ENTENDA

Por que cresce o apoio de evangélicos brasileiros a Israel?

Símbolos como a estrela de Davi e a bandeira de Israel se tornaram cada vez mais comuns em eventos evangélicos no Brasil, especialmente em manifestações ligadas ao bolsonarismo.

Por que cresce o apoio de evangélicos brasileiros a Israel? Por que cresce o apoio de evangélicos brasileiros a Israel? Por que cresce o apoio de evangélicos brasileiros a Israel? Por que cresce o apoio de evangélicos brasileiros a Israel?
Símbolos como a estrela de Davi e a bandeira de Israel se tornaram cada vez mais comuns em eventos evangélicos no Brasil, especialmente em manifestações ligadas ao bolsonarismo. Mas o que motiva essa conexão entre parte do movimento evangélico brasileiro e o Estado israelense?
Símbolos como a estrela de Davi e a bandeira de Israel se tornaram cada vez mais comuns em eventos evangélicos no Brasil, especialmente em manifestações ligadas ao bolsonarismo. Mas o que motiva essa conexão entre parte do movimento evangélico brasileiro e o Estado israelense? Reprodução

A adesão à pauta israelense ocorre em um contexto internacional sensível: Israel segue há mais de um ano em ofensiva militar contra a Faixa de Gaza, com frentes abertas também no Líbano e tensões com o Irã. Ainda assim, bandeiras de Israel dividem espaço com escudos de Remo e Paysandu nas esquinas de Belém, onde são vendidas por ambulantes, revelando uma demanda simbólica com raízes mais profundas.

Segundo a antropóloga Jacqueline Teixeira, da Universidade de Brasília (UnB), embora esse apoio seja mais visível em igrejas evangélicas alinhadas ao bolsonarismo, ele também está presente em outras denominações protestantes históricas, muitas delas com forte influência norte-americana.

Base teológica e o papel do Antigo Testamento

Parte dessa identificação religiosa com Israel vem de uma corrente teológica chamada dispensacionalismo, difundida no século 19. Essa doutrina interpreta a criação do Estado de Israel como um sinal profético: o “relógio do fim do mundo” teria começado a contar a partir de 1948, quando o país foi fundado oficialmente.

De acordo com o teólogo Kenner Terra, muitos fiéis assimilam essa visão, mesmo sem conhecer formalmente o conceito. Nessa lógica, o que acontece em Israel teria significado espiritual direto, e apoiar o Estado moderno seria uma expressão de fidelidade ao plano divino.

Outro fator de identificação é a forte presença do Antigo Testamento na pregação evangélica, principalmente entre os pentecostais. As histórias bíblicas do povo judeu — como o Êxodo, as guerras santas e a promessa da Terra Sagrada — são frequentemente reinterpretadas como metáforas para a realidade espiritual e política atual.

Israel como símbolo político e cultural

Pastores e teólogos destacam que a ligação dos evangélicos com o povo judeu tem também um componente existencial e teológico. “O cristianismo surgiu da tradição judaica, e mesmo com mudanças, há quem defenda que o povo judeu mantém um papel nos planos divinos”, explica o pastor Guilherme de Carvalho.

Segundo ele, embora o Estado de Israel não seja o “Israel bíblico”, ele representa a luta histórica e existencial do povo judeu, o que torna seu destino relevante para muitos cristãos.

No entanto, nem todos compartilham dessa visão. O teólogo Alexandre Gonçalves adverte que há uma confusão entre o Israel bíblico e o Estado moderno, criado sob dinâmicas geopolíticas específicas e envolvido em inúmeras controvérsias internacionais.

O uso político da fé: bolsonarismo e discurso bélico-religioso

Para especialistas, o apoio evangélico a Israel se intensificou com a ascensão de Jair Bolsonaro, que soube capitalizar politicamente a simbologia judaico-cristã presente em muitos cultos. O teólogo Sergio Dusilek afirma que há uma inserção política camuflada sob uma linguagem religiosa. “É um apoio político sob o verniz religioso. Há uma tentativa de instaurar um ‘evangelistão’, usando o Antigo Testamento como referência de governo e poder”, analisa.

Dusilek aponta que Bolsonaro leu com precisão o momento: percebeu que elementos judaicos estavam sendo incorporados à liturgia de muitas igrejas e amplificou essa narrativa com apoio institucional. Isso contribuiu para a naturalização de discursos bélicos, onde a violência praticada por Israel é justificada como parte de uma batalha espiritual entre o bem e o mal.

Jacqueline Teixeira também observa esse fenômeno em suas pesquisas. Ela destaca a “naturalização da guerra” dentro de setores religiosos, influenciados por imagens e narrativas vindas do bolsonarismo. A crítica se volta especialmente à maneira como líderes evangélicos passaram a justificar ataques a civis palestinos como parte de um plano divino, ignorando tratados internacionais e violações de direitos humanos.

Símbolos como a estrela de Davi e a bandeira de Israel se tornaram cada vez mais comuns em eventos evangélicos no Brasil, especialmente em manifestações ligadas ao bolsonarismo. Mas o que motiva essa conexão entre parte do movimento evangélico brasileiro e o Estado israelense?
Símbolos como a estrela de Davi e a bandeira de Israel se tornaram cada vez mais comuns em eventos evangélicos no Brasil, especialmente em manifestações ligadas ao bolsonarismo. Mas o que motiva essa conexão entre parte do movimento evangélico brasileiro e o Estado israelense?



Guerra cultural e valores ocidentais

Outro elemento central é o uso do apoio a Israel como símbolo de defesa de valores tidos como “judaico-cristãos”, que, na visão de setores conservadores, estariam ameaçados por ideologias de esquerda. Alexandre Gonçalves relata que muitos jovens evangélicos passaram a adotar esse discurso após contato com autores como Olavo de Carvalho, que propagavam a ideia de uma guerra cultural.

Kenner Terra, por sua vez, critica o uso político dessa teologia, lembrando que o dispensacionalismo tem origem nos Estados Unidos, aliado histórico de Israel. Ele aponta que a teologia está sendo instrumentalizada por correntes conservadoras para sustentar um apoio incondicional ao Estado israelense, independentemente das implicações éticas e geopolíticas.

“É um apoio que ignora tratados rompidos, territórios ocupados e a forma como o povo palestino tem sido tratado. É uma leitura seletiva e conveniente”, conclui.