CHOCOLATE DA AMAZÔNIA

Pará celebra sua paixão pelo cacau amazônico, que conquista paladares globais

O cacau amazônico é consumido há mais de 5 mil anos e o Pará é o maior produtor de cacau do Brasil.

Crédito: Alberto Monteiro
Crédito: Alberto Monteiro

Uma das melhores sensações da vida é saborear um delicioso chocolate. Bolo, barra ou bombom, a iguaria combina com qualquer formato. O cacau amazônico é consumido há mais de 5 mil anos e o Pará é o maior produtor de cacau do Brasil. O aroma, o sabor e a qualidade da amêndoa cacaueira de solo paraense fornecem os melhores chocolates encontrados no país e até no mundo que conquistam paladares dos mais exigentes. Assim, crianças e adultos formam um numeroso grupo de apreciadores do produto.  

Crédito: Alberto Monteiro

Nesta segunda-feira, 7, foi comemorado o Dia do Chocolate. A data celebra essa que é uma grande paixão entre nós em todo o mundo. Tem gente que gosta de um teor de cacau mais intenso, já outras não suportam chocolate acima de 70%.

Elinar Ferreira, 31, é uma dessas pessoas que adora chocolate mais amargo. A especialista em cuidados e estética das unhas contou que sempre participa da feira do Chocolat Xingu- Festival Internacional do Chocolate e Cacau, que ocorreu em Altamira, no Sudoeste do Pará. Ela contou ainda que boa parte de sua vida trabalhou na agricultura familiar no cultivo do cacau, então, sabe muito bem como é feito todo o processo.

Elinar Ferreira – Foto: Wal Sarges

“É importante conhecer porque assim a gente agrega mais conhecimento na área. No caso do chocolate, eu gosto daqueles que são mais amargos, que possuem entre 60% e 70% de cacau. O chocolate perfeito é aquele que sai diretamente da amêndoa, com 80% a 90% de cacau, ele é natural. A feira é bem atraente porque tem vários estandes com diversas regiões e cada um tem sua maneira de cultivar o cacau e fazer sua produção. O artesanato em geral está sendo bem apresentado com muita gente talentosa envolvida”, disse a moça.

No Festival, as pessoas que visitaram a feira tiveram a oportunidade de conhecer a variedade de chocolates produzidos por pequenos produtores rurais a outros desenvolvidos em grandes fábricas de chocolate.

A dona de casa Ivonete Alves visitou a feira no segundo dia de evento e estava surpresa com a quantidade de coisas que viu. “Não sou muito chegada a doces, mas quando se trata de chocolate eu não dispenso, eu como mesmo, mas não pode ser muito doce, tem que ser pelo menos até 75%, passou disso, já não curto porque fica muito amargo. Chocolate não pode ser 100% cacau porque não gosto dele muito forte, mas também não deve ser ao leite porque é mais adocicado”.

Luan Lima – Foto: Wal Sarges

O estudante Luan Lima, 25, se considera um chocólatra. “É um evento perfeito para mim que adoro chocolate. É uma grande oportunidade para eu provar sabores novos quanto para difundir o comércio local. É um evento muito importante e em toda a edição, eu participo. O sabor que eu mais gostei foi um chocolate com caramelo salgado que achei uma delícia. Se eu estiver sozinho com um desse daí ele não dura.

Um chocolate perfeito para ele é aquele que se adequa a cada ocasião. “Tens uns que são só chocolate, tem outros que combinam melhor, por exemplo, com um café. Outros são mais trufados com sabor de frutas, então depende muito do humor do dia, mas para mim, o que combina com todos os momentos é o de café”, afirmou Luan, que levou para casa diversos sabores, entre eles, um trufado com cupuaçu e outro caramelizado.

O chocolate está, diretamente, associado a sensações de prazer, conforto e bem-estar, e isso não é apenas cultural, tem base biológica, segundo a psicóloga Genizia Fontenelle. Quando consumimos chocolate, nosso cérebro libera os tais hormônios do prazer: serotonina, dopamina e endorfina, que acabam por melhorar o humor e trazem uma sensação de recompensa imediata”.

