PRINCESINHA DO MARAJÓ

Salvaterra: a cidade onde a história marajoara encontra o verão amazônico

Salvaterra alia os atrativos típicos do verão amazônico à tradição cultural e ao contato com o patrimônio histórico

Salvaterra alia os atrativos típicos do verão amazônico à tradição cultural e ao contato com o patrimônio histórico
Salvaterra alia os atrativos típicos do verão amazônico à tradição cultural e ao contato com o patrimônio histórico. Foto: Celso Rodrigues

Uma das principais entradas para o maior arquipélago fluviomarinho do mundo, o município de Salvaterra alia os atrativos típicos do verão amazônico à tradição cultural e ao contato com o patrimônio histórico que ajuda a contar como se deu o processo de ocupação do território. Com praias de água doce, igarapés, fazendas e sítios arqueológicos, a Princesinha do Marajó já começa a receber visitantes para o período de alta temporada, as férias de julho.

Há pelo menos 60 anos, a nutricionista aposentada Socorro Paredes Santos, 67 anos, repete o percurso de cerca de 3 horas de Belém até Salvaterra. Mais do que o refresco proporcionado pelo banho na água salobra da Praia Grande, o que liga Socorro à Salvaterra por tanto tempo são as memórias construídas no município.

“Eu gosto de tudo em Salvaterra, dessa praia linda e maravilhosa. Eu fui miss verão de Salvaterra, há 50 anos. Então, tenho muitas memórias aqui”, recorda.

“A gente vinha com o meu avô para cá, toda a família. Os meus irmãos, nós somos em seis, e mais os meus primos, que são oito. Então, todo mundo ficava na casa do meu avô e tinha todas aquelas lembranças maravilhosas que a gente não esquece”.

Ainda que muita coisa tenha mudado no município ao longo desses anos, incluindo o maior acesso à tecnologia, Socorro conta que o local continua sendo especial para ela e a família. E, para aproveitar o contato com a natureza exuberante do município, ela faz questão de ir à praia quando o movimento ainda é pequeno. Às 8h50 de uma terça-feira de julho, ela e o esposo, Eduardo Santos, 67 anos, tinham a praia praticamente só para eles. Um cenário que se modifica radicalmente nos finais de semana. “Eu prefiro vir nesse horário que a praia está mais vazia. Se desse eu vinha até mais cedo, eu não gosto de pegar o sol quente. Gosto do sol nesse horário, de curtir essa brisa maravilhosa”.

Com aproximadamente 1.500 metros de extensão, a Praia Grande é uma das mais visitadas em Salvaterra. No período de alta temporada como este mês de julho, o local costuma ficar lotado aos finais de semana. Localizada na zona urbana da cidade, a praia conta com serviço de bar, restaurantes e hospedagem funcionando continuamente.

Bem próxima da orla da praia, que possibilita a prática de atividades físicas e uma linda vista do rio, a Pousada Umuarama já sente a movimentação típica do mês de julho nos pedidos de reserva de quartos. Gerente da pousada, Lucas Farias conta que o mês de julho é sempre muito esperado pelo turismo de Salvaterra e do município vizinho de Soure.

“A demanda é muito grande nesse período, principalmente nos finais de semana, mas até em dia de semana sempre tem movimento nessa época do ano. Então, as férias de julho trazem um retorno muito significativo pra pousada, é a melhor temporada do ano, realmente”, conta, ao pontuar que a pousada já existe há 20 anos.

“Nós temos 20 quartos e em julho a gente chega a ficar com a lotação completa. No primeiro final de semana de julho nós ficamos com lotação completa, já está lotada para o segundo também e para o terceiro final de semana já está quase lotando”.

