ENTREVISTA

Thiaguinho, o pai da Tardezinha e do Bento! 

Thiaguinho lançou na última quarta-feira (16) o EP "Banjo e boné", novo projeto dedicado ao samba.

Ao lado de Carol Peixinho, o artista aguarda o primeiro herdeiro Bento
Ao lado de Carol Peixinho, o artista aguarda o primeiro herdeiro Bento

“Caraca, moleque, que dia, que isso, solta um pagodinho” que o Thiaguinho vai ser pai. Bento vem aí – é o primeiro filho do cantor, fruto de seu relacionamento com a influenciadora Carol Peixinho, que está no sexto mês de gestação. Enquanto se prepara para o nascimento do rebento, Thiaguinho toca a carreira como um dos artistas mais consolidados do país. Ele lançou na última quarta-feira (16) o EP “Banjo e boné”, novo projeto dedicado ao samba, e acaba de voltar da turnê na Europa com sua Tardezinha, o pagode das multidões que é um marco em sua trajetória. Depois do retorno ao Brasil levando o projeto para Belo Horizonte, no Mineirão, a próxima parada é São Luís, no centro histórico da capital maranhense, neste sábado.

“O que eu mais gosto na Tardezinha é a essência dela, e uma das coisas de que eu mais me orgulho neste momento é que ela não perdeu essa essência”, diz o cantor ao Globo.

Nesta entrevista por chamada de vídeo, o cantor de 42 anos fala sobre como a Tardezinha foi criada, há dez anos, no Rio, relembra casos impressionantes e cita desafios do projeto – e versa, emocionado, sobre a expectativa para o maior espetáculo que está por vir em sua vida: a paternidade.

  • A Tardezinha virou um fenômeno, né?

A Trajetória da Tardezinha

A Tardezinha começou a me consumir mais do que eu imaginava que fosse consumir. A gente faz a última turnê 2019 e ali ela fica gigante – vai para o Mineirão, aqui em São Paulo vai para 40 mil pessoas, e se encerra no Maracanã, de forma épica, maravilhosa. Quando terminou ali, a gente entendeu a proporção que a festa tinha tomado. Outro sinal foi a mudança na visão do mercado: o entretenimento começou a olhar diferente para a música. Outros artistas passaram a criar projetos parecidos, mais íntimos, com propostas diferentes do show tradicional. Isso é motivo de muito orgulho – porque, se inspiraram, é porque deu certo. Depois disso, ficamos nos preparando até 2023. E, quando voltamos, já voltamos do tamanho que tínhamos parado no Maracanã: foi no Parque Olímpico, para mais de 80 mil pessoas. E 2023 acabou sendo um ano mágico, que consagrou a Tardezinha como a maior turnê da história da música brasileira.

  • O que a internacionalização do projeto, com os shows em outros países, trouxe em termos de adaptação ?

Em 2023, a gente levou a Tardezinha para os Estados Unidos e Portugal – fizemos Lisboa e Miami. E agora ela segue indo para outros países também. A ideia, na verdade, é sempre tentar replicar exatamente a mesma Tardezinha que acontece em São Paulo ou Porto Alegre nesses outros lugares, seja Lisboa, seja Luanda. A nossa intenção é que a experiência seja a mesma. Quando subo no palco, claro que existem ajustes que faço de cabeça, porque tenho 23 anos de carreira, já rodei o país inteiro e sei o que funciona mais em cada região. No Sul, por exemplo, tem músicas que funcionam melhor lá do que no Rio, e vice-versa. Então, sim, canto músicas de grupos locais ou que têm mais apelo em determinado lugar. Mas a base da experiência é a mesma – principalmente fora do Brasil. Lugares como Lisboa, Miami e Sydney têm muitos brasileiros que moram fora e sonham em viver essa experiência que acompanham pela internet.

  • Como foi passar pela África?

A única Tardezinha que deve ser diferente mesmo é a de Luanda, porque é pensada para o público angolano. Minha música já chega lá, já fiz alguns shows, tenho muito carinho pelo que recebo de lá. Mas essa edição foi especial justamente por isso: porque fui entender o que chega de pagode lá. Alguns nomes eu sei que funcionam muito bem – Soweto, Alexandre Pires, Raça Negra, Revelação são gigantes lá também. O pagode tem uma força enorme em Angola, até pelo vínculo com a raiz do samba, que é africana.

  • Você vai ser pai aos 42 anos. Sempre foi um desejo seu ou surgiu mais recentemente, com a relação com Carol?

