O POETA ESTÁ VIVO

Há 35 anos, o Brasil se despedia se Cazuza

Ícone de gerações e gerações, o menino que queria mudar o mundo escreveu letras de amor, de protesto, de crítica e de esperança que até hoje são consideradas hinos atemporais.

Há 35 anos, o Brasil se despedia se Cazuza Há 35 anos, o Brasil se despedia se Cazuza Há 35 anos, o Brasil se despedia se Cazuza Há 35 anos, o Brasil se despedia se Cazuza
Ícone de gerações e gerações, o menino que queria mudar o mundo escreveu letras de amor, de protesto, de crítica e de esperança que até hoje são consideradas hinos atemporais.
Ícone de gerações e gerações, o menino que queria mudar o mundo escreveu letras de amor, de protesto, de crítica e de esperança que até hoje são consideradas hinos atemporais.

Já estamos há mais tempo sem Cazuza do que estivemos com ele entre nós. Há 35 anos, no dia 7 de julho de 1990, o mundo se despedia de Agenor de Miranda Araujo Neto, que aos 32 anos sucumbia à Aids, doença à época pouco conhecida e com tratamentos mais agressivos que eficazes. O carioca que foi de playboy filho de dono de gravadora a estrela de primeira grandeza da música brasileira é até hoje ícone-referência da música para todas as gerações que lhe sucederam e sucederão.

Cantor, poeta, letrista e ex-front man do Barão Vermelho, banda onde iniciou oficialmente sua carreira musical, Cazuza nunca assinou seu nome de batismo – afinal, o pai, João Araújo, ainda enquanto ele era gerado na barriga da mãe, Lucinha Araújo, deu o apelido, que no nordeste é dado a moleques ou meninos, e que o tornaria celebre por toda uma “vida louca, vida breve”, como ele mesmo cantava.

Em uma de suas entrevistas mais lembradas pelos fãs, o compositor de “O tempo não para”, “Ideologia”, “Faz parte do meu show” (agora lembradíssima no remake de Vale Tudo, e que também era trilha sonora na primeira versão, exibida em 1988), “Exagerado” e tantos outros hits que definiram Cazuza enquanto artista, falou, em dezembro de 1988, sobre tudo um pouco por quase 50 minutos à jornalista Marília Gabriela, que à época apresentava o programa Cara a Cara, na TV Bandeirantes.

No bate-papo risonho e sem muitos filtros, Cazuza dizia que não se achava um bom cantor – mas achava que seria, em três anos. Admitiu que não vivia longe das drogas, porém que àquela época vivia um consumo “controlado” de álcool e maconha. Abriu o jogo sobre suas preferências sexuais, informando inclusive ser participante de situações grupais – mas que havia parado por temer a Aids.

Entrevista e Declarações Polêmicas

Contou que jamais se submeteria a participar de uma propaganda moralizante sobre o HIV, mas que toparia na mesma hora de fosse algo no sentido de mostrar que o diagnóstico não era uma setença de morte. Revelou uma esperança danada no futuro, e acreditava que o mundo estava se tornando melhor, ao mesmo tempo que destilou todo seu ranço à Igreja Católica e à direita brasileira.

“Meu desprezo total? Pela direita, pela Igreja. Eu acho a direita uma coisa tão mesquinha… eu gosto de viver no coletivo. Eu sou de esquerda porque eu tenho muito amigo, eu gosto de dividir minhas coisas. […] Você sabe que ela não prega a divisão no fundo, né. A igreja quer dinheiro”, justificou, durante a entrevista.

Marília perguntou na lata: você está aidético? Ao que ele respondeu, depois de uma risada um pouco desconfortável. “Não estou aidético, não. Eu tive um problema muito sério, uma coisa de pulmão seríssima e estranhíssima, e realmente achei que eu tivesse com AIDS e não tinha coragem de fazer o exame, mas agora está tudo legal”, declarou.

A Revelação do Diagnóstico

Detalhe: ele havia recebido o diagnóstico de soropositivo ainda em 1987, mas à época negou que estivesse doente, só revelando sua condição real de saúde em fevereiro de 1989, em entrevista a um pouco conhecido José Carlos Camargo, repórter da Folha de S. Paulo, que depois se tornaria mais conhecido como Zeca Camargo.

A morte de Cazuza deixou os fãs do poeta, do músico, do artista de luto em todo um país. Ele faleceu na casa dos pais, onde estava morando então há três meses, no início daquela manhã de 7 de julho, após um quadro de edema ocorrido na madrugada, uma consequência dos males provocados pelo HIV.