De acordo também com a psicóloga Cleidiane Lima, nesse sistema de recompensa do cérebro, a anandamida no cacau também contribui para essa experiência prazerosa. “O sabor, o aroma e a textura do chocolate, especialmente sua capacidade de derreter na boca, criam uma experiência sensorial altamente agradável que intensifica o desejo. Nosso desejo por chocolate é impulsionado por uma complexa interação de prazer cerebral, conforto emocional, experiências sensoriais e condicionamento cultural. Para aproveitar ao máximo esses benefícios, a chave é a moderação. Chocolates com alto teor de cacau (acima de 70%) são os mais recomendados, pois oferecem mais dos compostos benéficos e menos açúcar, potencializando os efeitos positivos”, recomendou.

“Não podemos esquecer que o chocolate nos faz acessar uma memória afetiva que foi construída lá na infância. Sabe aquelas férias na casa da avó? O bolo saindo do forno, a calda de chocolate sendo preparada – e muitas vezes com a nossa participação – é algo que marca e que tendemos a repetir com nossos filhos, criando assim, quase que uma tradição familiar”, completou Genizia Fontenelle.

Cumaru: a baunilha brasileira

No Sítio Paraíso Orgânico, localizado no município de Brasil Novo, distante cerca de 3.712 km da capital paraense, a produção de cacau é feita a partir da agricultura familiar orgânica. A marca Cacau Xingu é o primeiro chocolate artesanal produzido com cacau orgânico da Transamazônica e Xingu.

Jiovana Lunelli é agricultora e chocomaker da Cacau Xingu e em uma vivência promovida pela organização do Festival Chocolat Xingu- Festival Internacional do Chocolate e Cacau, ela mostrou como é feito todo o processo de fabricação artesanal do cacau e a comercialização do chocolate. A barra de chocolate branco com nibs de cacau é um dos lançamentos do Cacau Xingu, que deve lançar outros ainda visando a realização da COP-30, em Belém este ano.

“Somos a primeira agroindústria a ter o selo da agricultura familiar da Transamazônica. Estamos na vitrine do MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar] com produto oriundo da agricultura familiar. Isso para nós é pertencimento, valorização da agricultura familiar e temos o primeiro selo. A ideia é que todos os chocolates sejam feitos com produtos orgânicos, oferecendo ao público diversos sabores de chocolates, entre eles, chocolate com cumaru, gengibre, castanha do Pará, nibs caramelizado com chocolate branco, além do cupulate, que muita gente já conhece. A nossa amêndoa proporciona uma maciez e sedosidade sem igual ao chocolate”, observou Jiovana Lunelli.

A fauna e a flora da região amazônica inspiram Jiovana a produzir embalagens que transmitem conceito, em especial, o da sociobiodiversidade. “O Cacau Xingu não é só uma barrinha, mas é um conceito, uma ideia de sustentabilidade, que chama para a reflexão. As embalagens trazem aves diversas, como o mutum, que está em extinção, mas serviu de alimento para a minha família e tantas outras por muito tempo. O sabor da carne é muito bom e é parecido com carne de galinha. A gente prima pelos produtos limpos e tem alguns selos, que a gente considera importantes, como o da Adepará [Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará], que nos possibilita o comércio em grandes estabelecimentos. O nosso chocolate é para quem aprecia um bom produto”, relatou a agricultora.

Crédito: Alberto Monteiro

O cacau dos arredores da Transamazônica é premiado, inclusive com selos internacionais, como no concurso Cacao Of Excellence Silver 2023, com o título de melhor amêndoa de cacau do mundo, na Holanda, concedido ao produtor Robson Brogni, do Sítio Ascurra, localizado em Medicilândia, distante 44 km de Brasil Novo. “A ideia de inserir produtos regionais nos nossos chocolates é um projeto iniciado no ano passado. É uma química, que tem de ser testada até chegar ao ponto ideal de sabor e textura perfeitas. Na Páscoa desse ano, nós já lançamos dez novos produtos, sendo três regionais, que são o de jambu ao leite e sem leite, de pimenta e o de açaí. O chocolate com castanha foi lançado na feira de Altamira. Já tínhamos o de cumaru, que é a baunilha brasileira”, citou Sarah Brogni.

Atualmente, o Sítio Ascurra produz 28 tipos de chocolates, que fornecem mais de 300 novos produtos. “Foi uma proposta muito estudada porque o paraense gosta de preservar os sabores regionais. Acho que quando estamos numa região onde mora e vive, tem que dar muito valor às peculiaridades de cada um. Então, o Sítio Ascurra procura valorizar as peculiaridades, respeitando sempre a nossa biodiversidade e o paladar do público, que é tão exótico e criativo”, concluiu Sarah Brogni.