A Expectativa da Paternidade

Eu sempre quis ser pai, e Carol Peixinho sempre quis ser mãe. Deus nos uniu nesse momento, no tempo certo, e está sendo perfeito viver essa espera, essa ansiedade boa. É o maior amor possível. Eu, que sempre amei falar de amor, sou muito sensível, amo o amor. E agora vou viver o maior de todos. O Bento já mudou minha vida, mesmo sem ter nascido. Ele já está em todas as minhas conversas, nos presentes que ganho nos shows, nas pessoas que me param na rua. Venho de uma família muito bonita, tudo que sou é fruto da minha criação, dos valores que recebi dos meus pais. E me sinto honrado de ter um filho com alguém que compartilha dos mesmos princípios. A família da Carol é maravilhosa também. Estou muito feliz.

  • Que lições você traz do pai que teve para o pai que quer ser?

Se meu filho tiver o amor e a referência e orgulho que eu tenho do meu pai, vou ser o cara mais feliz do mundo. Meu pai me ensinou tudo o que sou: para dar certo, você tem que trabalhar, tem que ter responsabilidade, tem que ter respeito com as pessoas, tem que se organizar, precisa ter fé, precisa ter uma religião. Vão ser criações diferentes, são tempos diferentes, não tem manual. Mas vou fazer de tudo para que seja uma sequência de uma família muito bonita. O pai da Carol é um grande homem também, então ele vai crescer com grandes referências. E amigos que tenho também, como o Péricles, que eu conheci com 19 anos e que sempre foi como um pai pra mim, até hoje um conselheiro, um cara que me sinto seguro perto e que já está tratando Bento como um neto (risos).

  • Quais mudanças você já tem feito e quais planeja fazer quando Bento vier? Reduzir os shows, por exemplo?

Eu amo muito o que faço. Muito, muito, muito. Um dos momentos mais aguardados da minha semana é a sexta-feira. Por mais que eu ame ficar em casa, e amo minha família, cantar é uma parte muito importante para mim, é minha missão na Terra, trocar energia com as pessoas através da música, algo muito poderoso. Mas o tempo de Deus é maravilhoso. Eu já tinha organizado minha vida antes de o Bento chegar. Prezar mais qualidade de vida. Meu escritório, a Paz & Bem, tá completando 15 anos. E, nesses 15 anos, fui me adaptando. No início da minha carreira solo, eu tinha uma velocidade muito maior de trabalho, mas de ansiedade artística também, de querer fazer, me consolidar. Mas com o tempo, 42 anos, 23 de carreira, hoje consigo gerenciar melhor meu tempo. Então, deixar de fazer não é uma possibilidade. É o que eu sou. E quero que ele me veja fazendo o que eu faço e que se orgulhe de mim, das minhas músicas, dessa minha missão, e que me tenha como um espelho. Mas meu tempo já estava organizado pra ele chegar. Acho que o que vai mudar vai ser essa vontade de chegar logo em casa, que vai aumentar muito. E quero participar de tudo, reuniões de escola etc.

  • Em que contexto da sua vida surgiu a Tardezinha?

A Origem da Tardezinha

A Tardezinha surge de uma maneira muito despretensiosa. Foi em 2015, eu era jurado do “Superstar”, da TV Globo, e, como o programa era ao vivo, todo domingo eu tinha que estar no Rio. Ou seja, sem shows domingo à noite, nem fora do Rio. Num bate-papo com o Rafael Zulu (ator e empresário, amigo de Thiaguinho), comentei isso com ele: “Pô, todo domingo eu vou estar aqui, a gente podia fazer alguma coisa, armar um pagode à tarde.” Ele topou na hora. Alguns dias depois, ele me ligou perguntando se podia organizar e eu disse que sim. Só que ele organizou mais do que eu imaginava! Voltou com nome, local e até com a equipe montada. Quando vi, a festa já estava formatada. Eu falei: tá bom, vamos fazer.

  • Que lembranças você tem da primeira Tardezinha?

Foi no Rio Beach Club, na Barra da Tijuca. Cabiam duas mil pessoas. A gente montou uma estrutura, mas aí pensei: “Se eu fizer um show de duas horas, o povo vai ficar fazendo o quê no resto do tempo?” O Zulu falou: “Canta o que você tiver vontade.” E isso é muito meu. No Exalta, a gente fazia o Pagode do Exalta, com músicas nossas e de outros artistas. Eu cresci assim: em Ponta Porã, cantava por horas só música dos outros. Então, subi naquele palco e fui cantando o que vinha à cabeça. Fizemos quatro edições nas férias de julho. Em 2016, voltamos com nova temporada. Em 2017, levamos para outras cidades, e, em 2018, ela ficou gigante, com 15 mil pessoas na Marina da Glória. (Ricardo Ferreira)