PERFIL

Mestre da palavra, da cena e da alma: morre Cláudio Barradas

Teatrólogo, ator e padre, o cônego Cláudio Barradas faleceu nesta segunda-feira, 39 de junho, aos 95 anos de idade.

Mestre da palavra, da cena e da alma: morre Cláudio Barradas Mestre da palavra, da cena e da alma: morre Cláudio Barradas Mestre da palavra, da cena e da alma: morre Cláudio Barradas Mestre da palavra, da cena e da alma: morre Cláudio Barradas
A Arquidiocese de Belém comunicou com profundo pesar, na manhã desta segunda-feira (30), o falecimento do cônego Cláudio de Sousa Barradas, aos 95 anos
A Arquidiocese de Belém comunicou com profundo pesar, na manhã desta segunda-feira (30), o falecimento do cônego Cláudio de Sousa Barradas, aos 95 anos

Teatrólogo, ator e padre, o cônego Cláudio Barradas faleceu nesta segunda-feira, 39 de junho, aos 95 anos de idade. A Arquidiocese de Belém emitiu nota de pesar confirmando que o religioso morreu internado em um hospital em Belém. O velório será realizado a partir das 17h, desta segunda-feira, 30 de junho, na Catedral Metropolitana de Belém. 

Barradas era paraense nascido na capital no dia 4 de janeiro de 1930, e foi ordenado padre no dia 25 de janeiro de 1992, por Dom Vicente Zico.

Com 33 anos de sacerdócio, passou por diversas paróquias, era Cônego Emérito do Cabido Arquidiocesano e foi Vigário Episcopal da Região Santa Cruz, revisor e colunista do Jornal Voz de Nazaré.

Apaixonado pelo teatro, foi um dos fundadores da atual Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA), mas por quase duas décadas abandonou os palcos para se dedicar somente ao sacerdócio. Ainda assim, nunca deixou de amar o teatro, para onde acabou retornando.

Considerado um ícone dos palcos paraenses, Cláudio Barradas atuou como jornalista, ator e diretor de radionovela da Rádio Clube na década de 1950. Também foi ator de teleteatro na extinta TV Marajoara.

No início dos anos 1970 trabalhou em quatro filmes dirigidos pelo cineasta paraense Líbero Luxardo: “Um Dia Qualquer”, “Marajó, Barreira do Mar”, “Um Diamante, Cinco Balas” e “Brutos e Inocentes”. Entre as grandes homenagens que recebeu por toda esta trajetória, empresta seu nome ao Teatro Universitário da UFPA, inaugurado em 2009, quando o teatrólogo estava prestes a completar seus 80 anos.

Entrevista ao DIÁRIO em 2016

“Digo que eu já fazia cenas na barriga da minha mãe. Acontece que eu nasci em um bairro altamente artístico, naquela época, 1930, ano da Revolução, o bairro do Umarizal. Ali em junho havia pássaros e bois, teatros nitidamente populares do Pará. No carnaval havia aquelas escolas de samba feitas por homem vestidos de mulatas. Então eu vivi a minha infância num mundo de artes”, contou, em entrevista ao DIÁRIO para a jornalista Laís Azevedo publicada no ano de 2016.

Barradas entrou para o seminário aos 13 anos e todo mês os padres faziam um espetáculo para angariar dinheiro. Logo na primeira peça, uma opereta, começou cantando. “Naquele período estava-se em guerra e quem construiu [o aeroporto] de Val-de-Cans foram os americanos, porque era um ótimo ponto de partida para África. Esses americanos que estavam aqui iam ver as peças e eu ganhava muitos presentes pelas apresentações. Meu tempo todo no seminário foifazendo peça”, relatou.

O que o levou ao seminário foi o fato de ser um aluno muito aplicado e ter chamado a atenção dos irmãos Maristas. “Eu nem queria, mas entrei, gostei do lugar porque gosto do silêncio, de estudar e do tipo de casa. Lá eu vivi oito anos”, conta. Quando saiu foi para ser artista. “Eu ia ser mandado para Roma para estudar na maior Universidade Católica. Se eu tivesse ido para lá, teria saído bispo”, afirmava.

Legado e paixão pelo teatro

Cláudio considerava a antiga Escola Técnica o lugar onde mais gostou de fazer teatro. “Eu sou um libertário, subversivo, eu quero um ator que não tenha que decorar texto. Porque o texto é uma violentação: o outro escreve e você bota na cabeça do ator. Eu sempre quis fazer um teatro de improviso. Nela eu pude fazer isso, o ator sem roupa, sem maquiagem, sem nada, só o corpo. O ator é um mágico que faz o público ver o que não existe”, acreditava.