Os trabalhadores de Belém e da Região Metropolitana, assim como a maioria dos assalariados brasileiros, precisam cumprir uma jornada diária de 8 horas. Na prática, no entanto, o tempo de deslocamento até o trabalho tem comprometido a qualidade de vida da população. Além da longa espera, a situação nada boa de parte da frota de ônibus agrava ainda mais a rotina dos passageiros.
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizada há dois anos, aponta que 36% dos brasileiros gastam mais de uma hora no trânsito para chegar ao trabalho. Outros 21% levam entre uma e duas horas. Ainda segundo o levantamento, 55% dos entrevistados afirmaram que a qualidade de vida é diretamente afetada pelo tempo gasto no transporte, e 51% disseram que a produtividade também é comprometida.
Apesar de as realidades variarem entre as regiões pesquisadas — a amostra ouviu 2.019 pessoas em cidades com mais de 250 mil habitantes —, Belém segue enfrentando problemas na mobilidade urbana. Os mais prejudicados são os trabalhadores, que lidam com uma jornada dupla de desgaste: a rotina exaustiva do trabalho e os transtornos no trajeto até ele.
Relatos dos trabalhadores e os desafios diários
A psicopedagoga e cozinheira Elenir Lima, 46, é um exemplo disso. Ela mora no conjunto 40 Horas, em Ananindeua, e trabalha na avenida Mundurucus, no centro de Belém. “Para onde eu vou é muito difícil. Por volta das seis da manhã, o terceiro ônibus já passa lotado e não para. A frota é pequena e a gente fica muito tempo esperando”, relata.
Jonny de Souza, 52, autônomo, mora no bairro do Jurunas e trabalha na João Alfredo. Ele critica a falta de evolução no sistema. “Tenho 52 anos e nunca vi mudança. É sempre a mesma coisa”, reclama. No momento da entrevista, Jonny esperava havia 25 minutos na parada. Como alternativa, ele recorre, quando pode, ao transporte por aplicativo. “O único que ajuda o trabalhador é o Uber Moto. A gente se esforça, pega às vezes, mas não dá para usar todo dia. Só quando o cansaço fala mais alto.”
Para Celéste Ferreira, 70, cuidadora, o maior problema é o excesso de passageiros. “A gente espera muito e, quando consegue pegar, o ônibus vem muito cheio. Você vai em pé, apertado. Tem uns ônibus bons, mas outros estão caindo aos pedaços”, lamenta.