caminhos para oferecer cursos, treinamentos, workshops, para que as pessoas compreendam essa necessidade urgente de se qualificar. É uma revolução que o mercado está vivendo em função da era da tecnologia. O mundo deixou para trás muita coisa depois da internet, e a internet só se amplia”, destaca.

A cabeça é o guia

Quem tem entendimento semelhante é Nara d’Oliveira, fundadora da Gestor Consultoria. Segundo ela, a capacidade de resolver problemas é uma das habilidades mais importantes neste novo cenário. “É preciso saber analisar os problemas, dividi-los em partes, propor ações de enfrentamento e realmente solucioná-los com qualidade. Não basta apenas reconhecer as dificuldades”, afirma. Essa competência, segundo Nara, é essencial em todos os níveis hierárquicos.

Ela também destaca a importância do pensamento crítico, que envolve uma leitura aprofundada das situações e uma visão ampliada do contexto. Já a criatividade é cada vez mais valorizada diante da complexidade crescente dos ambientes corporativos. “É necessário criatividade para resolver problemas e conduzir as atividades do dia a dia com mais inteligência e autonomia”, pontua.

Outro ponto-chave, segundo Nara, é a flexibilidade cognitiva. “A gente ouve muito falar em flexibilidade, mas o pensar diferente, o ser flexível cognitivamente, é algo essencial. As mudanças são muito rápidas e profundas. O mundo mudou — a pandemia, os conflitos internacionais, a instabilidade global — tudo isso exige uma nova forma de pensar e reagir”, relaciona.

A inteligência emocional também figura entre as habilidades mais desejadas, tanto para lidar com pessoas quanto para gerir conflitos e manter o equilíbrio em situações adversas. Além disso, Nara d’Oliveira reforça o valor da orientação para servir, competência que envolve engajamento genuíno em ajudar colegas, grupos e equipes. “Se eu ajudo os outros, também contribuo para melhorar as relações dentro da equipe e com os clientes externos”, confirma

Conhecimento ainda é fundamental, mas não é tudo

É comum ouvirmos que as empresas estão cada vez mais interessadas em competências comportamentais. Mas, como destaca Nara, na prática, os processos seletivos ainda começam com um foco muito grande nas competências técnicas — especialmente naquelas que são essenciais para o cargo. “As empresas valorizam o comportamental, sim, mas não em detrimento das competências técnicas”, resume.

Ela observa que existe uma diferença entre o discurso e o que de fato acontece nas seleções. “Aqui na Gestor, por exemplo, temos quase 400 vagas abertas, e o que vemos diariamente é que o equilíbrio entre técnica e comportamento é o que realmente conta”, explana.

Para ilustrar, ela cita um exemplo: se duas candidatas têm o mesmo nível técnico, o que vai definir a escolha são as competências comportamentais. “Nesse caso, elas passam a ser o diferencial”, revela Nara d’Oliveira.

Ainda assim, ela reforça que o que rege os processos seletivos é o balanceamento entre as duas dimensões. E na hora de demonstrar isso, o currículo pode ser um bom ponto de partida. “Descrever o que você fazia nas experiências anteriores mostra à pessoa que está recrutando o que você sabe fazer — porque o que você fazia é exatamente o que você sabe fazer”, conclui.

📈 Profissões em Alta até 2030

1. Setor agrícola e produção

  • Trabalhadores rurais
  • Trabalhadores braçais e agrícolas

2. Transporte e logística

  • Motoristas de caminhão ou de serviços de entrega
  • Motoristas de carro, van e motocicleta

3. Tecnologia e inovação

  • Desenvolvedores de software e aplicativos
  • Gestores de projetos

4. Construção e reformas

  • Carpinteiros
  • Azulejistas e profissões similares

5. Comércio e varejo

  • Vendedores de loja

6. Indústria alimentícia

  • Trabalhadores de processamento de alimentos e profissões relacionadas
  • Trabalhadores que servem comidas e bebidas

7. Saúde e assistência social

  • Profissionais de enfermagem
  • Profissionais de assistência social e aconselhamento
  • Setores de cuidados pessoais

8. Educação e liderança

  • Professores de universidade e ensino superior
  • Professores de segundo grau
  • Gerentes gerais e de operações

📉 Profissões em Declínio até 2030

1. Serviços administrativos e financeiros

  • Assistentes administrativos e secretárias executivas
  • Assistentes de contabilidade, escrituração e folha de pagamento
  • Contadores e auditores
  • Caixas e auxiliares bancários
  • Auxiliares de entrada de dados

2. Atendimento ao cliente e comércio

  • Caixas e bilheteiros
  • Trabalhadores de atendimento e informações ao cliente
  • Atendentes de transporte e condutores

3. Serviços de limpeza e manutenção

  • Zeladores, faxineiras e governantas

4. Logística e controle

  • Assistentes de controle de materiais e estoquistas

5. Comunicação e design

  • Trabalhadores de impressão e profissões relacionadas
  • Designers gráficos

6. Gestão e regulamentação

  • Gerentes de serviços empresariais e administração
  • Reguladores, examinadores e investigadores de sinistros
  • Guardas de segurança

🚀 Top 9 Habilidades com Maior Crescimento até 2030

(Segundo o Fórum Econômico Mundial)

  1. Inteligência artificial e Big Data
  2. Redes e segurança cibernética (citado duas vezes – reforça a importância)
  3. Criatividade
  4. Resiliência, flexibilidade e agilidade
  5. Curiosidade e aprendizado ao longo da vida
  6. Liderança e influência social
  7. Gestão de talentos
  8. Pensamento analítico
  9. Gestão ambiental