Uma árvore nativa da Amazônia que por décadas parecia ter desaparecido acaba de ser redescoberta em meio à floresta: o pau-cravo (Dicypellium caryophyllaceum), também conhecido como cravo-do-maranhão ou canela-cravo, voltou a ser registrado oficialmente após mais de 40 anos sem aparições documentadas. A redescoberta ocorreu em área de influência da Usina Hidrelétrica Belo Monte, no Pará, e é resultado de um trabalho contínuo de conservação liderado pela Norte Energia.
A espécie, que pode atingir até 30 metros de altura, carrega um forte valor histórico, ecológico e cultural. No período colonial, o pau-cravo foi amplamente explorado como especiaria e madeira de lei. A extração, feita de forma predatória com o corte completo das árvores para retirada da casca, levou à quase extinção da planta ao longo do século XX.
Um resgate da história natural
Desde 2008, durante os Estudos de Impacto Ambiental para a implantação de Belo Monte, a Norte Energia passou a desenvolver ações de conservação genética do pau-cravo, que resultaram na identificação de 30 árvores matrizes em áreas protegidas, no transplante de 11 indivíduos para locais seguros e, mais recentemente, na produção de mais de 150 mudas em viveiro próprio.
“É uma espécie símbolo da nossa história florestal e sua preservação representa mais que um feito científico — é uma demonstração do respeito à biodiversidade e à memória viva da Amazônia”, destaca Roberto Silva, gerente de Meios Físico e Biótico da Norte Energia.
Ameaças e Conservação do Pau-Cravo
A espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção e consta desde 2008 na Lista Nacional da Flora Ameaçada, publicada pelo Ibama. O CNCFlora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, também reforça seu status de risco. Hoje, os registros confirmados estão restritos a três municípios: Itaituba e Vitória do Xingu, no Pará, e Buriticupu, no Maranhão.
Mais que proteção, oportunidade científica
A presença do pau-cravo em área de proteção permanente abre portas para pesquisas inéditas sobre sua biologia, genética, estratégias de regeneração e função ecológica na floresta. Os dados coletados pela equipe da usina já subsidiam teses acadêmicas e contribuem para a produção de conhecimento científico sobre espécies raras da Amazônia.
Para o botânico Lindomar da Silva Lima, que atua na região desde 2011 e participou diretamente da identificação da árvore, o reencontro com a espécie foi emocionante.
“Quando a gente encontrou o pau-cravo foi uma alegria enorme. Era uma planta que só os mais velhos conheciam. Agora posso contar essa história para os meus filhos e netos, para que cresçam aprendendo a preservar”, relata.
A iniciativa segue com monitoramento das árvores matrizes, coleta de sementes e recomposição de áreas degradadas com novos plantios. A redescoberta do pau-cravo é mais do que um marco botânico — é um sinal de que, com esforço técnico e compromisso ambiental, é possível reverter os caminhos da extinção.