À primeira vista é difícil identificar, mas as biojoias produzidas por uma artesã, em Belém, têm como matéria prima um resíduo que, se descartado irregularmente, levaria de 200 a 600 anos para se decompor na natureza: as famosas garrafas PET. Transformado por meio da arte, o plástico das garrafas viram acessórios de beleza e ainda contribuem com a redução do despejo de plástico na natureza.
A artesã Higina Souza lembra que sempre buscou trabalhar com diferentes segmentos para contribuir com a renda familiar. Além de trancista, ela já atuou na recuperação e personalização de calçados, mas foi a partir do trabalho desenvolvido com garrafas PET que a sua história começou a mudar. “A garrafa PET veio há 20 anos, em um momento muito difícil da minha vida. Eu lembro que eu estava assistindo televisão quando vi um jovem senhor mostrando o trabalho dele com garrafa PET, onde ele fazia girassóis, folhas, mas ele não ensinou como fazer”, recorda. “Quando eu vi aquele trabalho com garrafa PET, eu senti uma alegria tão grande que eu chorei e pensei: isso vai mudar a minha vida”.
O trabalho com o plástico utilizado nas garrafas começou com arranjos, peças que Higina aprendeu a fazer testando materiais, como tintas e verniz. Depois de trabalhar um tempo com os arranjos, porém, a artesã precisou parar devido o desenvolvimento de uma LER (Lesão por Esforço Repetitivo). A lesão fez com que ela ficasse 20 anos afastada do trabalho com PET, mas o retorno veio a partir de outro produto muito diferente, as biojoias. “Depois de 20 anos eu resolvi voltar com a PET. Quando eu estava fazendo minhas biojoias com pedras, com madeira, sementes, eu lembrei do meu passado e parei pra pensar: ‘porque não trazer o PET para os brincos, colares e aí a minha mente foi abrindo e eu comecei a fazer”.
Quando começou a colocar as primeiras peças à venda, Higina logo percebeu a surpresa das clientes ao saberem que os brincos e colares tinham sido feitos com garrafas PET. “Eu coloquei nas feiras que eu vendia, as pessoas olhavam, gostavam e perguntavam se era resina. E eu falava: não, é garrafa PET”, lembra. “As pessoas não acreditavam, teimavam comigo, dizendo que não podia ser. As pessoas olhem e não acreditem que a garrafa PET pode se tornar algo tão bonito. E isso abre a mente. Eu penso quem sabe, com isso, mais pessoas possam fazer isso de não jogar a garrafa fora, que pensem em levar as garrafas para algum lugar que outras pessoas possam trabalhar com essas garrafas”.
A partir das garrafas PET, Higina cria brincos, colares, braceletes, sempre mesclando com outros materiais. “Eu gosto muito de colocar a garrafa PET com vários tipos de pedras, com madeiras, com sementes. Eu gosto de usar o cobre, o alumínio, o aço inoxidável. Eu gosto de colocar o PET em um lugar de luxo”, conta.
“A minha finalidade é fazer com que os meus clientes olhem para a garrafa PET de outra forma, que elas passem a valorizar o trabalho do artesão. A pessoa que trabalha com artesanato acaba deixando uma lição para as futuras gerações porque esse trabalho com garrafa PET dura anos e anos. Só para ter uma ideia, eu tenho um vaso da época que eu trabalhava com decoração que já tem 20 anos e ainda está perfeitinho. Então, é uma forma de dar um outro destino para esses materiais que iriam para o lixo”.