
Manaus e Belém — como bem vimos nos últimos dias — vivem um clima parecido, tanto na temperatura quanto na rivalidade. As duas maiores cidades da região disputam efemérides e títulos de “maior do Norte” em diversos temas. Porém, além do clima semelhante — tropical, quente e úmido —, os belenenses e manauaras compartilham um capítulo similar na história, que trouxe legados duplos às duas cidades. O ciclo da borracha, ocorrido do final do século XIX até o início dos anos 1920, trouxe uma arquitetura rica e europeia à Amazônia brasileira. O maior símbolo, em ambas as cidades, são dois teatros: o Amazonas e o da Paz.
Samir Torres, coordenador de Turismo do Teatro Amazonas, conduziu o DIÁRIO em uma visita especial ao local, que fica no centro de Manaus. “Trabalho há quase 11 anos aqui e percebo que temos essa conexão histórica. A gente tem algumas trocas, algumas intervenções entre orquestras — temos a sinfônica de lá —, algumas conexões culturais entre diretorias e teatros. E, nestes últimos 11 anos, a conexão mais forte que eu vejo é exatamente a deste ano”, diz, ao fazer referência à candidatura conjunta dos dois teatros para se tornarem Patrimônio da Humanidade. “Eles surgiram no mesmo contexto histórico. Parecia que o guia estava com uma cópia do roteiro sobre o Teatro Amazonas. A gente divide o palco da Amazônia, essa pauta, esse olhar internacional sobre a região”, relata.
TAMANHO
O Teatro Amazonas tem capacidade para 701 pessoas na sala de espetáculos, distribuídas entre a plateia e três andares de camarotes. A boca de cena mede 10,50 metros de largura por 6,40 metros de altura e 11,97 metros de profundidade. O urdimento (espaço acima do palco) tem 14 metros de altura. Além disso, o teatro possui uma área útil no palco de 123,29 metros quadrados. O salão de bailes, no andar superior, tem mais de 90% da mobília e arquitetura preservadas desde a inauguração — ocorrida em 31 de dezembro de 1896.
A Influência Europeia e a Riqueza Cultural
O local é inspirado nas casas de ópera da Europa, como o Teatro Scala, em Milão, e a Ópera Garnier, em Paris. “Esse prédio é uma pequena amostra europeia no meio da floresta, e isso traz exatamente uma conexão um pouco mágica das pessoas com esse período — imaginar como era essa riqueza, viver essa cultura francesa, emanar a ‘Paris dos Trópicos’, a Belle Époque. São jargões que circulam pela cidade, que mexem com o imaginário das pessoas”, avalia Samir.
Ele explica que, no início, apenas uma pequena elite de barões da borracha frequentava o teatro, e que a missão dos governos atuais é democratizar o acesso de toda a sociedade aos eventos promovidos na casa. “A gente tem aqui de 200 a 300 espetáculos por ano, então é uma casa muito ativa. O Estado mantém esse teatro desde a sua inauguração. A casa foi construída pelo governo do Estado do Amazonas e, até hoje, continua sendo mantida assim. Só que hoje a maioria dos espetáculos é gratuita”, completa.
A Similaridade entre os Teatros
A similaridade entre o Theatro da Paz e o Teatro Amazonas é grande, tanto por dentro quanto por fora, mas uma diferença chama a atenção: o vizinho tem uma grande cúpula externa no centro do teto. Ornada com 36 mil telhas vitrificadas, que criam um efeito visual semelhante à pele de peixe, e com cerâmicas esmaltadas, a cúpula traz as cores e referências da bandeira do Brasil — que, no período da inauguração, vivia seus primeiros anos como República.
O espaço é o principal cartão-postal de Manaus, que recebe diversos turistas interessados em conhecê-lo. Uma visita guiada de uma hora custa 45 reais. Marisa Folhetto, 60 anos, conta que tinha o sonho de conhecer a Amazônia e afirma que era impossível visitar a cidade sem conhecer o teatro. “Um encanto, uma beleza, uma riqueza de arte, de arquitetura, de pintura, de cultura para nós, maravilhosa”, diz Marisa Folhetto, natural de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, que visitou Manaus acompanhada do filho Matheus.
A arquiteta Caroline Oliveira, 29 anos, baiana de Salvador, conta que estudou o Teatro Amazonas na faculdade, o que a motivou a conhecê-lo. Morando temporariamente em Rondônia, tirou uns dias para visitar Manaus. “Sensacional. Já era um lugar que eu queria conhecer há muito tempo. Já tinha visto muitas referências na arquitetura, e estou surpresa — não me decepcionou em nada”, afirma.