Além da hospedagem, a pousada também oferece opções de passeios em Salvaterra que permite conhecer mais de perto a cultura marajoara. Lucas conta que o mais procurado pelos hóspedes é o passeio de búfalo. “Nós temos passeios ecoturísticos, onde a pessoa pode fazer um passeio de barco, conhecer a fauna e a flora daqui do Marajó, os manguezais. Ou a pessoa também pode fazer aquele passeio que é mais histórico, onde ela vai conhecer as ruínas de Joanes. O Marajó é rico de cultura, de turismo, de belezas naturais”.

JOANES

Para além de toda a beleza natural proporcionada pelas praias, fauna e flora, em Salvaterra também é possível ter contato direto com o patrimônio histórico que marca a memória do processo de ocupação do território.

Distante cerca de 17 km da sede de Salvaterra, o distrito de Joanes foi um dos primeiros lugares a ser colonizado pelos portugueses, ainda no século XVII. Como memória desse período, em Joanes é possível ver as ruínas do que teria sido a primeira igreja de Salvaterra, construída pelos Jesuítas com o objetivo de catequizar os indígenas que viviam originalmente na região.

Antes do domínio português que escravizou indígenas e pessoas negras para o trabalho em fazendas, quem habitava o território de Salvaterra eram os indígenas da etnia Sacaca, descendentes dos Aruans, que exerciam um importante trabalho em cerâmica. Vestígios da presença desses moradores originários, em Joanes também já foram encontrados inúmeros resquícios de cerâmica Marajoara. Outro marco da presença desses moradores originários, e sobretudo da resistência dos escravizados à dominação portuguesa, se reflete na grande quantidade de comunidades quilombolas existentes em Salvaterra.

Circundando toda essa memória histórica marcada pelas ruínas de Joanes, uma extensa praia de areia branca convida a refrescar o calor. Dentre as mais frequentadas da vila, está a Praia Grande de Joanes. Na manhã de uma terça-feira de julho, não apenas os búfalos se deliciavam com a água gelada da praia, como também inúmeros banhistas.

Encantados com os animais que, muito dóceis, ficavam soltos na praia, o casal de paulistas Cristiane Galinnaro, 55 anos, e Felipe Bastos, 35 anos, se despediam de uma temporada de 15 dias no Pará. Além de Joanes, eles também conheceram Soure e Belém. Mas não escondiam o encantamento pela vila. “Joanes é especial, de tudo o que a gente viu no Pará e na Ilha do Marajó”, pontuou Cristiane. “Joanes é como se fosse um portal mesmo. A gente se conecta com a natureza, se conecta com os animais, com as pessoas. Realmente, é um lugar preciosíssimo, com uma história preciosa e pessoas preciosas. Aqui é muito lindo”, complementou Felipe.

Além de conhecer as belezas naturais, a história e a culinária paraense, Cristiane e Felipe também puderam viver uma experiência mais próxima com os búfalos marajoaras. Em Soure, eles puderam montar, nadar com eles e até mesmo tirar leite da búfala. Uma proximidade que ficará marcada na memória. “A gente teve experiências mais próximas com eles em Soure, montamos, nadamos com eles, tiramos leite, mas essa conexão e essa proximidade são maravilhosas. Essa proximidade, para as crianças, também é muito fundamental porque você cresce um adulto sem medo, cresce respeitando mais a natureza, então, essa conexão que a gente está conseguindo ter aqui é maravilhosa”, descreveu Felipe. “Infelizmente hoje é o nosso último dia, a gente está indo com pesar”.

Praia de Joanes é excelente opção para banho

Para além da conexão com a cultura e a culinária marajoara, a Praia de Joanes também é uma excelente opção de banho para aliviar o calor do verão amazônico. O terceiro sargento Henrique, do Corpo de Bombeiros Militar do Pará, aponta que a praia é bastante tranquila, mas, naturalmente, como qualquer meio líquido, exige cuidados.

Joanes, em Salvaterra. Foto: Celso Rodrigues

“É uma praia predominantemente plana, porém, quando está na preamar, que é quando a maré está cheia, ela tem como característica ser uma praia de tombo. Então, a depender do momento da maré, o banhista tem que ter um cuidado maior porque, em poucos passos adentrando a água, ele já fica quase completamente submerso”.

