
O general da reserva Mario Fernandes, que admitiu ao STF (Supremo Tribunal Federal) ter elaborado o plano para matar autoridades em 2022, chefiava o Comando de Operações Especiais do Exército, em Goiânia, quando conheceu o então presidente Jair Bolsonaro (PL).
Era julho de 2019 e Bolsonaro havia decidido visitar a sede do comando, sendo o primeiro presidente a fazer isso desde a redemocratização. O próprio Mario Fernandes ciceroneou o presidente e, dois anos depois, foi chamado para integrar o seu governo.
Fernandes, 61, foi preso em novembro passado sob suspeita de ter planejado as mortes de Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes, ministro do STF, após a
derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022. O objetivo era impedir a posse do petista. Segundo as investigações, para colocar o plano em prática, Fernandes arregimentou alguns de seus antigos comandados em Goiânia –os “kids pretos”, como são conhecidos os militares das Forças Especiais.
Sua prisão foi decretada após o arquivo Punhal Verde e Amarelo, com os detalhes do plano, ser encontrado em seu computador.
“Confirmo, excelência. Esse, na verdade, é um arquivo digital que nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado”, disse Fernandes em depoimento ao STF na quinta-feira (24).
Ele minimizou a importância do documento, afirmando se tratar da “visão de um militar com a análise de uma situação” e negou ter mostrado o documento a outras pessoas. “Hoje eu me arrependo de ter digitalizado isso”, disse.
“Imprimi por um costume pessoal de evitar ler o documento na tela, mas imprimi para mim e logo depois rasguei”, acrescentou.
Na época em que elaborou o documento, Fernandes era o secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, sendo o número dois do ministro Luiz Eduardo Ramos, que é amigo de Bolsonaro e se livrou das acusações da trama golpista no STF.
Assim como Bolsonaro, Fernandes se formou na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) e fez curso de paraquedismo. Em seu depoimento ao STF, o general da reserva disse não ser próximo do ex-presidente apesar da afinidade entre os dois.
Depois do governo Bolsonaro, Fernandes foi lotado no gabinete do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde na gestão anterior, entre 2023 e 2024.
Ao STF o general disse que, na ocasião da derrota de 2022, Bolsonaro se preocupava com a possibilidade de fraude eleitoral, algo propagandeado pelo ex-presidente ao
longo de seu mandato mesmo sem provas, indícios e com fiscalizações mostrando o contrário. “O que eu era a favor, e sempre fui, era que o presidente Bolsonaro, dentro das suas atribuições e prerrogativas como chefe do Executivo, buscasse soluções para essas dúvidas”, disse ele.
Mas em novembro de 2022, ocasião em que elaborou o Punhal Verde e Amarelo, Fernandes disparou pelo WhatsApp uma carta ao então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, pressionando por um golpe de Estado.
“É agora ou nunca mais, comandante, temos que agir”, escreveu.
A denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República afirma que o general atuou “na interlocução entre o governo e os apoiadores de Bolsonaro” que estavam acampados pedindo golpe militar. Segundo a acusação, ele esteve quatro vezes no acampamento montado em Brasília.
A Procuradoria-Geral também diz que Mário Fernandes era responsável “por coordenar as ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas”.
“O plano minudenciava providências de reconhecimento operacional, prevendo o acompanhamento de ‘locais de frequência e estadia’ do ministro Alexandre de Moraes, com observação de sua residência, trabalho e local de prática de esportes.”
A acusação também afirma que ele faria da “assessoria estratégica” de um gabinete que seria montado com a consumação do golpe militar.