
Depois de algumas semanas de curtição com um bom Mundial de Clubes da FIFA — com jogos empolgantes, a ponto de nem mesmo a trilha sonora repetitiva estragar a experiência —, é hora de encarar novamente o futebol brasileiro. Bem que os nossos jogadores e treinadores poderiam se inspirar naquilo que foi apresentado nos campos norte-americanos. Não estou falando da qualidade técnica do espetáculo em si — estamos longe disso. Não temos jogadores de nível altíssimo nem treinadores tão estratégicos quanto os europeus. O abismo existe, sim.
Mas o Mundial mostrou como o futebol deveria ser jogado: com intensidade, compromisso, combatividade. E esse, talvez, seja o principal problema do futebol brasileiro atual: a falta de compromisso de jogadores e comissões técnicas com o produto que entregam em campo. Pior ainda é o desrespeito com quem paga ingresso. O torcedor, por ser passional, até releva se o time apenas “amassou” ou “deu baile”. Quer a vitória, custe o que custar. Mas quem gosta de analisar o jogo — de qualquer esporte — quer ver algo minimamente bem apresentado.
Afinal, ninguém gosta de receber um presente de aniversário embrulhado em saco de supermercado. Da mesma forma, quem curte o futebol de verdade gostaria de ver partidas bem jogadas.
Hoje, porém, a tradição brasileira parece ter abandonado essa essência e passa a valorizar mais a malandragem em campo. É raro vermos jogos com ao menos 60 minutos de bola rolando. Isso é impensável. Toda catimba é aceita. A cera virou regra. Cada defesa de goleiro é seguida de uma “cãibra” ou dedo estalado — claro, se o time estiver vencendo. O cai-cai se tornou um recurso banalizado.
Se o futebol é mesmo uma arte, o jogador que se submete ou pratica esse tipo de expediente mereceria vaias, como resposta imediata de uma plateia mais exigente. É hora de rever conceitos. De punir, com rigor, quem adota o antijogo, antes que a prática fuja de vez ao controle — o que, infelizmente, já parece estar acontecendo.
Um exemplo recente foi a reação do técnico português António Oliveira, logo após o empate entre Remo e Chapecoense. Ele reclamou do antijogo com o árbitro, e foi surpreendido por uma resposta destemperada do técnico adversário, Gilmar Dal Pozzo, que chegou a chamá-lo para uma discussão fora de campo.
Tomara que António mantenha essa disposição e, mais importante, consiga orientar sua equipe a combater esse cenário lastimável. Alguém precisa começar a mudança.