Pará - Nesta quinta-feira, 17 de julho, é comemorado o Dia do Protetor de Florestas, também conhecido como Curupira. Essa figura do folclore é conhecida pelos seus cabelos vermelhos e pelos pés virados para trás. Segundo a lenda, os pés virados ajudam a enganar os inimigos, uma vez que seus passos ficam na posição trocada, dando a falsa impressão de que estão chegando perto dele, quando, na realidade, acontece o contrário.
Segundo a lenda, o Curupira protege as florestas das agressões constantes do homem, tais como desmatamento e caça de animais. Os agressores são atraídos por essa figura e nunca mais retornam, perdendo-se na mata. No caso de caçadores, o Curupira é conhecido por transformar a família deles em caça e, só após o caçador ter matado seus familiares, ele reconhece que, na realidade, eram pessoas de sua família.
A lenda também afirma que os indígenas levavam presentes para evitar o terrível ataque do Curupira. Além de aniquilar os destruidores da floresta, o Curupira possui a capacidade de ressuscitar os animais mortos pelo homem. Em janeiro deste ano, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República escolheu o Curupira como o mascote da Conferência do Clima (COP 30), a ser realizada em novembro deste ano na capital paraense.
O historiador Antonio Carlos Lobato ressalta que a lenda do Curupira, provavelmente, é uma das mais antigas da história do Brasil. Conforme o historiador, os registros são, inclusive, do padre José de Anchieta, missionário da Companhia de Jesus e fundador da cidade de São Paulo no século XVI, que entrou em contato com a história do Curupira ainda pelos indígenas.
“A lenda era muito parecida com o que se mantém hoje de um menino, tanto que a palavra ‘curo’ significa menino e ‘pira’ significa corpo”, explica Lobato. “O registro é muito antigo e provavelmente é uma lenda criada pelos povos originários, principalmente o Guarani”, comenta o professor sobre o início da lenda do Curupira no território brasileiro.
Conforme ressalta o historiador, a influência dos referidos povos contribuiu para a formação da lenda do Curupira, agregando aspectos da nomenclatura, concepção religiosa e espiritualidade dos povos originários. O professor explica que estes acreditavam muito que em todo lugar havia um espírito guardião.
“Aqui na Amazônia, a gente chama de mãe, mãe do rio, mãe do mato. Eram esses espíritos que cuidavam do local. A mãe do rio aqui é uma cobra que toma conta do rio e a mãe do mato ela pode ser muito associada ao Curupira, entidades espirituais que regem territórios, o que inclusive vai fazer com que a tradição espiritual dos povos originários do Brasil seja muito parecida com alguns povos africanos, o que facilitou muito o sincretismo entre esses povos. No caso específico do Curupira, é uma lenda quase que exclusiva de origem indígena.”
Para Lobato, o símbolo do Curupira é bem interessante porque mostra muito a noção dos povos originários da relação deles com a natureza. O historiador informa ainda que os povos indígenas do Brasil se sentiam parte integrante da natureza, como se fossem uma engrenagem dentro das riquezas naturais, dentro do meio ambiente.
“Por isso, eles tinham muito respeito em relação aos recursos naturais, não esgotando-os para que sempre pudessem ter acesso a esses recursos. O Curupira reflete exatamente isso: uma entidade que pune quem pretende agir contra os recursos naturais, o que é algo que está totalmente ligado ao conceito de sustentabilidade”, frisa. “Hoje, o slogan da COP 30 é de salvaguardar os recursos naturais, de poder explorá-los de maneira sustentável. Então, o Curupira se encaixa bem nessa simbologia.”
Questionado sobre o legado da lenda do Curupira para o Brasil, Antonio Carlos Lobato é enfático ao dizer que das lendas tradicionais existentes no Brasil, a do Curupira é a mais forte e difundida, desde a região Norte até o extremo Sul do País. “Então, é uma lenda que tem um legado e simbolismo fortes. Para a utilização na COP 30, o mais relevante do Curupira é o fato dele ser uma entidade reconhecida no Brasil inteiro, uma entidade universal dos brasileiros que carrega essa ideia de preservação do meio ambiente.”
A expectativa do historiador é que a COP 30 venha para discutir e encontrar soluções para problemas mundiais, nacionais e também regionais, principalmente no que diz respeito a Belém. “Eu espero que a COP 30 resolva algumas situações, principalmente marcadas pela desigualdade social em Belém. Essa desigualdade social tem reflexos no meio ambiente e no espaço urbano da cidade. Que a COP 30 se materialize naquilo que o Curupira simboliza, que é a preservação, de fato, do meio ambiente.”