OURO, TIROS E CAOS EM 85

Raul Vive: 80 anos e a história (quase esquecida) no Pará

Em 1985, o pai do rock brasileiro viveu uma das experiências mais intensas de sua carreira em uma turnê pelos garimpos do Pará.

Raul Vive: 80 anos e a história (quase esquecida) no Pará Raul Vive: 80 anos e a história (quase esquecida) no Pará Raul Vive: 80 anos e a história (quase esquecida) no Pará Raul Vive: 80 anos e a história (quase esquecida) no Pará
Em 1985, o pai do rock brasileiro viveu uma das experiências mais intensas de sua carreira em uma turnê pelos garimpos do Pará.
Em 1985, o pai do rock brasileiro viveu uma das experiências mais intensas de sua carreira em uma turnê pelos garimpos do Pará. Foto: Divulgação

Se estivesse vivo, Raul Seixas completaria 80 anos neste sábado (28). Com uma trajetória de apenas 26 anos, o cantor deixou um legado que vai muito além da música. Autor de 17 álbuns e considerado o pai do rock brasileiro, Raul ainda é reverenciado por gerações, inclusive por uma legião fiel de fãs paraenses que cultivam o “raulseixismo” como uma filosofia de vida.

Entre os episódios mais extraordinários de sua carreira, um se destaca pela audácia: a turnê pelos garimpos do Pará, em 1985. Raul se apresentou em locais inusitados como Itaituba, Serra Pelada e o Garimpo do Marupá — este último, localizado no sudoeste paraense, às margens do rio Marupá, hoje com cerca de 7 mil habitantes.

A aventura foi marcada por apresentações sem estrutura, sem segurança e em cenários de completa instabilidade. Geradores falhavam, tiroteios ocorriam nos arredores e o clima de tensão era constante. Em Serra Pelada, Raul subiu ao palco diante de militares, garimpeiros e curiosos, enfrentando condições extremas.

Mesmo com a saúde fragilizada, o Maluco Beleza não fugiu ao compromisso. No entanto, a turnê foi um verdadeiro caos nos bastidores. A insulina usada por Raul foi confundida com drogas por militares, gerando um mal-entendido com o Exército. Em um dos episódios, um produtor foi agredido e acabou coberto de lama. No final, Raul saiu sem receber cachê, e a equipe teve que deixar o local às pressas.

Quem acompanhou tudo de perto foi Sylvio Passos, fundador do fã-clube oficial de Raul Seixas e amigo pessoal do artista. “Foi a aventura mais perigosa que vivi com Raul. A gente correu risco de vida real. Ele subiu no palco e cantou diante dos militares, num cenário completamente surreal”, relembra.

A experiência foi tão intensa que inspirou versos da canção “Banquete de Lixo”, do disco A Panela do Diabo:
“E lá em Serra Pelada, ouro no meio do nada / dor de barriga desgraçada resolveu me atacar…”

A banda, os bastidores e quem viveu essa história

Raul foi acompanhado por músicos como Nenê (baixo), Pavão (bateria) e o argentino Tony Osanah (guitarra). Também estavam presentes sua última esposa Lena Coutinho, o jornalista Pepe Escobar, a fotógrafa Cristina Villar e o empresário Gato Felix, dos Novos Baianos.

A jornada, que começou como mais uma etapa da carreira do Maluco Beleza, virou parte da lenda que é Raul Seixas. Em pleno garimpo, cercado de ouro bruto e caos, ele fez o que sabia melhor: subiu ao palco, enfrentou os riscos e eternizou mais um capítulo da sua história — agora parte também da história do Pará.

Clayton Matos

Diretor de Redação

Clayton Matos é jornalista formado na Universidade Federal do Pará no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo. Trabalha no DIÁRIO DO PARÁ desde 2000, iniciando como estagiário no caderno Bola, passando por outras editorias. Hoje é repórter, colunista de esportes, editor e diretor de redação.

Clayton Matos é jornalista formado na Universidade Federal do Pará no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo. Trabalha no DIÁRIO DO PARÁ desde 2000, iniciando como estagiário no caderno Bola, passando por outras editorias. Hoje é repórter, colunista de esportes, editor e diretor de redação.