No que se refere às características do solo, o terceiro sargento explica que quando a maré está na vazante, após alcançar um determinado limite de descida de maré, o solo começa a ficar um pouco mais enlameado, o que favorece o aparecimento das arraias. “Mas isso ocorre em pontos específicos, como em pontos de ocorrência de pedras, onde o animal vem mariscar, e quando a maré desce bastante e chega nesse tipo de solo enlameado”, explica. “Tirando esses cuidados, essa é uma praia muito boa para banho, não temos tantas ocorrências de afogamento”.

Ele lembra que, infelizmente, o maior risco de afogamento para os banhistas ocorre quando eles ingerem bebida alcoólica ou fazem uma alimentação pesada e resolvem adentrar a água sem os devidos cuidados, avançando além do que poderiam.

“A gente orienta aos banhistas que mantenham sempre a água no limite da linha da cintura e as crianças sempre a pelo menos um braço de distância dos adultos. Mantendo todos esses cuidados, dificilmente alguma coisa vai acontecer”, orientou, ao lembrar que, em decorrência do aumento de movimento durante as férias de julho, foi garantido um reforço de efetivo nas praias do estado através da Operação Verão.

“O nosso trabalho aqui é de prevenção e, claro, em caso de qualquer circunstância estaremos para atender e fazer com que o banhista tenha o seu verão o mais seguro possível”.

Como Chegar

Para ir a Salvaterra, é preciso partir de Belém. A forma mais utilizada para chegar até Salvaterra é a utilização de navio ou lancha rápida, e balsa.

SEM CARRO

O Terminal Hidroviário de Belém oferece opções de transporte para quem não está de carro, sendo possível optar pelo trajeto de navio ou lancha rápida.

Navio: Em média, 3h de viagem fluvial do Terminal Hidroviário de Belém até o Porto Camará, em Salvaterra. Chegando ao porto, é preciso percorrer cerca de 30 minutos de viagem terrestre do porto até o centro do município.

Lancha rápida: Em média, 1h15 de viagem fluvial do Terminal Hidroviário de Belém até o Porto Camará, em Salvaterra. Chegando ao porto, é preciso percorrer cerca de 30 minutos de viagem terrestre do porto até o centro do município.

COM CARRO

Balsa: Em média, 3h de viagem fluvial com saída do Porto de Icoaraci, até o Porto Camará.

Horários das Balsas:

*De Belém (Porto de Icoaraci) para Salvaterra (Porto de Camará)
Segundas-feiras: 7h | Terças-feiras: 6h | Quartas-feiras: 6h e 7h | Quintas-feiras: 7h | Sextas-feiras: 6h | Sábados e Domingos: 7h

*De Salvaterra (Porto de Camará) para Belém (Porto de Icoaraci)
Segundas-feiras: 7h e 16h | Terças-feiras: 16h | Quartas-feiras: 16h e 17h | Quintas-feiras aos sábados: 16h | Domingos: 17h

Valores: R$193 para carro pequeno (incluindo o condutor do veículo) + R$30 por pessoa na classe econômica. (Outros valores são cobrados a depender do tamanho e tipo de veículo e da classe econômica da tarifa escolhida pelo passageiro).

Mais informações (Henvil): Box Belém 91 98114-9054 | Box Salvaterra: 91 98402-4407 e 98411-8844 | Vendas de passagens online pelo site www.henvil.com.br.

SOURE

Estando em Salvaterra, é possível esticar um pouco a viagem e conhecer também o município de Soure. Os dois municípios são separados pelo Rio Paracauari, portanto, é preciso fazer uma rápida travessia de balsa de um para o outro. Para um automóvel pequeno, o valor da travessia é R$26. O passageiro avulso é dispensado do pagamento da tarifa.