ARTE E CULTURA

Pássaros Juninos pousam no Theatro da Paz

Festival reúne diversos grupos da capital paraense para contar suas histórias no palco histórico

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Festival reúne diversos grupos da capital paraense para contar suas histórias no palco histórico
Divulgação

O Festival de Pássaros e Bichos do Pará começa nesta quarta-feira, 25, às 18h, no majestoso Theatro da Paz, e segue até este domingo, 29. Na abertura, se apresentam os Pássaros Ararajuba, Tucano e Tangará. A entrada é gratuita, mas o acesso é feito mediante retirada de ingressos na bilheteria do teatro. Esta é a quarta edição do evento, uma realização da Associação Folclórica e Cultural Colibri de Outeiro.

“Será um dia histórico porque remonta ao seu contexto de origem, no Theatro da Paz. Chamamos de opereta cabocla porque os nossos avós diziam que as pessoas que não podiam entrar no Theatro da Paz no tempo da Belle Époque criavam suas próprias narrativas, trazendo para os espetáculos o imaginário amazônico, que faziam um contraponto ao pensamento europeu”, afirma o guardião do Pássaro Tangará, Agenor Del Valle.

O Pássaro Tangará existe há 48 anos, criado no Distrito de Mosqueiro pelo avô de Agenor, Alberto Bastos, com o nome de Bem-Te-Vi. Com a mudança para Belém, ele teve que mudar o nome do Pássaro porque já existia outro com esse nome na capital. Em 1985, Agenor passou a ser o personagem do Caçador e após a morte do avô passou a ser também o guardião. Este ano, o tema do espetáculo é “Tangará, entre mitos e cantos da Floresta”, com 50 brincantes em cena.

Nele, os ribeirinhos numa canoa levam o Pássaro para os donos da fazenda, que ficam extasiados com sua beleza. O caçador deseja pegar o Pássaro, mas se depara com os mitos da floresta, como a Matinta Perera, a Iara e o Boto Cor-de-Rosa. Quando alveja o Pássaro, gera a maior confusão. O pajé, interesseiro, não cura o pássaro. É chamado então um veterinário, que consegue uma pomada milagrosa e ressuscita o Pássaro, tornando tudo uma grande festa.

A programação do IV Festival de Pássaros e Bichos do Pará continua na quinta-feira, 26, às 19h, com o Pequeno Guará e o Uirapuru da Liberdade. Na sexta-feira, 27, às 19h, apresentam-se o Pássaro Pavão e a Suindara. No sábado, 28, às 10h, será a vez do Bacu e do Sabiá de Curuçá. À tarde, às 15h, se apresentam a Borboleta Azul, o Pássaro Tem-Tem de Outeiro e a Borboleta Encantada de Abaetetuba. Já às 18h, o Tem-Tem de Curuçá, a Garça e o Tem-Tem do Guamá.

No encerramento do Festival, no domingo, 29, a programação começa às 11h com o Colibri de Outeiro; às 14h, apresentam-se os Pássaros Pipira, Urubu, Maçariquinho de Salinópolis, Rouxinol e Japiim. À noite, às 19h, se apresentam a Oncinha e o Beija-Flor.

ENCANTAMENTO

A manifestação teatral dos Pássaros Juninos é uma tradição passada de geração a geração. Além de preservar essa expressão cultural ao longo do tempo, os guardiões levam adiante conceitos importantes, como a sustentabilidade, através da conscientização de crianças e adolescentes. Enquanto espetáculo teatral, é uma expressão criada em Belém a partir do contato de artistas populares com as companhias de ópera europeias vindas à cidade no início dos anos 1900, no período da Belle Époque.

Márcia Caetano, 44, é mãe de Maria Alice, 7, que é cadeirante e faz parte da Cia de Dança do Nosso Jeito Kids. O talento da menina saltou aos olhos da professora estagiária Luana Oliveira, sobrinha de Rosa Oliveira, Guardiã do Pássaro Ararajuba, que lançou o convite para que Maria Alice fizesse parte do Pássaro Junino ano passado. Já este ano, Maria Alice é uma das personagens principais do espetáculo. O pai da menina, Carloscleo Paiva, 49, conta que o interesse dela aumentou, tanto que agora, ela não quer mais ser só porta-pássaro. “Ela quer participar de outros quadros”.

Felipe Cortez, diretor do filme “Iracema e o Brinquedo de Voar”, um resgate da relação de Iracema Oliveira, que faz a salvaguarda do Pássaro Tucano, ressalta a importância de dar protagonismo às crianças nos ambientes de Pássaros Juninos. “Ela [a criança] representa o centro da dramaturgia, que é o porta-pássaro, o personagem que representa o protagonista das histórias do Pássaro Junino, mas ela também ocupa os diversos núcleos dramáticos: a maloca, a nobreza, a matutagem. Ela também está presente no cotidiano do barracão, seja observando os adultos viabilizarem o espetáculo fazendo o figurino, organizando as bandas, organizando a logística dos ensaios. Ali ela já está aprendendo algo”, considera.

Felipe conheceu o pássaro junino em 2010 – quando teve que fazer parte da encenação como o personagem do Caçador – e desde lá passou a registrar essa manifestação de forma despretensiosa. “Acho que mais do que um documentarista filmando uma brincadeira, eu fui um brincante que se aventurou num documentário”.